A analogia das cidades com um organismo vivo há muito vem sendo utilizada porque, efetivamente, as similitudes se mostram bastante evidentes. Não é incomum nos referirmos às vias "arteriais" como as áreas localizadas no "coração" da cidade, ou mesmo aos parques como "pulmões" de determinadas regiões. Essa abordagem tem ajudado os planejadores a compreender e lidar com os complexos problemas urbanos.
Trilhões de reações químicas ocorrem no corpo humano. Uma infinidade de conexões, enzimas e processos químicos que, juntos, formam nosso metabolismo. Esse mesmo metabolismo pode servir de inspiração para compreender outro sistema complexo: a cidade.
Nossas cidades têm muito a aprender com os sistemas naturais, em especial com o corpo humano. Se alguém quer ser mais saudável, talvez deva ganhar músculos ou perder peso. Para isso, a primeira providência é entender o que está acontecendo, principalmente em termos do volume de calorias que entram e saem do corpo.
Diagnóstico semelhante pode ser feito com as cidades. É possível olhar para elas por meio de uma lente "metabólica", que coloca em foco uma nova estrutura para modelar os fluxos urbanos: o metabolismo das cidades.
No metabolismo urbano, redes de coisas (bens, capital, informação, pessoas etc.) entram e saem do corpo (cidade), local em que todos esses fluxos e sistemas interagem. Como mencionado, no metabolismo humano ocorre grande número de reações químicas por segundo. No entanto, embora a construção das cidades seja milenar, apenas agora começa a haver o entendimento das "reações químicas" dentro delas.
Para se atingir uma visão biológica da cidade, pode-se fazer algumas comparações. O sistema linfático, por exemplo, é a rede de tecidos e órgãos que ajudam o corpo humano a se livrar de toxinas, resíduos e outros materiais indesejados. Esse processo não é muito diferente de sistemas urbanos. Podemos pensar em paramédicos oferecendo ajuda médica em emergências, policiais protegendo a cidade contra danos causados por quem quer que seja, ou sistemas de coleta e disposição de resíduos.
O nosso sistema circulatório permite que o sangue trafegue e transporte nutrientes, oxigênio, hormônios e células sanguíneas. Isso funciona como as concessionárias de gás, de água e energia elétrica de uma cidade, suprindo as necessidades onde elas são mais necessárias.
O nosso sistema respiratório absorve oxigênio e expele gás carbônico. Esse processo é semelhante, porém invertido, nos parques, com suas árvores e jardins urbanos, que criam ambientes saudáveis e oxigênio fresco para a respiração de pessoas e animais.
Dentro desse contexto de analogias, é possível dizer que as cidades terão de fazer dieta para ficarem saudáveis.
E a dieta para uma cidade saudável consiste no seu funcionamento seguindo os princípios da economia circular. Uma economia circular e, portanto, uma cidade circular, é aquela "regenerativa e livre de resíduos".
Em uma economia circular, os materiais são reciclados com alta qualidade, toda a energia é derivada de fontes renováveis ou sustentáveis, e o capital natural e humano é sustentado estruturalmente, ao invés de ser degradado por meio de atividades incompatíveis com o desenvolvimento saudável.
Alcançar os níveis satisfatórios de uma economia circular requer um redesenho sistêmico do sistema produtivo, com grande foco em como ele se relaciona com o capital ecológico e humano.
Futuros urbanos mais sustentáveis e resilientes podem ser promovidos usando métodos e abordagens de metabolismo em um processo contínuo e interativo.
O metabolismo urbano saudável, assim como o ecossistema ou o organismo sadio, funciona melhor quando é monitorado com frequência e continuamente ajustado.
As cidades inteligentes, com modernas tecnologias de sensoriamento, coletando e processando quantidades expressivas de dados e informações, atingirão novos patamares, aliando, de forma definitiva, a visão biológica ao planejamento de áreas urbanas mais saudáveis.
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