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Folha, 100 Cartas para o futuro

Haverá mais cobrança por responsabilidade das big techs em 2031

Cerco que se fecha contra as empresas será determinante para que a forma de se fazer tecnologia mude

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Raphael Hernandes

Repórter da Folha desde 2016. Escreve sobre tecnologia.

Este texto faz parte da série Cartas para o Futuro, em que colunistas, repórteres e editores da Folha imaginam os cenários das suas respectivas áreas de atuação em 2031.

Poucas pessoas vão errar tanto nas previsões que farão neste espaço. Isso porque dificilmente uma área seja tão mutável quanto a da tecnologia. A indústria segue uma lógica de tentativa e erro, na qual os fracassos são rapidamente descartados e grandes sucessos surgem da noite pro dia.

Cito essa filosofia justamente porque ela começa a dar sinais de desgaste. A última década mostra como mudou a relação do público com as redes sociais. E é daí que vem a principal mudança nos próximos anos: a relação da sociedade com a tecnologia e, principalmente, com as grandes empresas do setor.

Num mundo cada vez mais digital, a cibersegurança ganha um papel mais central. Já são vistos ataques cibernéticos que minam infraestrutura crítica. Nesse lado, a previsão é mais catastrófica. Com isso, as defesas digitais se tornam tão importantes quanto as físicas.

Ilustração mostra bandeira branca em fundo preto
Num mundo cada vez mais digital, a cibersegurança ganha um papel mais central - Catarina Pignato

Com o público cada vez mais consciente em relação a seus dados pessoais e regulação no setor, preocupação com privacidade e segurança deve mais e mais fazer parte do desenvolvimento das novas tecnologias.

Hoje, as grandes empresas não têm incentivo algum para mudar. O capitalismo de vigilância funciona e gera lucros gigantescos. Nele, produtos e serviços são oferecidos a baixo ou nenhum custo em troca de informações pessoais dos usuários. Por isso, o cerco que se fecha contra as big techs, com ações antitruste nos Estados Unidos e na Europa, será determinante para que a forma de se fazer tecnologia mude.

Haverá uma maior cobrança por responsabilidade social sobre as ferramentas lançadas e seus impactos. Perderia espaço, por exemplo, um modelo de negócios baseado em volume de cliques e que, assim, ajuda a disseminar desinformação (sim, falo do Facebook).

A discussão pelo 6G estará pipocando ao passo que o 5G será uma realidade, mas ainda não por todo o mundo

Raphael Hernandes

Repórter da Folha

Quando se pensa no futuro da tecnologia, o que mais se quer vislumbrar são os sistemas e produtos que vão bombar no futuro. O novo Google, Uber, Airbnb, Netflix, etc. A verdade é que, se eu soubesse a resposta, estaria no Vale do Silício tentando alavancar investidores para a minha startup.

Uma abordagem mais pé no chão, e na qual posso arriscar os pitacos, é ver as mudanças que já estão em curso e o que esperar delas em 2030.

A discussão pelo 6G estará pipocando ao passo que o 5G será uma realidade, mas ainda não estará por todo o mundo (a previsão da GSMA, associação que congrega as teles, é de que corresponda a 20% das conexões em 2025). A partir dele, mais dispositivos online, mais dados gerados e mais inteligência artificial, com muito mais capacidade de entender a fala humana.

A computação quântica fará com que as máquinas atuais se pareçam com ábacos. Em suma, essa é uma grande revolução na informática que promete sistemas incomparavelmente mais potentes. Atualmente restrita a alguns pesquisadores e em fase de testes com algumas empresas, nesta década passa a estar disponível comercialmente.

Outra área que falhou no passado, mas que fica cada vez mais prática é a “realidade estendida digitalmente”. Ela compreende um grupo de modalidades. Entre elas, a realidade mista, que adiciona elementos virtuais a imagens do mundo real (lembra daquele filtro no Instagram que colocava um cachorro 3D no meio da sala?), e a realidade virtual (ambiente imersivo totalmente digital, visto naqueles óculos estranhos).

Empresas como a Microsoft tiveram grande progresso com a tecnologia na última década, mas ela ainda é cara e não tão simples de usar. Mesmo assim, já aparece em algumas indústrias de ponta.

E se eu tiver que escolher uma previsão deste texto para acertar, que seja esta: terminamos a década de 2020 olhando para trás e observando como quebramos o mundo com a tecnologia. Agora, olhemos para os anos 30 como aqueles em que aprendemos com os erros e consertamos os problemas.

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