NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Carlos Sarli
Cida Santos
Clóvis Rossi
Eduardo Ohata
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
José Henrique Mariante
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Melchiades Filho
Nelson de Sá
Régis Andaku
Rodrigo Bueno
Vaguinaldo Marinheiro

Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  23 de maio
  O papa e o gato
   
   

Fui tratar um problema de minha filha, que mora na Itália, e acabei dando com a pouca paciência num guichê do Ministério da Fazenda, justo na divisa entre a cidade de Roma e o estado do Vaticano. Como o equador e o limite entre o Bem e o Mal, ali a linha divisória é imaginária: alguns guichês pertencem ao estado italiano, outros são vaticanenses - ia escrevendo "vaticínios", lembro um deputado que declarou da tribuna: "Deixemos o Brasil para os brasileiros e os vaticínios para o Vaticano!"
Resolvida a questão sem mortos nem feridos mas com ameaças recíprocas de uns e de outros, fui tomar um café e só então reparei que era quarta-feira, dia em que o papa dá bênção aos fiéis na Praça de São Pedro, que já estava cheia de turistas. Para ser exato: de japoneses, que quando estão na Via Condotti são chamados de gafanhotos e ali na praça são chamados de "peregrinos". A função faz o nome.
A chuva caía rala quando uma voz, imensa e poderosa, que parecia vir do céu, avisou que o papa amanhecera constipado e o médico o proibira de aparecer na janela.
Nem assim os turistas (ou peregrinos) japoneses perderam a manhã. Sem compreenderem o que o alto-falante avisava, imaginaram que aquela voz era a própria bênção pontifícia, alguns se persignaram, a maioria tirou fotos daquela janela lá em cima. Como todo turista, o importante é tirar fotos. Mais tarde, com os filmes revelados, eles ficam sabendo se a viagem foi boa.
Duas jovens se aproximam, pedem com gestos que lhes tire uma foto. Apresentam-me a máquina, uma pentax que só falta fazer chover. Penso que desejam ter a bela cúpula de Michelangelo como fundo. Me corrigem. Apanham um gato que, não sendo turista nem peregrino, lambia uma tijela de leite na calçada. Elas vieram a Roma, não viram o papa mas certamente gostarão da foto.


Leia colunas anteriores
18/5/2000 - Orquestra típica
16/5/2000 - Maiúscula e minúscula
11/5/2000 - Assunto pessoal: as mãos
09/5/2000 - O macaco e o galho
04/5/2000 -
Vizinhos e internautas

 


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.