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É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

Consultoria global McKinsey tem 'história secreta' revelada em livro

Empresa diz que jornalistas focam mais práticas do passado do que mudanças implementadas no presente

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O pretinho básico do capitalismo do século 21 é a linguagem corporativa piedosa. Executivos exibem suas práticas ESG (sigla em inglês para princípios ambiental, social e de governança corporativa). A ideia de que o lucro a qualquer custo e o bem-estar social andam lado a lado é a narrativa de negócios vendida na mídia, nas escolas e em gabinetes corporativos.

Poucas multinacionais se apresentam como vestais virtuosas quanto a McKinsey & Company, consultoria com escritórios em 60 países e 40 mil empregados. A mesma admirada McKinsey, conhecida no Brasil por orientar ONGs e empreendedores sociais, colecionou, em quase cem anos, um currículo nefasto agora detalhado num livro recém-lançado nos EUA.

Walt Bogdanich e Michael Forsythe, ambos repórteres do New York Times, são os autores de "When McKinsey Comes to Town: The Hidden Influence of the World’s Most Powerful Consulting Firm" (quando a McKinsey chega: a história oculta da empresa de consultoria mais poderosa do mundo).

Imagem combina logo da consultoria americana McKinsey com o Palácio do Eliseu, na França - Lionel Bonaventure - 12.abr.22/AFP

O livro mostra como a consultoria está presente em decisões que marcaram a história recente, especialmente a partir da segunda metade do século 20.

O dedo da McKinsey já pôde ser encontrado nas práticas do serviço de imigração americano durante o governo Trump, nos corredores do regime da Arábia Saudita, na indústria do tabaco que mata 480 mil americanos por ano e na epidemia de opioides que matou mais de meio milhão nos EUA em duas décadas.

Em 2021, a McKinsey enfrentou um raro momento de responsabilidade pública, ao aceitar uma multa de US$ 573 milhões por seu papel na crise de opioides, depois que ficou comprovado que a empresa instruiu a indústria farmacêutica a multiplicar exponencialmente a venda das drogas. Como parte do acordo, a McKinsey não admitiu qualquer malfeito.

No caso da Arábia Saudita, depois da execução do jornalista Jamal Khashoggi, a McKinsey aumentou a carteira de clientes no reino. Acusada, por um amigo exilado de Kashoggi, de ter criado uma apresentação de slides que ajudou o regime a identificar dissidentes, a consultoria diz que não tem mais Riad como cliente e que criou um novo critério para aceitar novos contratos.

O segredo foi a arma crucial para a McKinsey se apresentar como a Branca de Neve da eficiência, enquanto fazia negócios com atores escusos como estatais chinesas e russas. Só em 2021 a consultoria se afastou dos fabricantes de cigarros, várias décadas depois de o tabaco ser confirmado como o produto de consumo mais letal da história.

A McKinsey reagiu ao livro com uma declaração acusando os autores de focar mais práticas do passado do que mudanças implementadas no presente, além de listar iniciativas positivas durante a pandemia e na crise de refugiados da Ucrânia.

O lema da empresa é o cliente em primeiro lugar. Assim, os consultores da McKinsey trabalham para o Pentágono enquanto assessoram a empresa que constrói as ilhas artificiais militarizadas no mar do Sul da China; orientam a FDA, a agência federal que regula alimentos e remédios nos EUA, enquanto assessoram gigantes farmacêuticos. A empresa garante que mantém uma parede de confidencialidade entre clientes, mas os autores do livro não deixam dúvida sobre os conflitos de interesses.

Do aumento da desigualdade à globalização sem freio, passando por "offshoring" e securitização de dívidas, os consultores, recrutados nas melhores universidades sob a promessa de ter impacto social, ajudaram, de fato, a mudar o mundo. Muitas vezes, para pior.

Se os destaques do livro são exceção, eles sugerem que, em vez de prometer fazer o bem, corporações como a McKinsey poderiam prometer fazer menos mal.

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