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Marcelo Coelho
  13 de outubro
  Descontrole emocional
 
   
Não consigo entender a estratégia de Paulo Maluf neste segundo turno. Será que de fato ele acha que vai ganhar mais votos com o discurso agressivo que dirige contra a sua adversária na eleição paulistana?

Parece tão improvável sua vitória sobre a "dona Marta do PT", que o tom da campanha malufista nestes últimos dias transmite mais uma impressão de desespero que de disposição combativa. Há quem diga que isso seria uma tática para "desestabilizar emocionalmente" a candidata do PT. Tenho dúvidas.

É verdade que, já no último debate, Maluf desconsiderou sua adversária ao dizer que ela estava se descontrolando. Claro: é mulher: então, quando fica brava, está descontrolada... histérica... Há sempre uma expectativa desse tipo em torno do casal chique do PT paulistano. Eduardo Suplicy já interrompera uma campanha eleitoral para reencontrar "seu eixo". Algum desequilíbrio --este o raciocínio malufista-- eles devem ter.

Afinal, como podem ser ricos e petistas? Como podem ser tão obcecados por ética neste mundo competitivo? Como podem ser tão "bonzinhos", se não ao preço de alguma grave descompensação emocional? Seria o caso, então, de explorar a fragilidade de Marta e Eduardo...

Mas o efeito dessa tática, se é que se trata de uma tática, é bem o inverso do que se pretende. Fica parecendo que o verdadeiro descontrolado emocional é Paulo Maluf.

Abandonado até pelos marqueteiros, ele vê renascer uma onda de rejeição a seu nome que há muito não conhecia. O esforço de anos no sentido de melhorar a sua imagem cai por terra. De Lula a Mário Amato, passando por Covas, Quércia, Antônio Ermírio e Romeu Tuma, estão todos contra Maluf.

E ele pergunta, com razão: "como é que pode?" Em linhas gerais, Maluf apóia o governo FHC. Os tucanos, entretanto, preferem sustentar a candidatura do PT. A traição, a seus olhos, é clara e irracional.

Numa reação simétrica, Maluf resolve então reatar consigo mesmo. Não é mais o "administrador competente", capaz de iniciativas na área social, pronto a esquecer o passado, a tornar-se simpático, a convidar comunistas --comunistas!-- para o secretariado. Volta a ser o homem só, incapaz de perceber outra coisa no mundo que não a sua própria vontade de conquistar o poder.

Repetitivo, monótono, robótico, parte para o ataque, sem mais se preocupar com o "marketing". Segue o modelo da Rota: sai atirando.

Criticou a latitude das alianças em favor de Marta; disse a candidatura petista vai se assemelhando a uma "arca de Noé". Seria o caso de comentar: depois de Pitta, o dilúvio.

Esse tipo de crítica não funciona por dois motivos. Primeiro, porque vem apenas ressaltar o isolamento político em que Maluf se encontra.

Segundo, porque um dos maiores problemas do PT foi sempre o sectarismo, a intolerância, o próprio isolamento numa faixa ideológica restrita. Queiram ou não os xiitas, o fato é que a candidatura Marta vai tendo o significado antimalufista genérico que teve a candidatura de Tancredo no colégio eleitoral.

Nada melhor para quem aposta no advento de um PT "cor-de-rosa", menos aguerrido e dogmático. Ora, essa imagem se fortalece quanto mais Maluf criticar as alianças de dona Marta.

Sinceramente, seria melhor para Maluf aparecer como um adversário equilibrado, aquele cujos programas administrativos são concretos e realistas, aquele que foi injustiçado por um oba-oba emocional. Poderia sair derrotado com mais dignidade. E esperar até que a administração petista comece a sofrer seu desgaste natural. Nada mais característico de Maluf, contudo, do que não se conformar com uma derrota; graças a isso, aliás, deve sua sobrevivência política. Só que, em vez da teimosia triunfal e cega que sempre foi sua marca, vemos simplesmente a sua raiva, o seu rancor.

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29/09/2000 - Sobre o malufismo
22/09/2000 - Ganha quem ganhar
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