Este texto faz parte da série Cartas para o Futuro, em que colunistas, repórteres e editores da Folha imaginam os cenários das suas respectivas áreas de atuação em 2031.
Quinta-feira, 2 de janeiro de 2031. Enquanto tomo o café da manhã, rastreio os tipos e os locais de origem do café, do leite, da laranja e do pão que estou consumindo.
Aproveito o tempo à mesa para ler as mais recentes notícias da Folha referentes ao agronegócio. As discussões mudaram nesta década de 2031. Os transgênicos já não são mais a pauta do dia.
Ganha força, e está em fase de regulamentação, a edição genômica de plantas e de animais. Pesquisadores editam as informações genéticas de um ser vivo e introduzem modificações para melhorar a atuação deles. São “cortadas” partes indesejáveis de um DNA e “editadas” para correção.
Aumentam, porém, as discussões sobre a biologia sintética, que permite a construção de organismos que a natureza nunca construiu. Biossensores sintéticos tornam a planta mais inteligente e capaz de uma defesa mais eficaz contra adversidades, possibilitando maior produtividade e maior fixação de carbono.
Está sendo construído um laço de confiança entre a sociedade e os alimentos. Mais urbana, mais educada, mais conectada e com um volume maior de informações, a sociedade, com o auxílio da ciência e da tecnologia, reduziu medos e receios de consumir certos produtos.
Os efeitos da pandemia da Covid-19, ocorrida na década passada, levaram os consumidores a exigir o conceito de alimento ligado não só à nutrição mas também à saúde.
Esses conceitos se somam aos de sustentabilidade, que exigem produção com compromissos ambientais, sociais e econômicos. Mesmo assim, as discussões sobre o aquecimento global e sobre a devastação florestal continuam, devido à ação de intrusos no setor e de produtores inescrupulosos.
No campo da tecnologia, o avanço foi grande, e o produtor desfruta agora dos investimentos feitos na década de 2020. Infelizmente, a ausência de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento de tecnologias para o campo está deixando muitos produtores longe dessas inovações.
As informações da Folha desta quinta-feira (2) mostram, ainda, que a agricultura se torna alternativa para as indústrias que buscam maior sustentabilidade e que querem deixar de lado o petróleo.
Está sendo construído um laço de confiança entre a sociedade e os alimentos
Os aviões já podem usar 100% de biocombustíveis, reduzindo as emissões de carbono; a indústria de plástico foi buscar no açúcar uma melhora de seus produtos; as indústrias químicas se apropriam de produtos agrícolas; e as de defensivos se valem dos bioinsumos para minorar a agressão à natureza.
Nesta década, a era da automação inteligente chegou às máquinas e equipamentos. Precisão e rapidez geram conhecimentos, que servem para a tomada de decisões.
A internet das coisas substitui as deficiências humanas e auxilia no processo produtivo com drones e robôs. O Brasil, mesmo com sua importância na produção mundial de alimentos, não gerou políticas voltadas para esses investimentos tecnológicos. A China se mantém à frente.
As biorrefinarias e as biofábricas se espalham pelas fazendas. As primeiras transformam massas em óleo, energia e adubo. Já a indústria biológica é a base para um novo sistema de combate às pragas e doenças nas lavouras.
A Folha informa ainda que as sofisticadas casas de vegetação urbanas, com controle de clima e de pragas, trouxeram para as cidades a produção de verduras e legumes.
Bom, chegou a hora de pensar no almoço de hoje: a tradicional carne bovina, um hambúrguer de “carne” vegetal, cuja produção está crescente, ou um belo prato de insetos, uma fonte de proteínas de alta qualidade? A escolha é difícil.
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