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Sou
devoto de Santo Antônio, herança maior que meu pai me deixou. Apesar
de agnóstico, de não crer sobretudo nos homens, acredito nos santos,
pelo menos em dois deles: Santo Antônio e São José, embora por motivos
e necessidades diferentes.
Num velho livro de José Carlos Macedo Soares, fiquei sabendo que
Santo Antônio era militar e até recebia soldo. Na Bahia, o santo
é tenente-coronel. Em Goiás, capitão.Em São Paulo, coronel. Para
compensar, Santo Antônio é soldado raso na Paraíba e major em Santa
Catarina. Aqui no Rio é também tenente-coronel e em Minas simples
alferes, como o Tiradentes.
Durante a Guerra dos Palmares, dom João da Cunha Souto Mayor madou
Santo Antônio se alistar e dom João V o promoveu a tenente em 1717.
Dando baixa no serviço militar, vamos encontrar o santo de Pádua
como vereador em Iguarassu e suplente de senador em Montes Azuis.
No final do século passado, Santo Antônio foi processado e condenado
como latifundiário, na Bahia, porque possuia terra e escravos na
fazenda de Queimadas. Respondeu a juízo e perdeu aqueles bens.
Já no regime republicano, o santo foi dono de um morro homônimo
que entupia o centro da cidade e que foi a causa da desgraça de
sucessivos prefeitos cariocas.
Há débitos fiscais do santo em diversas varas da Fazenda Pública
e nas delegacias do Tesouro Nacional. Parece que os procuradores
do santo, aqui na terra, procuraram ficar ricos por conta próprio
e quem está com os bens penhorados é o santo.
Oficialmente, os meirinhos que de tempos em tempos vão cumprir os
mandados de apreensão e busca, retornam aos cartórios com a informação
que é a mesma há mais de três séculos: o santo não se encontra nos
lugares indicados pelos processos, nem deixou pardeiro. Numa comarca
de Minas, há mandato de prisão contra o santo.Qualquer cabo de polícia
que o encontrar na jurisdição, entre 6 da manhã e 6 da tarde, pode
prendê-lo e levá-lo ao xadrez.
Como não acreditar num santo desses, que, de quebra, ainda me ajuda
a quebrar infinitos galhos?
Leia em Almanaque texto de 1935 sobre Santo Antônio.
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O barril e a esmola
01/06/2000 -
A cela profanada
30/05/2000 - Bom assunto
25/05/2000 - A sombra das bananeiras
23/05/2000 - O papa e o gato
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