O tamanho e a ordem de grandeza de cada país
É impossível comparar estratégias de Israel e Brasil em ações de imunização
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Nos últimos dias, parte da mídia vem publicando artigos, comentários e análises sobre as razões de o governo brasileiro ainda não ter iniciado a vacinação em massa no país.
Na maioria das vezes, as críticas recaem diretamente sobre a suposta inação do Ministério da Saúde e do governo federal, que estariam “lentos” ou mesmo “omissos” no seu papel de garantir aos brasileiros a imunização contra a Covid-19.
Faz parte desse rol de artigos o do senhor Claudio Lottenberg, sob o título “Por que Israel avança na vacinação e nós nem começamos?” e publicado em um grande veículo.
A princípio, trata-se de mais uma tentativa de jogar novas responsabilidades em cima do Ministério da Saúde, do SUS e das Forças Armadas do Brasil, que seriam incapazes de formular, planejar e executar um Plano Nacional de Imunização como o realizado pelo Estado de Israel.
O principal equívoco do artigo de Lottenberg é o de comparar dois países com realidades políticas, econômicas e sociais tão distintas —e de tamanho e ordem de grandeza diferentes— como Brasil e Israel.
Em qualquer curso básico de economia, estatística, de ciência política, antropologia ou de sociologia aprendemos que não se pode comparar civilizações, nações e povos com parâmetros tão diversos.
A cultura de um povo, sua localização geográfica, seus hábitos e costumes e seu processo civilizatório são incomparáveis —ainda mais entre duas nações como Brasil e Israel, com formação tão distintas de seu Estado nacional.
Alguns indicadores saltam aos olhos e nos levam a questionar de imediato o raciocínio do presidente do conselho deliberativo do Hospital Albert Einstein.
Como comparar um país com 9,3 milhões de habitantes e um território de 22.145 km2 com outro com uma população de 210 milhões e 8,5 milhões de km2?
Israel é maior do que apenas duas unidades da Federação brasileira: Sergipe, com 21,9 mil km2 e quase do mesmo tamanho, e o Distrito Federal, com seu quadrado de 5,8 mil km2!
É absolutamente impossível qualquer comparação sobre espaços e características geográficas e geopolíticas sob dimensões tão díspares!
Mesmo assim, parte-se para um comparativo depreciativo ao Brasil e ao seu governo com a afirmação de que as autoridades israelenses conseguiram vacinar 153 mil pessoas em apenas um dia.
Vacinar 153 mil pessoas no Brasil é abranger a população de um grande bairro de uma metrópole brasileira. As campanhas anuais de vacinação regulares do SUS atingem mais de uma dezena de milhões de pessoas, entre adultos e crianças, somente em um dia de campanha.
Então, é evidente que o Brasil tem uma estrutura adequada para vacinação em massa no país. O SUS tem know-how e experiência em vacinações de grande porte, e o Ministério da Saúde a expertise de planejamento e logística. Sempre com o apoio fundamental das Forças Armadas.
Critica-se o Ministério da Saúde em demorar a começar a vacinação, mas se esquece que apenas recentemente laboratórios no Brasil apresentaram à Anvisa pedidos de autorização para aplicar o imunizante.
Ora, cabe a pergunta tautológica: se somente agora houve solicitações, como o Ministério da Saúde poderia já ter começado a vacinação? E os critérios de segurança sanitária, de prazos e validades dos novos imunizantes? O governo poderia ignorá-los e passar por cima da Anvisa? É claro que não!
A medida provisória 1.026/20, recém-editada pelo presidente Jair Bolsonaro, consolidou o caminho legal para que o Ministério da Saúde aja no sentido de criar as condições para a implantação do Plano Nacional de Imunização. A pasta também assinou contrato para a compra de 100 milhões de doses da vacina Coronavac, já que a MP liberou a compra do imunizante antes mesmo do aval da Anvisa, com dispensa de licitação.
Do mesmo modo, o governo federal agiu no sentido de garantir os meios para vacinar a população brasileira, como a requisição de estoques de agulhas e seringas da indústria nacional. Medida acertada para assegurar a imunização contra a Covid-19. Todas as medidas no tempo certo, sem açodamento.
Isso é planejamento e organização. É preservar a vida dos brasileiros!
TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.
Erramos: o texto foi alterado
Diferentemente do que foi publicado na primeira versão deste artigo, as áreas do estado de Sergipe e do Distrito Federal têm, respectivamente, 21,9 mil km² e 5,8 mil km², e não 21,9 km² e 5,8 km². No mesmo texto, o oftalmologista Claudio Lottenberg foi identificado erroneamente como presidente do Hospital Albert Einstein. Lottenberg é presidente do conselho deliberativo da instituição. O texto foi corrigido.
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