Eliane Trindade

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”.

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Refúgios entre o mar e a montanha traduzem luxo sustentável em Portugal

Sofisticação e sustentabilidade fazem o diferencial em Areias do Seixo e TheVagar, exemplos de hotelaria de luxo em contato com a natureza na região central de Portugal

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quarto de hotel com lareira de ferro acesa

Suíte do Areias do Seixo Hotel, na região central de Portugal, que usa material recilado na decoração Divulgaçao

Belmonte e Torres Vedras (Portugal)

Um nasceu à beira-mar. O outro, na montanha. Ambos na região central de Portugal. Areias do Seixo Hotel e TheVagar Countryhouse Belmonte estão separados por 298 km, a distância entre a costa do Atlântico e a Serra da Esperança, quase na fronteira com a Espanha.

Guardam, contudo, proximidade como destinos que unem sofisticação e sustentabilidade, numa simbiose entre conforto e interação com a natureza.

Em comum também o fato de os dois empreendimentos terem sido criados por dois jovens casais como espaços nos quais hotelaria rima com ecologia.

Tanto o hotel cinco estrelas pé na areia quanto a pousada de charme na serra agregam conceitos como reciclagem de materiais, eficiência energética e reaproveitamento de água.

Banho de banheira com vista para a Serra da Estrela no TheVagar Moutain Suites, em Belmonte, um dos destinos de turismo sustentável em alta no centro de Portugal - Eliane Trindade/Folhapress

O Areias do Seixo é fruto do sonho de Marta Fonseca, 48, e Gonçalo Alves, 48, que construíram um lugar mágico e aconchegante na praia de Santa Cruz e suas belas dunas, a uma hora de Lisboa.

Hoje divorciados, os sócios continuam compartilhando a aventura de manter viva uma hospitalidade com alma.

Já o TheVagar traduz a história de amor de Marta Domingos, 45, e André Pinto, 41, que ergueram nas Serra da Esperança, nos arredores de Belmonte, cidade natal do desbravador Pedro Álvares Cabral, um empreendimento de ecoturismo rural numa área com vestígios da ocupação Romana.

A seguir, um passeio por dois hotéis que se propõem a entregar uma experiência de hospitalidade ao mesmo tempo requintada e despojada.

AREIAS DO SEIXO

Cada um dos 15 quartos com "alma" do hotel inaugurado em 2010 tem nome e ganha uma poesia na porta, a tradução do espírito da acomodação presente na decoração de todo o ambiente.

Ao chegar ao quarto Oliveira e Princesa, os hóspedes são saudados pelo poema "Eros e Psiquê", de Fernando Pessoa.

A sala de banho dá as boas-vindas aos hóspedes, dividida em quatro ambientes. O dos chuveiros tem duas duchas potentes, separadas por um tronco em forma de poltrona. Numa espécie de gaiola de vidro, a banheira de cimento queimado é uma jacuzzi, instalada sob uma claraboia de onde se aprecia as estrelas.

O conceito "farm do table" é levado a sério no Areias do Seixo Hotel, na região central de Portugal, que instalou um dos restaurante na estufa, ao lado da horta orgânica - Divulgaçao

A colcha de fuxico, daquelas da casa da avó, é um toque de conforto e nostalgia. Destacam-se ainda a lareira em ferro e o painel ao fundo com madeira de demolição e uma cadeira de balanço feita com uma porta antiga, suspensa por cabos de aço.

Espelhos venezianos e candelabros de cristais são itens de requinte, em contraste com mesa de cabeceira nada mais que um tonel oxidado com tampo de vidro.

"Ao comprarmos esse terreno, a ideia era fazer um hotel diferente, como se fosse a nossa casa, onde se recebe as pessoas com um abraço, como se estivessem em família. É um convite para trazer as pessoas para uma vida mais simples e um reencontro com a natureza, para que possam ir despindo camadas e chegar à essência."

Marta Fonseca, proprietária da Areias do Seixo

A decoração abusa de materiais in natura e reciclados. O entulho da obra em vez de ser despejado no lixo virou peças criativas de mobiliário. Bases dos andaimes, por exemplo, são pés de cama.

O candelabro gigante no teto do restaurante foi feito com o aço retorcido da antiga cobertura tragada por um miniciclone que passou pela região causando estragos gerais.

"Toda a madeira da obra foi reutilizada para decorar os ambientes e como suporte para móveis. A ideia é dar vida nova aos materiais", explica Marta, sobre o conceito de upcycling, nada mais do que dar novo propósito a algo que seria descartado.

A proprietária garimpa ideias em suas andanças pelo mundo, especialmente por Índia e Marrocos, referências fortes na decoração assinada por arquitetos renomados.

É Marta também quem comanda a cantoria ao redor da fogueira. No círculo de fogo, empunha o acordeom e entoa canções que vão de "Carinhoso", de Cartola, a "Saudade", de Cesárea Évora.

Gonçalo, ex-marido e pai dos dois filhos gêmeos de 17 anos do antigo casal, mostra orgulhoso o novo restaurante que passou a funcionar na estufa, ao lado do pomar e da horta.

Ele discorre sobre os sistemas de reaproveitamento de água. A das duchas, por exemplo, são usadas para lavar o piso. O jardim com plantas autóctones não precisa ser regado, poupando água para regar a horta.

Os alojamentos não dispõem de ar-condicionado, mas de um sistema de climatização que utiliza a geotermia para aquecer os pavimentos, tirando partido da temperatura da terra.

" Introduzimos nesses 10 hectares nossa forma de viver, seja em upcycling da madeira da obra, seja na água de reuso ou no ‘farm do table’ [da fazenda para a mesa] dos produtos da horta que abastecem o restaurante e servem aos nossos colaboradores. Introduzimos a compostagem e a geotermia. É algo que extravasa para além da sustentabilidade ambiental e chega ao social. Estamos criando um espaço para os funcionários, para que eles possam usufruir dos serviços oferecidos aos hóspedes"

Gonçalo Alves, proprietário do Areias do Seixo

Os 150 empregados nos três empreendimentos hoteleiros da família podem optar por ir ao trabalho de bike elétrica. Nesse caso, recebem 500 euros de subsídio para comprar o veículo.

Luca Caffettani entrou para a turma há cinco anos. Italiano de Parma, é o responsável pela horta. Chegou como voluntário e foi contratado junto com a namorada, Silvia.

A dupla cuida do plantio orgânico de uma pequena "floresta comestível", onde são cultivadas frutas como manga, pitanga e banana. A horta conta com mais de 50 tipos de legumes, além de plantas comestíveis e as decorativas.

"Seguimos os princípios da permacultura e a lógica agroflorestal cultivando uma diversidade grande de plantas interconectadas", explica Lucca.

O verde e o colorido das flores estão ao alcance da visão e do prato dos hóspedes, que desfrutam ainda de spa, piscina de borda infinita e de uma praia deserta.

Para quem deseja privacidade e romantismo, a pedida é uma tenda de chame com acesso exclusivo ao topo das dunas, com lareira, banheira e um deck.

O "abrigo onde o amor encontra a natureza" e o restaurante na estufa são novidades. "Estamos sempre fazendo mudanças", diz Gonçalo, sobre a sensação de que o Areias do Seixo acabou de ser inaugurado.

TheVagar Mountain Suites

O nome TheVagar é mais do que sugestivo. É vagar, divagar, devagar.

Situado no Parque Natural da Serra da Estrela, nos arredores da aldeia histórica de Belmonte, a casa de campo oferece alojamentos para um ecoturista que valoriza o "slow living", um jeito mais lento de curtir a vida.

A propriedade se espalha por 245 hectares de uma serra de nome também sugestivo: Esperança. Promessa de relaxamento, como meditação e massagens, e de experiências de ecoturismo, como banhos em banheiras estrategicamente plantadas na floresta e piqueniques ao pôr-do-sol com vista para a serra principal, a da Estrela, conhecida pelo queijo de excelência.

Ruínas romanas e trilhas em parque natural são atrações do TheVagar, que alia conforto e contato com a natureza na região central de Portugal - Eliane Trindade/Folhapress

O spa oferece uma série de banhos sensoriais, com ervas colhidas nas redondezas, que pedem para acabar na piscina de borda infinita com vista espetacular.

O café da manhã pode ser servido ao ar livre no jardim. São apenas seis suítes, explica a proprietária Marta Domingos, que também mora ali com o marido e os dois filhos pequenos que têm o privilégio de crescer em uma reserva natural.

"Eu sou de Caldas da Rainha, que fica próximo do mar, e o André, da região montanhosa de Belmonte. Temos uma paixão comum que é o turismo. Nos conhecemos na faculdade e o convenci a morar na praia, mas depois viemos para cá. Ele sempre quis viver na montanha, para onde nos mudamos ao decidirmos constituir família. E aí nasce também o TheVagar, esse lugar cheio de alma, onde tudo faz sentido. Desde pequeno, ele via essa casinha da estrada e hoje ela é nosso lar, onde criamos nossos filhos Aurea, 8, e Isaac, 5, ao lado da casa maior, onde recebemos os hóspedes. O convite é se desligar do dia a dia e entrar no ritmo diferente da montanha."

Martha Domingos, proprietária do TheVagar

A história do casal se cruza com a do local onde ficaram as bases do empreendimento de turismo rural. Bem antes de ser uma pousada de charme, o TheVagar era a residência de férias do Conde de Caria, apelidada de Chandeirinha e edificada em 1946.

Mais ao alto, fica a Casa dos Cedros, residência do caseiro, que povoou os sonhos infantis do futuro proprietário. O desejo de André só se materializou em 2016, quando adquire as terras que englobam uma zona arqueológica importante.

"Na construção da estrada, em 2013, foram descobertas ruínas romanas do século 2, que ficam próximas à entrada da propriedade. No alto da serra, temos uma rota de um castro romano, que eram formações rochosas naturais em sítios de grande altitude usados como pontos de defesa e vigilância. Dali, eles mandavam sinais de fumaça para comunicar ameaças para outros castros e castelos. Estamos a 700 metros de altitude, dentro de uma reserva privada com 16 quilômetros de trilhas."

André Pinto, proprietário do TheVagar Suites

Em passeios de jipe, André guia os hóspedes para explorar trilhas na montanha, com direito a piquenique na floresta de pinhos.

Um programa especial é o "hot tub", uma banheira de hidromassagem peculiar. A jacuzzi do TheVagar funciona em uma lagoa, aquecida a lenha, em um espaço perfeito para desfrutar momentos em comunhão com a natureza.

O projeto foi concebido para não causar nenhum impacto visual ou ambiental. "Nossa hot tub é alimentada com água da nascente e aquecida com biocombustível, também proveniente da serra e sem qualquer tratamento químico", explica André.

Com fontes abundantes de água, a irrigação dos jardins e da horta é feita gota a gota usando a força da gravidade e o declive natural do terreno. Usam um sistema de fossa biológica e a piscina é tratada com sal marinho. "Gastamos mil quilos por ano e zero cloro", afirma o proprietário.

O projeto de restauração da propriedade levou quatro anos para ser aprovado. Entre idas e vindas burocráticas, a abertura oficial foi em 2022. As construções em pedra ganharam confortos e decoração modernas.

Parte do material que seria descartado após as obras foi reaproveitada para construir uma trilha sensorial, a ser percorrida descalços.

Os caminhos feitos de entulhos vão se alternando: de brita, areia grossa, granito, telhas, madeira. Na segunda parte da trilha, o chão é forrado de pinhas, feno, musgo. O passeio termina em uma mini represa com chuveiro e um tanque de areia para se refrescar.

Os mais aventureiros podem seguir o passeio, sem pressa, ao longo da canaleta de pedra no caminho das águas.

Ao se despedir do TheVagar, os hóspedes são convidados a deixar um bilhete na Árvore dos Sonhos plantada em frente à lareira da sala de estar da área de convívio.

Assim como no Areias do Seixo, onde uma árvore estilizada traz em seus galhos recomendações do tipo: abra-se para a natureza, olhos para o mar e seja feliz.

Serviço

Areia dos Seixos Hotel

Site: https://www.areiasdoseixo.com/

Diárias: a partir de 420 euros (R$ 2.290)

TheVagar Moutains Suites

Site: https://www.thevagar.pt/

Diárias: a partir de 130 euros (R$ 655)

A editora e colunista Eliane Trindade viajou a convite do Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal

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