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Marcelo Coelho
  20 de outubro
  Ôôô Dona Marta!
 
   
Não assisti a todo o debate entre Marta Suplicy e Paulo Maluf. Não consegui. Me fez mal. Desliguei a TV quando ia começar o último bloco.

Nesta quinta-feira, saíram as pesquisas apontando crescimento de Maluf e queda de Marta; a diferença entre eles diminuiu 9 pontos percentuais. Não se sabe direito o quanto o debate influiu nesse resultado.

Antes da divulgação desses números, entretanto, eu estava notando um clima de oba-oba entre os simpatizantes de Marta. Aquela história do "cala a boca, Maluf!" : a frase, pronunciada logo no início do debate, ia virando slogan de campanha. "Finalmente" --parecia ser esta a opinião dominante-- "alguém enfrenta o homem"; "é a pá de cal no malufismo".

Senti-me um pouco isolado ao achar que Marta não tinha ido bem no debate. Sem dúvida, acertou vários golpes contra Maluf; mas levou outros tantos. Até aí, normal.

O que me pareceu ruim no desempenho da candidata petista foi que em poucos momentos ela própria se sentiu superior ao adversário. Os dois se nivelaram. Discutiu-se o número de hospitais e piscinões. Fez! Não fez! No meio do bate-boca, números importantes surgiram, e não foram contestados por Maluf.

Por exemplo, que a criminalidade de fato aumentou durante a gestão de Maluf na prefeitura. Com sua impavidez metálica, Maluf só respondia dizendo que agora há mais homicídios do que antes --o que nada indica a respeito de sua capacidade como gerador de segurança para o cidadão.

Outro número importante foi o de que os investimentos em obras na Zona Leste feitos por Maluf foram bem menores do que os feitos na área nobre da cidade --onde, segundo Marta, o IPTU subiu menos.

Mas números, obras, projetos para o Pariquera-Açu e o Jacu-Pêssego não são o forte de Marta Suplicy. Por mais que ela os tivesse em mãos, parecia insegura para discutir com Maluf nesse campo.

E Maluf conseguiu o que queria: mostrar que seria um candidato com mais "competééén-cia adiminishtra-tiiiiva" do que Marta.

O problema de Maluf não é refutar as denúncias que pesam sobre seu comportamento e o de Pitta. É simplesmente dar argumentos para quem quer votar nele e não sabe como justificar o voto. Tanto assim que entre os eleitores de Romeu Tuma o crescimento de Maluf foi bem grande depois do debate.

A inatacabilidade ética de Marta Suplicy começa a valer menos pontos, agora, exatamente pelo fato de que todos a consideram favoritíssima para ganhar a eleição. Marta começa a ser julgada, não como candidata, mas como prefeita.

E a mim pareceram muito vagas suas propostas para a cidade.

Claro que, mais do que propostas mirabolantes, valem muito a disposição política e o bom-senso.

Justamente Marta mostrou bom-senso ao reagir contra a demagogia de Maluf em torno do "bandido tem que ir para a cadeia". Joga lá e pronto. Marta argumentou que não adianta fazer da cadeia um depósito de onde os presos saem piores do que entraram.

Só que essa atitude de "bom senso" contrastou com a impulsividade da candidata e com sua sanha para entrar no bate-boca. Aí aconteceu o melhor que Maluf poderia esperar: o odioso rótulo que emprega para referir-se à adversária -- o "Dona Marta"-- colou.

Esse "Dona Marta" é parente próximo do "Dona Maria" com que são xingadas as más motoristas na cidade. Joga a candidata do PT não só na vala comum das "mulheres", mas remete simultaneamente ao mundo do grã-finismo, da "patroa", e ao ambiente do cortiço. E quando Marta reagia chamando Maluf de "você", numa linha "ô, Maluf!", entrou no jogo.

Ela só se saiu bem quando lançou um "olhar número 5" de desprezo ao adversário, dizendo que ele não tinha coragem de acusá-la em pontos da vida pessoal.

Conversando com dois amigos petistas, antes dos resultados da pesquisa, senti-me quase que compartilhando um segredo ao dizer que não tinha gostado do desempenho de Marta. Eles concordavam, mas diziam estar em minoria nos meios partidários.

Fiquei pensando depois se não foi machismo de nossa parte essa avaliação. Se, de alguma forma, a idéia de uma mulher atraente, "de classe", esbravejando e chutando canela não incomodava nossas mentalidades pouco modernas. Pode ter sido um erro nosso. Mas, do ponto de vista eleitoral, esse machismo não é um aspecto irrelevante.

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06/10/2000 - Recado? Que recado?

29/09/2000 - Sobre o malufismo
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