Apesar dos altos patamares de desemprego e inflação, a campanha de Jair Bolsonaro (PL) projeta com otimismo o cenário do segundo semestre, que coincidirá com a eleição.
Um dos coordenadores da estratégia eleitoral do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) diz ao Painel que a aprovação do teto do ICMS para os combustíveis, que ele dá como provável, será um ponto de inflexão no combate à inflação.
"Teremos a aprovação do teto, talvez com uma regra de transição para os estados se adaptarem. Há ainda as reduções de carga tributária já anunciadas e outras que podem vir. Essas medidas vão dar resultado no segundo semestre", diz Flávio.
Ele afirma que os estados também precisam dar sua "cota de sacrifício", como tem feito o governo do pai, que seria abrir mão de uma parte do imposto para controlar a inflação.
"Os estados têm gordura para queimar, eles precisam dar a sua cota de sacrifício. Teve aumento de arrecadação. No Rio de Janeiro, o ICMS é 36%, é muito alto".
O governo estuda outras medidas para conter a alta dos combustíveis, hoje a principal preocupação de Bolsonaro.
"[O governo] vai para cima desse tema [inflação]. Se precisar, vai ter guerra com a Petrobras, vai reduzir imposto de importação, vamos brigar para reduzir a inflação".
Dar um subsídio para o preço, segundo o senador, não está descartado, mas seria a última alternativa.
"O [ministro da Economia] Paulo Guedes está querendo queimar todas as etapas antes de pensar em subsídio. Porque o subsídio pode dar um impacto momentâneo. Reduzindo o ICMS, pode ter impacto em toda a cadeia, reduzir a inflação".
São medidas, ressalva, que independem do ano eleitoral. "Se não tivesse eleição estaríamos fazendo a mesma coisa".
Guedes, confirma o senador, está num momento de prestígio em alta no governo, e só não fica em um eventual segundo mandato se não quiser.
"Paulo Guedes é um gênio, hoje uma pessoa muito mais sensível politicamente do que era no início do governo. Sem ele não estaríamos na atual situação, estaríamos muito pior", diz.
Apesar da situação econômica desconfortável, a campanha de Bolsonaro pretende vender esperança para os próximos quatro anos. Conforme mostrou o Painel, o presidente repetirá, nas inserções de TV de seu partido, que sem pandemia, o país crescerá aceleradamente.
"Os próximos quatro anos são para entrar para a história, se for com Bolsonaro. É o tempo da colheita. O [ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] colheu um país ajustado, e com cenário internacional muito favorável. A [ex-presidente] Dilma [Rousseff] dizimou, e o Jair Bolsonaro plantou de novo".
Uma estratégia de campanha de Bolsonaro é tentar sair da defensiva no tema da Petrobras e dos combustíveis, usando-o como munição contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Eles saquearam a Petrobras. O Conselho de Administração era um filme de terror. Compraram Pasadena, que era para ser uma refinaria. Deram prejuízo de R$ 20 bilhões em Abreu e Lima", afirma.
Nesse ponto, afirma o senador, não há comparação possível entre os escândalos do governo Lula e casos como o da rachadinha, que o envolve pessoalmente.
"Não tem nem denúncia contra mim, enquanto o Lula tem condenação em primeira, segunda e terceira instâncias. O consórcio de imprensa vai ajudar a desmentir essa fake news?", provoca.
Da mesma forma, ele rebate as suspeitas sobre a compra de uma mansão em Brasília, que custou R$ 6 milhões.
Como mostrou a Folha, ele declarou usar sua renda de advogado para quitar o imóvel, embora não haja notícia sobre ter exercido a profissão. "Falam da casa que eu comprei, mas eu vou passar 35 anos pagando por ela".
Assim como o pai e outros do entorno do presidente, Flávio questiona a veracidade dos números publicados por institutos de pesquisa, que trazem Lula à frente. Isso se deve em parte, diz, pelo perfil do eleitor bolsonarista.
"As pesquisas não pegam o nosso eleitor. O nosso eleitor é o servidor público, o militar, o evangélico, que na hora da pesquisa, está no culto. É um pessoal mais reservado", afirma.
"Nosso termômetro de aceitação sempre foi a rua. O Lula não sai na rua, é tudo evento controlado. O Jair sai em qualquer cidadezinha vem uma multidão".
Mas ele insinua também que haja algum tipo de manipulação dos institutos. "Todos os CEOs de instituto de pesquisa têm relação com a esquerda", diz.
Além de relembrar os escândalos associados a Lula, a campanha de Bolsonaro vai tentar também uma estratégia tradicional de opositores do PT, a de despertar nos eleitores o medo do ex-presidente.
"O Lula de 2022 é raivoso, não é mais o paz e amor", diz. "O Lula, quando fala, faz um favor para a gente. É um Lula com sede de vingança. Ele pegou um Brasil num momento favorável, era para o Brasil ter crescido mais se tivesse sido um bom presidente".
Flávio também reafirma as críticas que vêm sendo proferidas à Justiça Eleitoral. "Tem todo um cenário que diz que vai ter algo ruim. Lula foi solto, o [Tribunal Superior Eleitoral] TSE se recusa a dar mais transparência, há uma interferência do Poder Judiciário nos demais. A gente não vai perder no voto. A gente tem convicção de que vai ganhar no primeiro turno. O TSE podia dar sua contribuição", afirma.
Apesar disso, diz, não há nenhuma possibilidade de o presidente dar um golpe, como temem adversários. "Se fosse para ter ditadura, já teria acontecido. Já vamos para três anos e meio de governo".
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