NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Carlos Sarli
Cida Santos
Clóvis Rossi
Eduardo Ohata
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
José Henrique Mariante
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Melchiades Filho
Nelson de Sá
Régis Andaku
Rodrigo Bueno
Vaguinaldo Marinheiro

Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  18 de maio
  Orquestra típica
   
   

Sou de um tempo em que os guris aprendiam duas coisas básicas. Na igreja, a renunciar ao diabo, ao mundo e à carne. Nos estádios, a detestar a seleção argentina. Odiavamos aqueles gringos de camisa azul e branco, calção preto, pernas branquelas, que representavam nosso maior e talvez único inimigo visível no planeta.
Perdíamos as copas Rocas na escalação. Como resistir aos Massantonios, Sastres, Pederneras, Peuceles, Della Mattas? Fomos terceiros do mundo na Copa de 38. Mas os últimos da face da Terra quando, logo depois, a Argentina nos enfiou acachapantes cinco a zero.
Em São Januário, numa rixa memorável, zero a zero no placar, o juiz marca pênalti contra a Argentina. Em sinal de protesto, os argentinos ( que os locutores de rádio chamavam de portenhos) saíram de campo. A penalidade seria cobrada contra o gol vazio. E aí foi o drama: ninguém queria bater o pênalti. As canelas nacionais tremiam diante da possibilidade de a bola não entrar no arco abandonado. Erguera-se na linha divisória do gol a muralha de nosso pânico.
Nunca fiz muita fé na camaradagem neoliberal entre brasileiros e argentinos, que afinal, formam a base de sustentação do Mercosul. Não gosto de azarar. Mas, sinceramente, acho que na primeira marcação de um pênalti duvidoso, num gol feito em impedimento clamoroso durante um jogo de campeonato mundial ou regional, a fraternidade entre os dois povos irmãos pode ir pelos ares.
Daí que, em relação aos nossos queridos vizinhos, embora reconhecendo que sou espírito de porco, acho que devemos seguir o conselho de Floriano Peixoto: confiar desconfiando. Desconfio que eles fazem o mesmo.


Leia colunas anteriores
16/5/2000 - Maiúscula e minúscula
11/5/2000 - Assunto pessoal: as mãos
09/5/2000 - O macaco e o galho
04/5/2000 -
Vizinhos e internautas
02/5/2000
- Dos deuses antigos


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.