#Hashtag

Mídias sociais e a vida em rede

#Hashtag - Interação
Interação
Descrição de chapéu memes

Saquinho de Lixo une humor fofo ao grotesco para criar memes

Criadores se revezam para administrar página no Instagram que reúne 1,8 milhão de seguidores

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo


Misture uma curadoria delicada de posts que viralizam na internet, o humor tipicamente brasileiro e o momento de polarização política. Adicione imagens que misturam o fofo e o grotesco, com um toque nonsense. Coloque ainda uma pitada de publis e a organização de uma empresa de estratégia de conteúdo.

Essa foi a receita do sucesso do Saquinho de Lixo, uma das mais populares páginas de criação e compartilhamento de memes nas redes sociais do Brasil.

O perfil nasceu em julho de 2018 —meses antes da eleição de Jair Bolsonaro (PL) à Presidência —como um grupo de WhatsApp formado por entusiastas da "memesfera" que compartilhavam publicações no Instagram sem muita pretensão.

A inspiração para o nome veio de uma campanha da prefeitura de Recife, terra natal de quatro dos seis atuais administradores da página, que incentivava os moradores da cidade a recolher o lixo da praia e colocá-lo num saquinho de lixo.

O número de seguidores foi crescendo aos poucos, e a página no Instagram hoje soma mais de 1,8 milhão pessoas.

Foto colorida mostra os seis integrantes da Saquinho de Lixo, posando em frente a um fundo rosa claro. Todos carregam roupas e acessórios cor de rosa
Os sócios-criadores do Saquinho de Lixo: Alan Pereira, 27, Rodrigo Almeida, 38 (em cima, da esquerda para a direita); Júlio Emílio, 30, Davi Moraes X, 23, Sofía de Carvalho, 26, e Luis Porto, 27 (em baixo, da esquerda para a direita). - Divulgação/ Saquinho de Lixo

Seus criadores dizem que alguns momentos foram cruciais para a popularidade da Saquinho. O primeiro foi quando Bruno Gagliasso, um dos protagonistas do Surubão de Noronha, compartilhou nos stories de de seu perfil na rede um post da página.

A publicação imitava os check-ins de segurança que o Facebook disponibiliza para usuários que estão em locais de crise. No caso, o ator marcava-se como "seguro" em relação ao boato da suposta orgia que teria envolvido várias celebridades na ilha brasileira.

Outro grande sucesso da página foram os memes que envolviam um ratinho vestindo a batina do papa. Conhecido como "Dorime" ou "Ameno", ele circulava no fim de 2019 nas redes ao som da música da banda Era, remixada, às vezes, com a batida do brega funk.

Outro viral da página são os memes que trazem nomes de doenças em fotos da personagem Hannah Montana, interpretada pela atriz americana Miley Cyrus.

Pela administração do perfil já passaram 13 pessoas. Atualmente, os seis moderadores, todos nordestinos, dividem o trabalho na Saquinho com outros trabalhos e profissões. Há até um médico no grupo.

Não que o ofício nas redes seja menos sério. O grupo nasceu se denominando coletivo, mas foi angariando publicidades e gradualmente se tornando uma empresa.

Hoje, a equipe se divide em turnos com cerca de quatro horas para procurar imagens que estão viralizando, elaborar memes autorais e fazer as postagens. Quando alguém cria um meme, o material precisa passar pela aprovação dos outros administradores.

No mês passado, o grupo consolidou a Saquinho Mídias Criativas, uma hub que, além das tradicionais publis, oferece também mentoria e estratégias de conteúdo para outras empresas.

O Saquinho de Lixo venceu por dois anos consecutivos o Meme Awards na categoria de melhor Comunidade LGBTQIA+. Também já foi indicado como um dos 50 nomes que expandem a criatividade no Brasil pela revista Wired, especializada em inovação.

O perfil também ultrapassou as fronteiras da internet. Em 2019, numa exposição no Sesc 24 de Maio sobre o nordeste, o grupo exibiu uma videoarte ao lado de um quadro de Portinari. Em 2021, foi convidado para participar da exposição de reinauguração do Museu da Língua Portuguesa.

Mas a página não vive só de humor. A posição política e a atenção ao noticiário também são componentes vitais. A publicação mais viral do perfil, por exemplo, é um post que dá instruções sobre o que fazer se você encontrar óleo nas praias do Nordeste, após o vazamento que atingiu o litoral da região em 2019.

Reprodução mostra post com ilustração de um surfista encontrando óleo em uma praia
Post do Saquinho de Lixo mostrava o que fazer após o derramamento de óleo nas praias do nordeste - Reprodução/ Saquinho de Lixo

"A gente surgiu em um momento de muita tensão e tristeza, após o golpe contra Dilma e antes da eleição de Bolsonaro. Somos de esquerda, somos todos gays. O Saquinho reflete isso", diz Sofía de Carvalho, 26, designer que integra o grupo.

Ela diz que a página sempre fez questão de diferenciar seus memes de estéticas de direita, como a do vaporwave. Na começo do mês, o perfil fez um post a favor do projeto de lei 2630, conhecido como PL das Fake News, que tramita na Câmara.

"Um meme é um atalho para passar uma mensagem", define Júlio Emílio, 30, que se formou em direito antes de virar um dos moderadores do Saquinho. "Ele dá contexto, é uma reação rápida e efetiva a algum problema diante do qual está todo mundo ansioso para ter algo na ponta da língua."

Essa linguagem, defende Emílio, pode quebrar barreiras nas quais as mídias tradicionais esbarram ao tentarem se comunicar com as novas gerações. "Há um quê de desabafo no meme, ainda que pareça só uma brincadeira. É uma forma de se levar a sério, mas nem tanto. Por ser espontâneo, ele convence".

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.