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Marcelo Coelho
  8 de setembro
  Tudo no lugar
 
   
Foi um grande achado publicitário dizer que Geraldo Alckmin é um candidato "com a cabeça no lugar". Antes de mais nada, porque vemos uma enorme quantidade de malucos no horário eleitoral --aqueles representantes de partidos minúsculos que vociferam ou recitam seus nomes com olhar esgazeado...

Não: Geraldo Alckmin não é desses dementes que nos pedem voto. De certo modo, seu lema da "cabeça no lugar" desqualifica qualquer outra candidatura. Faz com que todos os seus adversários, grandes ou pequenos, se pareçam com os reis da extravagância e do histrionismo que correm à margem da real disputa partidária.

Eu não diria que Romeu Tuma, por exemplo, "não tem a cabeça no lugar". A cabeça está ali. Talvez não das mais ativas e efervescentes, mas topologicamente inatacável.

Tampouco Luíza Erundina aparenta maiores desequilíbrios. Entretanto, não evoca a imagem de quem tem "a cabeça no lugar". Pensamos nela mais como alguém que "tem os pés no chão" --o que dá mais ou menos na mesma coisa, só que com uma diferença: o lema de Alckmin sugere mais o trabalhador intelectual, o homem de gabinete, enquanto Luíza Erundina parece vocacionada a andar em peregrinação pelas ruas sem calçamento da periferia.

"Cabeça no lugar", assim, traz a idéia de centralidade administrativa, de análise fria dos planos municipais, e bem menos a idéia de um contato físico com o eleitorado. "Prefeito serve para prefeitar" --é mais ou menos assim o outro mote da campanha do peessedebista.

Mas o lema de Alckmin serve principalmente como arma dupla contra Marta Suplicy e Paulo Maluf. Nos dois casos, há nuances curiosas a analisar.

Não sei se alguém acredita que Maluf seja "louco". As acusações a ele feitas são de outra natureza. Quando diz ter a cabeça no lugar, Alckmin parece dirigir o foco da campanha não tanto para a questão da moralidade pública, mas para o da megalomania de seu rival à direita. Menos obras, nada dessa besteirada em torno da prisão perpétua, nada de falar em resolver o problema das enchentes ou de concluir as obras do córrego Jacu-Pêssego. (Acho, aliás, que Maluf fala tanto no Jacu Pêssego só para ver a cara de ignorância de todos os jornalistas ou candidatos diante de nome tão exótico).

Muito bem --mas com isso o "realismo", o "equilíbrio" de Alckmin vai como que se esvaindo de sentido. Maluf é péssimo --mas tem uma agenda administrativa. Alckmin tem a cabeça no lugar --mas parece tão fixada no pescoço que suas promessas tendem a convergir para o imobilismo.

A idéia de mudança, de melhoria e de punição --tão típica, não digo do PT, mas até do velho Franco Montoro-- desaparece numa sensaboria bem situacionista, no estilo dos que defendem o governo Covas.

De resto, há um componente psicanalítico no slogan de Alckmin. Tendo em vista os recentes e constantes destemperos de Mário Covas, a idéia de que seu vice "tem a cabeça no lugar" sugere o desconforto de Alckmin diante do governador. É como se, inconscientemente, Alckmin dissesse: "eu, o vice, é que deveria estar no lugar dele."

Chegamos finalmente a Marta Suplicy, essa louquinha. O lema da cabeça no lugar dirige-se contra vários aspectos da candidatura petista. O marido de Marta, Eduardo Suplicy, chegou a interromper uma campanha eleitoral porque estava "procurando seu eixo". Como Eduardo muitas vezes dá a impressão de ter um parafuso a menos, Alckmin surge quase que como o "marido ideal " de Marta nesta campanha. Se ele é honesto, se não é de direita, e é homem, então serviria para que madame Marta possa voltar para casa... ou seja, para que Marta, como mulher, "volte para o seu lugar".

E o "lugar" de Marta, todos sabem, não é a periferia. Como uma mulher rica, de família tradicional, inventa de ir para o PT? Algo está "fora do lugar". E --pensa o eleitor de classe média alta-- como é que eu, que detesto Pitta e companhia, haverei de terminar votando no PT? Não quero! Algo está fora do lugar demais para que, simplesmente querendo um pouco de honestidade, eu termine por eleger a deputada que propõe o casamento entre homossexuais e dava aulas de sexo na TV...

Realmente, Alckmin repõe as coisas nos seus "devidos lugares" para a mentalidade conservadora. Não força ninguém ao fascismo, nem obriga ninguém a repensar as imensas desigualdades de riqueza e de poder que existem na cidade. Deixa tudo no lugar.

Uma última coisa: a ascensão de Alckmin provavelmente vai ter o efeito de impor ao PT e à candidatura Marta Suplicy um teste difícil. Pois, até agora, todo o esforço da campanha petista foi de se mostrar confiável para a classe média. Obscureceu-se bastante o risco de uma eventual administração petista, o de que disputas internas e cobranças de militantes atrapalhassem o cotidiano da prefeitura. Se Alckmin subir mais e Marta cair um pouco, é possível que dissensões em torno da tática de campanha apareçam no PT (lembremo-nos do que aconteceu com Erundina) -- e aí, é certo que cabeças vão rolar.


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