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Duas
gerações, pelo menos, já passaram pela face da Terra nesses 50 anos
de vida do estádio Mário Filho, mais conhecido como Maracanã. E
ainda não se pode dizer que é um ícone sentimental do povo brasileiro,
nem mesmo do povo carioca.
Certo que temos orgulho dele, é o maior do mundo, não há estrangeiro
que visite o Rio e, após a ida ao Corcovado e ao Pão de Açúcar,
não dê uma espiada naquele que os cronistas mais inspirados chamam
de "templo do futebol". O presidente da Itália, recentemente, num
compromisso oficial de dois dias na cidade, arranjou um tempinho
para ir conhecer o campo, fez questão de bater um pênalti, que um
goleiro improvisado deixou entrar.
Mas apesar das duas gerações que já passaram por ele, o estádio
guarda em sua memória de concreto um fantasma, um espectro inamovível.
Foi ali que se materializou uma das maiores frustrações nacionais.
Não importa que dos 50 milhões de brasileiros, que viviam na ocasião
daquela final da Copa do Mundo, quase todos tenham morrido. São
poucos os sobreviventes.
Mas a derrota contra o Uruguai entrou em nossos cromossomos, faz
parte do DNA de cada brasileiro. O Paulo Perdigão, um dos sobreviventes,
já escreveu dois livros sobre aquele dia fatídico e, havendo tempo,
escreverá mais. Ele fala por todos, vivos e mortos, brasileiros
antigos, presentes e futuros.
Enorme e vitalizado por uma competente reforma, o Maracanã é orgulho
nosso mas não é amor.
Não perdoaremos jamais aquela tarde, aquele silêncio que caiu sobre
os 50 milhões de brasileiros espalhados pelo território nacional.
Hoje somos 160 milhões, amanhã seremos 200, 300 milhões.
Nunca esqueceremos que ali nos tiraram o pão da boca, a boca que
guardou o grito que não demos, o hino que não cantamos.
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