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Marcelo Coelho
  6 de outubro
  Recado? Que recado?
 
   
Com o senso de oportunidade política que o caracteriza, Antonio Carlos Magalhães já saiu atirando feio contra FHC. O presidente teria de entender a "advertência" expressa nas eleições municipais. "Só não aprende aquele que não ouvir o recado das urnas", disse ACM, como se o recado fosse "tirem o Serra do ministério".

Recado? Que recado? Certamente, partidos de oposição cresceram em diversas capitais. Mas acho arriscado tirar qualquer conclusão desse fato.

Tomo o caso de São Paulo. Talvez seja atípico; não sei. O fato é que por aqui as eleições tiveram muito pouco a ver com a situação do governo federal. Fernando Henrique não foi julgado nestas eleições; o interesse do eleitor concentrou-se nos problemas do município.

Esta me parece ser a tendência natural na disputa pelas prefeituras. Durante um período do regime autoritário, quando só havia eleições diretas para prefeitos (e mesmo assim não nas capitais), talvez fosse possível entender com mais clareza um "recado" do eleitor ao governo federal. Agora, não.

Podemos dizer que o PT cresceu. Mas tanto assim? Ou será que estamos tentando novamente generalizar "recados" a partir de situações muito específicas?

De acordo com uma tabela publicada na Folha, temos que o PT elegeu prefeitos em 173 municípios, contra os 110 da eleição anterior. É um aumento expressivo. Mas o PFL, que tinha 934 prefeitos, passou a ter 1025; o PMDB caiu um pouquinho, e o PSDB subiu alguma coisa.

Em número de eleitores, é verdade que o PT cresceu bastante: saiu de 7,8 milhões em 1996 para 11,9 milhões neste ano. Mas o PSDB não perdeu: de cerca de 13 milhões, passou para 13,5. O PMDB também ganhou meio milhão de eleitores, e o PFL cresceu de pouco mais de 10 milhões de votos para quase 13 milhões.

Pode-se interpretar essa estatística de várias maneiras, mas não estou convencido de que FHC tenha muitos recados a ouvir. Que comece a investir no "social", que afrouxe um pouco as restrições da política econômica, é um processo previsível e que não depende da contagem dos votos.

Seus índices de popularidade estavam baixíssimos --bem mais baixos do que se pode deduzir dos resultados eleitorais. A economia, entretanto, vai-se recuperando, a inflação parece não preparar mais sustos e, crescendo ou não o PT, 2002 ainda está muito longe, sem candidato forte da oposição.

Acho que o mais interessante das eleições municipais não é, como eu disse, o avanço numérico do PT, mas talvez o fato de que o partido se legitima como uma oposição mais "confiável". O ex-presidente da Fiesp, Mario Amato, se mostra disposto a votar em Marta Suplicy.

Em sua coluna desta quinta-feira na Folha, Otavio Frias Filho apontou a "social-democratização" do PT; é bem isso. O papel de grande demônio vermelho passou, sem dúvida, a ser representado pelo MST.

Entre Stédile e Rainha, de um lado, e Marta Suplicy ou Tarso Genro, de outro, há uma distância que parece cada vez maior na cabeça do eleitorado de classe média.

Que lição tirar disso? Qual o recado que FHC deve ouvir? Imagino uma coisa, que é impraticável.

Julgando ainda por São Paulo: obviamente os tucanos vão votar em Marta; é provável que quem votou no PFL, aqui, vote em Maluf.

Curiosamente, então, a social-democratização do PT e as eternas rivalidades entre PSDB e PFL tenderiam a originar uma reaproximação dos tucanos com a esquerda. O problema é que isso se torna impraticável no plano federal, onde as opções de política econômica do governo são sustentadas pelos partidos mais conservadores.

É talvez por perceber uma ambivalência desse tipo de ACM parte para o ataque contra Fernando Henrique; ocupa, aparentemente, um lugar de oposição para manter o situacionismo de sempre. E, por enquanto, tudo fica no lugar.

Leia colunas anteriores
29/09/2000 - Sobre o malufismo
22/09/2000 - Ganha quem ganhar
15/09/2000 - Bicadas
08/09/2000 -
Tudo no lugar
1º/09/2000 - Mata o homem

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