Este texto faz parte da série Cartas para o Futuro, em que colunistas, repórteres e editores da Folha imaginam os cenários das suas respectivas áreas de atuação em 2031.
O trauma causado pelo governo Jair Messias Bolsonaro (2019-2022) foi tão profundo que fustigou as raízes mais profundas da sociedade.
Foi um período curto, mas em dez anos a mentalidade do brasileiro já estava totalmente mudada. Havia o sentimento firme de que somos uma nação capaz de trazer uma palavra nova para o século 21.
Com ajuda inicial dos Estados Unidos, França e Alemanha, nos tornamos uma potência ambiental que reconheceu a riqueza de seu ecossistema e o transformou na mais valiosa moeda de troca do mundo.
Recebemos investimentos para manter a floresta preservada. Equipamos nossa ciência para mapear plantas e animais e, assim, produzirmos novos remédios, matérias-primas renováveis e alimentos.
Descobrimos e investimos em produções mais rentáveis e ecológicas que a pecuária e a monocultura de soja.
Com a iminente escassez de petróleo e a demanda por alimentos mais saudáveis, o Brasil tem as principais patentes científicas e produz tecnologia de ponta. No século 20, o Vale do Silício era a meca da inovação. Em 2031, o Vale do Açaí é o polo que atrai as mentes mais brilhantes do mundo.
Um crescente senso de cidadania fez com que o cidadão brasileiro escolhesse viver coletivamente. Não por imposição do Estado. Mas por opção própria mesmo.
A valorização da cultura foi fundamental para criar o imaginário de um novo país. A cultura inspirou, uniu e deu coragem. Mostrou que nossas antenas podem captar vibrações positivas dos EUA, Europa, América do Sul, África. Mas que depois devemos olhar para dentro e criar um novo modelo de convivência entre as pessoas e a natureza. Uma sociedade em que as ações coletivas trazem impacto positivo nas vidas individuais. Os tempos de ódio e segregação ficaram no passado.
Um crescente senso de cidadania fez com que o cidadão brasileiro escolhesse viver coletivamente
Com mais oportunidades de trabalho e maior divisão de renda, a violência foi reduzida. O senso de coletividade fez com que o tamanho do Estado fosse profundamente reduzido.
A esquerda se alinhou às sociais democracias que tentam criar novas formas de garantir bem estar social numa economia de mercado. Em parceria com a publicidade, militantes fizeram com que brasileiros tivessem orgulho de expressar solidariedade. Em vez de um carro novo, uma bolsa, uma camisa, virou cool contribuir pra manter o alto padrão de uma escola ou hospital. “Se a gente conseguiu fazer o brasileiro enxergar emoções positivas numa Coca-Cola, porque esse cara não pode ostentar as emoções positivas de ser um doador do Médicos Sem Fronteiras?”, disse um importante publicitário na época.
A direita batalhou pelas liberdades nos costumes e na economia. E alterou o conceito de meritocracia para valorizar os empregos que contribuem com a sociedade. Um cientista ganha mais que um consultor de investimentos. Fundos de educação rendem mais que empresas de garimpo e petróleo.
As forças políticas travam um debate de ideias que ajuda a sociedade a se atualizar e progredir.
E, dessa maneira, termino o texto de humor que a Folha me pediu sobre a realidade brasileira em 2031.
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