A
música que virou biblioteca
Incomodado
com a distância existente entre os livros e os jovens
da Cidade Tiradentes, bairro onde mora, o rapper Adalberto
da Silva, conhecido como Betinho, resolveu lançar uma
música exótica se levados em conta os padrões
locais, intitulada "Vamos Ler um Livro". Não
podia imaginar que a música fosse acabar virando uma
biblioteca.
"Procure
se informar/ Não seja o mestre da burrice/ São
tantos que falam merda/ Isso enjoa é um tomento/ Procure
ler um livro/ Pois é a máquina do tempo."
Tocada nos shows de rap, a música até que pegou,
mas Betinho percebeu o erro: "Estávamos cobrando
leitura de quem dificilmente consegue ir a uma biblioteca",
constatou.
Nascido
na Paraíba e criado na periferia de Recife (veio a
São Paulo quando era adolescente), Betinho e seus parceiros
do grupo Mucambo aproveitaram os shows e pediram doações
para a construção de uma biblioteca comunitária.
"Começou meio na brincadeira".
Conseguiram
recursos para inaugurar, neste ano, a biblioteca comunitária
Solano Trindade (o nome é uma homenagem ao poeta negro
pernambucano), que será administrada pelos próprios
moradores. No primeiro mês, 300 jovens se cadastraram;
agora, já são mais de 700. Sempre que possível
misturam-se ali literatura e música. "É
preciso estudar muito um assunto para compor um rap, não
dá para falar qualquer coisa".
A primeira
dessas misturas Betinho fez quando chegou a São Paulo,
apaixonado apenas por maracatu, frevo e baião. Logo
se encantou com as batidas do movimento hip hop. "Descobri
muita semelhança entre a musicalidade do rap e o repente
nordestino".
Um sonho
musical está em discussão entre os frequentadores
da biblioteca: a criação de um selo cooperativo
para lançar talentos jovens da periferia. Talvez esse
sonho saia do papel mais cedo do que Betinho imagina: a rádio
Brasil 2000 decidiu, na semana passada, que parte do faturamento
da emissora será destinada a uma incubadora de talentos
musicais, especialmente da periferia.
| |
| Subir
| |
|