Não assisti a todo o debate entre Marta Suplicy e Paulo Maluf.
Não consegui. Me fez mal. Desliguei a TV quando ia começar
o último bloco.
Nesta
quinta-feira, saíram as pesquisas apontando crescimento de
Maluf e queda de Marta; a diferença entre eles diminuiu 9
pontos percentuais. Não se sabe direito o quanto o debate
influiu nesse resultado.
Antes
da divulgação desses números, entretanto, eu
estava notando um clima de oba-oba entre os simpatizantes de Marta.
Aquela história do "cala a boca, Maluf!" : a frase,
pronunciada logo no início do debate, ia virando slogan de
campanha. "Finalmente" --parecia ser esta a opinião
dominante-- "alguém enfrenta o homem"; "é
a pá de cal no malufismo".
Senti-me
um pouco isolado ao achar que Marta não tinha ido bem no
debate. Sem dúvida, acertou vários golpes contra Maluf;
mas levou outros tantos. Até aí, normal.
O que
me pareceu ruim no desempenho da candidata petista foi que em poucos
momentos ela própria se sentiu superior ao adversário.
Os dois se nivelaram. Discutiu-se o número de hospitais e
piscinões. Fez! Não fez! No meio do bate-boca, números
importantes surgiram, e não foram contestados por Maluf.
Por
exemplo, que a criminalidade de fato aumentou durante a gestão
de Maluf na prefeitura. Com sua impavidez metálica, Maluf
só respondia dizendo que agora há mais homicídios
do que antes --o que nada indica a respeito de sua capacidade como
gerador de segurança para o cidadão.
Outro
número importante foi o de que os investimentos em obras
na Zona Leste feitos por Maluf foram bem menores do que os feitos
na área nobre da cidade --onde, segundo Marta, o IPTU subiu
menos.
Mas
números, obras, projetos para o Pariquera-Açu e o
Jacu-Pêssego não são o forte de Marta Suplicy.
Por mais que ela os tivesse em mãos, parecia insegura para
discutir com Maluf nesse campo.
E Maluf
conseguiu o que queria: mostrar que seria um candidato com mais
"competééén-cia adiminishtra-tiiiiva"
do que Marta.
O problema
de Maluf não é refutar as denúncias que pesam
sobre seu comportamento e o de Pitta. É simplesmente dar
argumentos para quem quer votar nele e não sabe como justificar
o voto. Tanto assim que entre os eleitores de Romeu Tuma o crescimento
de Maluf foi bem grande depois do debate.
A inatacabilidade
ética de Marta Suplicy começa a valer menos pontos,
agora, exatamente pelo fato de que todos a consideram favoritíssima
para ganhar a eleição. Marta começa a ser julgada,
não como candidata, mas como prefeita.
E a
mim pareceram muito vagas suas propostas para a cidade.
Claro
que, mais do que propostas mirabolantes, valem muito a disposição
política e o bom-senso.
Justamente
Marta mostrou bom-senso ao reagir contra a demagogia de Maluf em
torno do "bandido tem que ir para a cadeia". Joga lá
e pronto. Marta argumentou que não adianta fazer da cadeia
um depósito de onde os presos saem piores do que entraram.
Só
que essa atitude de "bom senso" contrastou com a impulsividade
da candidata e com sua sanha para entrar no bate-boca. Aí
aconteceu o melhor que Maluf poderia esperar: o odioso rótulo
que emprega para referir-se à adversária -- o "Dona
Marta"-- colou.
Esse
"Dona Marta" é parente próximo do "Dona
Maria" com que são xingadas as más motoristas
na cidade. Joga a candidata do PT não só na vala comum
das "mulheres", mas remete simultaneamente ao mundo do
grã-finismo, da "patroa", e ao ambiente do cortiço.
E quando Marta reagia chamando Maluf de "você",
numa linha "ô, Maluf!", entrou no jogo.
Ela
só se saiu bem quando lançou um "olhar número
5" de desprezo ao adversário, dizendo que ele não
tinha coragem de acusá-la em pontos da vida pessoal.
Conversando
com dois amigos petistas, antes dos resultados da pesquisa, senti-me
quase que compartilhando um segredo ao dizer que não tinha
gostado do desempenho de Marta. Eles concordavam, mas diziam estar
em minoria nos meios partidários.
Fiquei
pensando depois se não foi machismo de nossa parte essa avaliação.
Se, de alguma forma, a idéia de uma mulher atraente, "de
classe", esbravejando e chutando canela não incomodava
nossas mentalidades pouco modernas. Pode ter sido um erro nosso.
Mas, do ponto de vista eleitoral, esse machismo não é
um aspecto irrelevante.
Leia colunas anteriores
13/10/2000 - Descontrole emocional
06/10/2000 - Recado? Que recado?
29/09/2000 - Sobre o malufismo
22/09/2000 - Ganha quem ganhar
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