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Greengo Dictionary produz memes para 'sentir' em português brasileiro

Matheus Diniz, criador da página, vê o humor como ferramenta de contracultura e reflexo do momento

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São Paulo

Saudade, cafuné, xodó, gambiarra, anteontem. Essas são algumas das palavras em português (brasileiro) mais comuns em listas de difícil tradução.

Em entrevista ao The Hollywood Report, o cineasta Fernando Meirelles fala da diferença no uso da língua em suas produções. "Eu entendo inglês, mas eu não 'sinto' inglês. Quando eu falo 'mango tree' é só uma árvore. Já 'mangueira' lembra minha mãe, a infância. É diferente.", diz.

É a partir dessa dificuldade, descrita pelo diretor, para traduzir e adaptar expressões tipicamente brasileiras, que o designer gráfico Matheus Diniz, 28, teve uma ideia.

Em 2018, em seu perfil do Twitter, ele fez uma sequência de publicações nas quais traduziu ao pé da letra expressões coloquiais brasileiras para o inglês. "The jiripoca is going to pew pew", "take your little horse out of the rain", "let it be", "January River", foram algumas das expressões cunhadas por Matheus, que, no ano seguinte, criou a página Greengo Dictionary no Instagram. Hoje, o perfil acumula mais de 1,7 milhão de seguidores no Instagram e 300 mil no Twitter.

Matheus Diniz, fundador da página humorística Greengo Dictionary - Dilvugação

"A publicação viralizou e as pessoas começaram a mandar muitas sugestões. Eu fui pegando as sugestões que tinham melhor resultado e criei um feed com essas traduções. E aí as pessoas começaram a entrar no perfil, ver que já tinha algumas e compartilhar as que gostavam mais. Foi um crescimento muito rápido", conta ao #Hashtag.

Com a experiência em design, Matheus logo pensou na identidade visual da página, que publica as expressões como verbetes de um dicionário.

Meme da página Greengo Dictionary, que traduz expressões tipicamente brasileira
Meme da página Greengo Dictionary, que traduz expressões tipicamente brasileiras - Reprodução/Greengo Dictionary

Com o sucesso da Greengo, a equipe por trás da página cresceu. Além de Matheus, outras duas pessoas trabalham na criação de conteúdo. A empresa também conta com equipe jurídica e comercial. A produção dos memes deixou de ser feita de forma improvisada e passou a ser a ocupação principal dos envolvidos, com direito a escritório e tudo mais.

"Foi interessante porque eu descobri um jeito de trabalhar que é divertido e que eu amo. Eu amo vir aqui para o escritório todos os dias, eu saio daqui amando a empresa que a gente construiu e orgulhoso mesmo. É um trabalho que traz uma satisfação, mas que eu jamais imaginaria fazer", diz.

Questionado sobre o processo de criação de um meme, Matheus chama atenção para a percepção rápida do assunto nas redes sociais. "Precisamos ouvir primeiro as redes sociais, ouvir o público, saber o que está rolando. Porque o melhor meme, para mim, é aquele que é feito na hora certa e no momento certo. E esse tipo de meme sempre vai existir, sempre vai se renovar, sempre vão ter outros, então precisamos estar atentos", explica.

É no timing que reside a magia dos memes, na visão de Matheus. "O meme é como se fosse um espelho de um momento, né? Hoje em dia, através do meme, eu vejo um movimento de contracultura que é tão rápido assim é tão incontrolável e tão aleatório. É isso que faz ele ser tão perfeito."

Segundo o criador, o meme também pode, paradoxalmente, ser atemporal. Um exemplo é a célebre "Nazaré confusa", meme com Renata Sorrah na telenovela global "Senhora do Destino" de 2004. "O meme fica como um reflexo do tempo em que foi criado, mas ele sempre é atualizado e remixado. As coisas são resgatadas e ganham outros significados", diz. A "Nazaré confusa", inclusive, virou "Math Lady" em páginas de memes internacionais.

Nos memes, a página expõe seu posicionamento político. No início do mês de maio, publicou uma série de conteúdos críticos ao ex-presidente da república Jair Bolsonaro (PL), ou ao "Pocketnaro", alvo de mandado de busca e apreensão em investigação sobre fraude em cartões de vacina.

"Knock, knock, knock. Three little knocks on the door."

O aniversário de morte de Olavo de Carvalho, "Olaf of Oak", guru da direita brasileira, também foi lembrado. "Um ano sem fumar".

As marcas que quiserem fechar parceria com a página —principal forma de monetização dos conteúdos— precisam compreender o próprio público e os seguidores da Greengo. "Monitoramos como o público que consome aquela marca se comunica? Onde vive? Como se alimentam, sabe? Fazemos esse ‘Globo Repórter’ da vida desse público para entender. Quais são os memes, quais são as piadas internas e pensar como que a gente pode adaptar isso ao nosso conteúdo".

O resultado dessa investigação está disponível em diversos posts da página, que já fechou parceria com marcas como McDonald’s, Zerezes, Garoto, entre outras.

"Tem uma parte da criação de memes que é bem livre e aleatória, e outra que também pode ser profissionalizada, mais técnica. Fazer isso seguindo um padrão", diz Matheus. Assim, a Greengo Dictionary é hoje uma empresa e os memes, uma profissão.

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