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Fui
tratar um problema de minha filha, que mora na Itália, e
acabei dando com a pouca paciência num guichê do Ministério
da Fazenda, justo na divisa entre a cidade de Roma e o estado do
Vaticano. Como o equador e o limite entre o Bem e o Mal, ali a linha
divisória é imaginária: alguns guichês
pertencem ao estado italiano, outros são vaticanenses - ia
escrevendo "vaticínios", lembro um deputado que
declarou da tribuna: "Deixemos o Brasil para os brasileiros
e os vaticínios para o Vaticano!"
Resolvida
a questão sem mortos nem feridos mas com ameaças recíprocas
de uns e de outros, fui tomar um café e só então
reparei que era quarta-feira, dia em que o papa dá bênção
aos fiéis na Praça de São Pedro, que já
estava cheia de turistas. Para ser exato: de japoneses, que quando
estão na Via Condotti são chamados de gafanhotos e
ali na praça são chamados de "peregrinos".
A função faz o nome.
A
chuva caía rala quando uma voz, imensa e poderosa, que parecia
vir do céu, avisou que o papa amanhecera constipado e o médico
o proibira de aparecer na janela.
Nem
assim os turistas (ou peregrinos) japoneses perderam a manhã.
Sem compreenderem o que o alto-falante avisava, imaginaram que aquela
voz era a própria bênção pontifícia,
alguns se persignaram, a maioria tirou fotos daquela janela lá
em cima. Como todo turista, o importante é tirar fotos. Mais
tarde, com os filmes revelados, eles ficam sabendo se a viagem foi
boa.
Duas
jovens se aproximam, pedem com gestos que lhes tire uma foto. Apresentam-me
a máquina, uma pentax que só falta fazer chover. Penso
que desejam ter a bela cúpula de Michelangelo como fundo.
Me corrigem. Apanham um gato que, não sendo turista nem peregrino,
lambia uma tijela de leite na calçada. Elas vieram a Roma,
não viram o papa mas certamente gostarão da foto.
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Orquestra típica
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09/5/2000 - O macaco e o galho
04/5/2000 - Vizinhos
e internautas
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