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Bonecas Trouxas transforma em memes nosso lado patético

Memes com brinquedos amassados, sujos e decapitados são origamis feitos com papel de trouxa

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São Paulo (SP)

Pessoas que se sentem culpadas por deixar alguma oportunidade escapar ou donas de corações quebrados preenchem as redes sociais com autodeclarações de "fazedoras de papéis de trouxa". Há quem diga até fazer origamis com seus tantos papéis do tipo. Foi brincando com isso que Carolina Barison Thibes, 36, criadora da página Bonecas Trouxas, descobriu uma audiência que se identifica com este personagem.

São fotos dos tradicionais brinquedos bebês sorridentes que trazem mensagens autodepreciativas e irônicas aos seguidores. Muitas vezes, em versões decapitadas, descascadas, sujas ou amassadas, elas aparecem em diferentes contextos com mensagens de lamentação. Desde o início, o acervo da página é composto por fotos inusitadas enviadas diariamente pelos seguidores.

Em entrevista ao blog #Hashtag, ela diz que a página de memes surgiu no Facebook em 2014 para falar sobre desilusões amorosas com um amigo. Logo, as piadas internas passaram a ser compartilhadas por aproximadamente 100 mil pessoas e Carol continuou o projeto sozinha.

Atualmente mais ativa no Instagram, rede social em que tem mais de 200 mil seguidores, a Bonecas Trouxas ainda trata da mesma temática, mas também inclui textos com tom de autoajuda ao lado de bonecas sorridentes com um cigarro na boca. "Inacreditável como vocês acompanham certinho a minha saúde mental e o que rola em tempo real na minha vida", diz um comentário em meio a vários do mesmo tipo nas publicações da página.

Apesar de trabalhar publicidades com a página, Carol conta que não depende das ações da empresa para pagar suas contas, mas seus planos futuros incluem montar uma lojinha e rentabilizar os conteúdos. De família rica, como descreve, a gaúcha de Porto Alegre (RS) descobriu nos memes uma possibilidade para se expressar. "Estou descobrindo o meu valor pessoal, porque a sociedade te faz pensar que você não tem valor se não produzir incansavelmente", diz.

A página a ajudou a entender que seu senso de humor e aspirações artísticas são um diferencial, o que elevou sua autoestima. Entre suas tentativas até aqui, a lembrança que reafirma suas habilidades com o humor e as redes está em uma comunidade no Orkut, rede social que fez sucesso nos anos 2010, chamada Clã dos Desequilibrados. "Qualquer desgraça, sempre vou ter uma bobagem para falar e quebrar o clima", diz.

Carol teve depressão, tentou fazer faculdade de cinema, mas não se via no segmento. "Retomando minha trajetória nas redes, percebo que tudo o que eu toco viraliza, mas eu não valorizava isso. Achava que era sorte, não talento", diz.

Para ela, os memes são a forma de arte mais relevante das últimas gerações. "Você começa a trocar memes com os amigos e, no fim, está trocando referências. Vai falar sobre isso pessoalmente e puxar vários assuntos, porque o meme tem a capacidade de falar dos relacionamentos amorosos, mas também de política e questões sociais", diz.

A criadora enfatiza que as peças compartilhadas despretensiosamente nas redes podem arrancar risadas, mas também ter a capacidade de curar, gerando identificação e pertencimento.

Por isso, entre os aspectos mais importantes da sua página hoje, está o espaço de diálogo entre os seguidores, nos comentários –onde se inspira para compor novas peças. "Se conseguir traduzir uma ideia com humor, todo mundo pode fazer um meme", diz Carol.

Para ela, não é preciso ofender ninguém para fazer rir, mas vê uma falha na interpretação de alguns usuários das redes sobre determinados conteúdos. Ainda assim, Carol procura não "pisar em ovos" na hora de criar suas peças. "Eu tomo cuidado para não falar de temas sensíveis, como suicídio, por exemplo. Às vezes, um meme deste tipo pode gerar gatilho nas pessoas", diz.

Ao mesmo tempo, ela diz que as pessoas sabem estar em uma página de memes, e não em uma página de uma marca, que vai fazer tudo "certinho". Por isso, Carol não abre mão de abordar assuntos que considera importantes, mesmo que sejam polêmicos, como temáticas familiares ou religiosas.

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