Ian Bremmer

Fundador e presidente do Eurasia Group, consultoria de risco político dos EUA, e colunista da revista Time.

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Facebook tecnologia

Mudanças provocadas pela tecnologia chegam muito mais rápido que o aquecimento global

É preciso agir agora para limitar o mal que empresas como o Facebook podem causar à sociedade e à democracia

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O Facebook fornece um produto que oferece interação, informação e notícias consumidas por 3 bilhões de pessoas. Por isso é tão importante o fato de críticos, legisladores e reguladores terem acusado a empresa de usar algoritmos que, para alimentar o tráfego e maximizar seus lucros, promovem conteúdos radicais, carregados de ódio e, em muitos casos, falsos.

O presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, rejeita terminantemente essas acusações, mas governos em todo o mundo estão começando a reconhecer a escala do problema que representam.

Imagem mostra tela de computador com uma tela de celular à frente
Imagem em um celular mostra apresentação em que Mark Zuckerberg anunciou a adoção do nome Meta, empresa que reúne suas diferentes plataformas - Chris Delmas/AFP

Que fique claro, o Facebook não está resistindo aos chamados por novas regras. Ele não quer ter a responsabilidade direta por salvaguardar a democracia. Quer ganhar dinheiro e conservar sua dianteira competitiva. Seus líderes não procuram construir algoritmos que polarizem o público. A meta deles é fazer a empresa crescer, fomentando o engajamento dos usuários.

Executivos do Facebook dizem querer que o governo defina novas regras que sejam aplicadas por toda a internet e a todas as redes sociais —regras que determinem como devem funcionar, que tipo de informações devem postar e o que não devem postar. Querem que essas regras sejam aplicadas de maneira igualitária a todas as companhias.

Mas os executivos do Facebook estão pedindo essas mudanças em parte porque têm pouco receio de que as mudanças aconteçam de fato. É pouco provável que políticos alterem efetivamente o modo como o Facebook opera, já que não concordam em relação à natureza do problema, muito menos ao que fazer a respeito.

Em Washington, autoridades políticas de direita insistem que o Facebook cedeu às pressões pela chamada "correção política", uma forma de censura imposta pela esquerda. Alertam que a discussão franca de problemas políticos e sociais sérios frequentemente não se enquadra nos limites do que é visto como um discurso socialmente aceitável. Apontam para Donald Trump, que foi "desplataformizado" pela empresa no início deste ano, para argumentar que a direita é silenciada com frequência muito maior que a esquerda.

Enquanto isso, políticos de esquerda dizem que o problema real é que o Facebook tem influência e poder de mercado excessivos —e que promove desinformação inventada pela direita com o intuito de, por exemplo, substanciar a acusação falsa de que a vitória na eleição presidencial americana teria sido "roubada" de Trump. Avisam que os algoritmos do Facebook estão tornando um país politicamente tribal ainda mais tribalizado. Se esquerda e direita não conseguirem concordar em relação ao que é o problema, não concordarão quanto às ações a serem adotadas.

Esta história também tem um aspecto geopolítico. Líderes dos EUA e da China acreditam cada vez mais que travam uma luta pela hegemonia tecnológica futura. Os EUA dependem principalmente de inovadores do setor privado no Vale do Silício e fora dele para conservar uma vantagem no desenvolvimento da inteligência artificial.

A China se vale do poder do Estado para concentrar dinheiro e outros recursos sobre uma estratégia de desenvolvimento tecnológico mais centralizada. Se os reguladores americanos adotaram ações que enfraqueçam gigantes tecnológicos como o Facebook —isso em um momento em que a China está colhendo e processando os dados produzidos por 1,3 bilhão de pessoas, com pouca consideração por sua privacidade pessoal—, então os legisladores estarão prejudicando a segurança nacional dos EUA e os valores online que dizem defender.

Há soluções de bom senso que podem ser seguidas para impedir o Facebook de dividir sociedades sem fragmentar a empresa ou enfraquecê-la criticamente de outras maneiras. Em primeiro lugar, proibir a publicidade política. Isso minimizaria a difusão de desinformação política e elevaria o nível do discurso.


Em segundo, alterar algoritmos de modo a reduzir mais amplamente a importância da política doméstica no site. Em terceiro, como é feito no site LinkedIn, verificar que cada usuário fosse comprovadamente uma pessoa real. Não permitir contas anônimas ou bots. Obrigar cada usuário a assinar uma declaração concordando em pautar-se pelas regras contra o discurso de ódio e a desinformação e depois usar verificação para impedir que usuários que tenham violado as regras e sido expulsos do site voltem a inscrever-se nele sob nome novo.

Seriam alguns modestos primeiros passos para enfrentar os desafios colocados não apenas pelo Facebook, mas pela tecnologia digital sob várias formas, de modo mais geral.

A melhor estratégia que reguladores e público podem adotar é abrir uma discussão global sobre como adaptar-se a um mundo em que as empresas de tecnologia exercem cada vez mais poder nos espaços digitais que ocupam.


Líderes mundiais se reúnem anualmente desde meados dos anos 1990 para discutir o que fazer em relação à mudança climática. Como é o caso com a elevação do nível do mar e os padrões climáticos cada vez mais erráticos, precisamos agir agora para limitar o mal que as empresas de tecnologia da informação podem causar à democracia e à sociedade.

Mas também temos que nos adaptar a um mundo no qual alguma transformação já é inevitável. É uma prioridade urgente porque as mudanças provocadas pela tecnologia no modo como vivemos, recebemos informações e compreendemos o mundo estão chegando muito mais rapidamente que o aquecimento global.

Tradução de Clara Allain   

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