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Não consigo entender a estratégia de Paulo Maluf neste segundo turno.
Será que de fato ele acha que vai ganhar mais votos com o discurso
agressivo que dirige contra a sua adversária na eleição paulistana?
Parece tão improvável sua vitória sobre a "dona Marta do PT", que
o tom da campanha malufista nestes últimos dias transmite mais uma
impressão de desespero que de disposição combativa. Há quem diga que
isso seria uma tática para "desestabilizar emocionalmente" a candidata
do PT. Tenho dúvidas.
É verdade que, já no último debate, Maluf desconsiderou sua adversária
ao dizer que ela estava se descontrolando. Claro: é mulher: então,
quando fica brava, está descontrolada... histérica... Há sempre uma
expectativa desse tipo em torno do casal chique do PT paulistano.
Eduardo Suplicy já interrompera uma campanha eleitoral para reencontrar
"seu eixo". Algum desequilíbrio --este o raciocínio malufista-- eles
devem ter.
Afinal, como podem ser ricos e petistas? Como podem ser tão obcecados
por ética neste mundo competitivo? Como podem ser tão "bonzinhos",
se não ao preço de alguma grave descompensação emocional? Seria o
caso, então, de explorar a fragilidade de Marta e Eduardo...
Mas o efeito dessa tática, se é que se trata de uma tática, é bem
o inverso do que se pretende. Fica parecendo que o verdadeiro descontrolado
emocional é Paulo Maluf.
Abandonado até pelos marqueteiros, ele vê renascer uma onda de rejeição
a seu nome que há muito não conhecia. O esforço de anos no sentido
de melhorar a sua imagem cai por terra. De Lula a Mário Amato, passando
por Covas, Quércia, Antônio Ermírio e Romeu Tuma, estão todos contra
Maluf.
E ele pergunta, com razão: "como é que pode?" Em linhas gerais, Maluf
apóia o governo FHC. Os tucanos, entretanto, preferem sustentar a
candidatura do PT. A traição, a seus olhos, é clara e irracional.
Numa reação simétrica, Maluf resolve então reatar consigo mesmo. Não
é mais o "administrador competente", capaz de iniciativas na área
social, pronto a esquecer o passado, a tornar-se simpático, a convidar
comunistas --comunistas!-- para o secretariado. Volta a ser o homem
só, incapaz de perceber outra coisa no mundo que não a sua própria
vontade de conquistar o poder.
Repetitivo, monótono, robótico, parte para o ataque, sem mais se preocupar
com o "marketing". Segue o modelo da Rota: sai atirando.
Criticou a latitude das alianças em favor de Marta; disse a candidatura
petista vai se assemelhando a uma "arca de Noé". Seria o caso de comentar:
depois de Pitta, o dilúvio.
Esse tipo de crítica não funciona por dois motivos. Primeiro, porque
vem apenas ressaltar o isolamento político em que Maluf se encontra.
Segundo, porque um dos maiores problemas do PT foi sempre o sectarismo,
a intolerância, o próprio isolamento numa faixa ideológica restrita.
Queiram ou não os xiitas, o fato é que a candidatura Marta vai tendo
o significado antimalufista genérico que teve a candidatura de Tancredo
no colégio eleitoral.
Nada melhor para quem aposta no advento de um PT "cor-de-rosa", menos
aguerrido e dogmático. Ora, essa imagem se fortalece quanto mais Maluf
criticar as alianças de dona Marta.
Sinceramente, seria melhor para Maluf aparecer como um adversário
equilibrado, aquele cujos programas administrativos são concretos
e realistas, aquele que foi injustiçado por um oba-oba emocional.
Poderia sair derrotado com mais dignidade. E esperar até que a administração
petista comece a sofrer seu desgaste natural. Nada mais característico
de Maluf, contudo, do que não se conformar com uma derrota; graças
a isso, aliás, deve sua sobrevivência política. Só que, em vez da
teimosia triunfal e cega que sempre foi sua marca, vemos simplesmente
a sua raiva, o seu rancor.
Leia colunas anteriores
06/10/2000 - Recado? Que recado?
29/09/2000 - Sobre o malufismo
22/09/2000 - Ganha quem ganhar
15/09/2000 - Bicadas
08/09/2000 - Tudo
no lugar
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