Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Polarização política é obstáculo para cobertura ambiental no jornalismo

Se a imprensa quer ser tratada como serviço público, cabe a ela contribuir para desembaralhar falácias na ciência

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Uma pesquisa recente do instituto Pew Research Center mostrou que a vasta maioria dos americanos apoia novas medidas de combate ao aquecimento do planeta.

Mais de dois terços são a favor de incentivos para o uso de veículos elétricos ou híbridos e da criação de impostos para corporações com base em suas emissões de carbono. Nova regulação obrigando o aumento do uso de energia de recursos renováveis teria o apoio de 72%, e 79% favorecem incentivos fiscais do governo para ajudar empresas em projetos de captura e armazenamento de carbono.

Jornalistas transmitem discurso de Joe Biden com anúncio de investimentos de combate à crise climática em Somerset, Massachusetts - Jonathan Ernst - 20.jul.22/Reuters

A preocupação com o ambiente vem crescendo na última década e, em junho, uma pesquisa da empresa YouGovAmerica revelou que hoje 56% da população se identifica como "ambientalista". Então, por que só 30% dos americanos se dizem interessados em acompanhar notícias sobre o meio ambiente?

A polarização política nos EUA —e também a corrupção de políticos comprados por interesses especiais— ajuda a explicar como o país está rachado ao meio no apoio à encolhida agenda ambiental de Joe Biden, que sofre assaltos não só de ultraconservadores na Suprema Corte como do próprio partido. O senador Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, vendido ao lobby do carvão, quase matou um pacote legislativo ambiental ligado ao plano BBB (Build Back Better) antes de voltar atrás nesta quarta (27).

É difícil manter a atenção do público já assediado por más notícias sobre economia e saúde com previsões apocalípticas. Mas os desinformados, consumindo uma dieta negacionista como a servida nos EUA pela Fox News, não são os maiores responsáveis pela falta de apoio ao combate ao aquecimento global; são os narradores da mídia que tratam a ciência como ideologia.

A agência federal de ambiente dos EUA foi criada por Richard Nixon, um conservador cristão. O correspondente do setor da rede CNN comparou recentemente os âncoras da rede de Rupert Murdoch a sabotadores que bloqueiam a saída de um teatro pegando fogo.

Se o jornalismo quer ser tratado como serviço público, cabe ao jornalismo contribuir melhor para desembaralhar a falácia de que a ciência ambiental é "de esquerda". Se no primeiro semestre de 2020 a catástrofe da pandemia jogou repórteres de todos os setores na cobertura de um vírus, chegou a hora de parar de setorizar a reportagem de ambiente.

Toda a cobertura tem um aspecto ambiental num mundo em que eventos relacionados ao clima já matam 5 milhões por ano e devastam economias de qualquer porte.

Um obstáculo evidente é que a reportagem científica requer um grau maior de especialização. Outro é articular melhor o relato de fatos no contexto da destruição ambiental. O comentarista financeiro que descreve só as cifras quando o governo precisa intervir no mercado de seguros da Luisiana porque as tempestades e os furacões tornaram 600 mil residências inafiançáveis não deve omitir como a ciência explica a debacle econômica.

A narrativa ambiental nunca teve à disposição tantas notícias promissoras com o progresso científico na proteção ambiental. Equilibrar o noticiário entre os sacrifícios e as recompensas é um poder que o jornalismo tem de resgatar a ciência refém dos autocratas populistas.

Esta coluna foi escrita para a campanha #ciêncianaseleições, que celebra o Mês da Ciência.

Erramos: o texto foi alterado

Este texto foi escrito pela colunista Lúcia Guimarães, não por Renato Janine Ribeiro.

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