NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Carlos Sarli
Cida Santos
Clóvis Rossi
Eduardo Ohata
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
José Henrique Mariante
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Melchiades Filho
Nelson de Sá
Régis Andaku
Rodrigo Bueno
Vaguinaldo Marinheiro

Carlos Heitor Cony
cony@uol.com.br
  13 de junho
  Santo Antônio
   
   

Sou devoto de Santo Antônio, herança maior que meu pai me deixou. Apesar de agnóstico, de não crer sobretudo nos homens, acredito nos santos, pelo menos em dois deles: Santo Antônio e São José, embora por motivos e necessidades diferentes.
Num velho livro de José Carlos Macedo Soares, fiquei sabendo que Santo Antônio era militar e até recebia soldo. Na Bahia, o santo é tenente-coronel. Em Goiás, capitão.Em São Paulo, coronel. Para compensar, Santo Antônio é soldado raso na Paraíba e major em Santa Catarina. Aqui no Rio é também tenente-coronel e em Minas simples alferes, como o Tiradentes.
Durante a Guerra dos Palmares, dom João da Cunha Souto Mayor madou Santo Antônio se alistar e dom João V o promoveu a tenente em 1717. Dando baixa no serviço militar, vamos encontrar o santo de Pádua como vereador em Iguarassu e suplente de senador em Montes Azuis.
No final do século passado, Santo Antônio foi processado e condenado como latifundiário, na Bahia, porque possuia terra e escravos na fazenda de Queimadas. Respondeu a juízo e perdeu aqueles bens.
Já no regime republicano, o santo foi dono de um morro homônimo que entupia o centro da cidade e que foi a causa da desgraça de sucessivos prefeitos cariocas.
Há débitos fiscais do santo em diversas varas da Fazenda Pública e nas delegacias do Tesouro Nacional. Parece que os procuradores do santo, aqui na terra, procuraram ficar ricos por conta próprio e quem está com os bens penhorados é o santo.
Oficialmente, os meirinhos que de tempos em tempos vão cumprir os mandados de apreensão e busca, retornam aos cartórios com a informação que é a mesma há mais de três séculos: o santo não se encontra nos lugares indicados pelos processos, nem deixou pardeiro. Numa comarca de Minas, há mandato de prisão contra o santo.Qualquer cabo de polícia que o encontrar na jurisdição, entre 6 da manhã e 6 da tarde, pode prendê-lo e levá-lo ao xadrez.
Como não acreditar num santo desses, que, de quebra, ainda me ajuda a quebrar infinitos galhos?

Leia em Almanaque texto de 1935 sobre Santo Antônio.


Leia colunas anteriores
06/06/2000 - O barril e a esmola
01/06/2000 -
A cela profanada
30/05/2000 - Bom assunto
25/05/2000 - A sombra das bananeiras
23/05/2000 - O papa e o gato


 


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.