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Marcelo Coelho
  29 de setembro
  Sobre o malufismo
 
   
Quem vai para o segundo turno? Quem irá disputar com Marta Suplicy? Quem tem chances de vencer o PT?

Como se sabe, estas são as únicas questões em foco na campanha para a Prefeitura de São Paulo. O empate técnico entre Maluf, Tuma, Erundina e Alckmin terminou gerando um efeito bem ruim, a meu ver.

Pois estas eleições deveriam significar o julgamento de Pitta e de Maluf. É por isso, evidentemente, que Marta está em primeiro lugar. Mesmo assim, a campanha parece ser mais o julgamento do PT do que do malufismo.

A cidade está destruída, o escândalo da máfia dos vereadores foi total, Pitta bate recordes nacionais de impopularidade. E Maluf, apesar da rejeição, passa incólume pela campanha eleitoral. De certo modo, a campanha em seu todo imita o comportamento do próprio Maluf: esquece-se sistematicamente do passado, vira a página, assume um tom de “não é comigo”.

Não digo que uma campanha municipal possa convencer alguém de que a pena de morte é uma estupidez, de que direitos humanos não são “só para bandido”, de que movimento social não é sinônimo de bagunça, enfim, todas as teses que fazem de Maluf um representante do conservadorismo mais profundo e ressentido da população.

O que interessa ressaltar, entretanto, é que o “malufismo” não é apenas um “populismo de direita”, uma questão de opinião política, de ideologia conservadora.

Maurício Puls acaba de publicar, na coleção “Folha Explica”, um bem documentado livro sobre o malufismo. Narra com imparcialidade a trajetória política de Paulo Maluf, nota que o malufismo substituiu o antigo ademarismo, analisa os resultados de várias eleições e identifica, digamos assim, as bases sociais do fenômeno.

Mas a meu ver o livro termina destacando apenas o fato de que Maluf expressaria as opiniões de parcela significativa do eleitorado. Creio que o malufismo é também um método, um sistema, e seria este o ponto que a campanha eleitoral deveria pôr em julgamento.

Desde o início da sua trajetória política, Maluf contou sobretudo consigo mesmo; conquistou os votos dos convencionais da Arena (o partido que sustentava o regime militar) sem ter apoio dos generais no poder.

O procedimento, o método de Maluf, nunca foi apenas o de representar uma tendência de opinião. Isso terminou acontecendo depois; o poder, para o malufismo, é muito menos uma questão de representação política, do que uma coisa que se adquire, que se açambarca contra tudo e contra todos.

Daí a famosa “persistência” de Maluf; é a certeza de que todos irão se dobrar diante do irrecusável apelo, não de suas idéias, não de suas palavras, mas de recursos menos abstratos.

Quando a maioria dos vereadores da Câmara Municipal terminou mantendo Pitta no cargo, graças à negociação fisiológica, é ainda de malufismo que se trata. O poder é uma quantidade de postos administrativos que se compra e se reparte entre o lumpesinato político, com a anuência de parte do eleitorado. Não é apenas o “rouba mas faz”, mas uma idéia muito paulistana da “esperteza” e da “tenacidade” que está em jogo aqui; não é apenas o fisiologismo tradicional, pois este existe em muitos outros partidos.
O fisiologismo clássico envolve a formação de uma estrutura partidária, de uma engrenagem política. O modelo malufista é de uma estrutura empresarial; donde o seu dinamismo incansável.

O PFL aparentemente não suporta Maluf, como não o suportavam muitos representantes do regime militar, porque o autoritarismo, o conservadorismo, o coronelismo, o neoliberalismo não parecem ser valores em si para os malufistas; são instrumentalizados num processo que diz muito mais respeito à lógica privada do que à gestão pública.

Não creio, enfim, que se vote em Maluf apenas porque ele seja conservador ou “carismático” --coisa que ele definitivamente não é; creio que o malufismo representa bem mais a rejeição da própria política enquanto tal --seja coronelista e autoritária, seja reformista e democrática--, em favor de uma concepção na qual o poder é visto como objeto de aquisição privada, as forças policiais como um grupo de “justiceiros” de aluguel, as obras públicas como monumentos ao modo com que foram feitas, e a estrutura administrativa como um loteamento perto dos mananciais.

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