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Zombavam
de Diógenes. Além de morar num barril, volta e meia
era visto pedindo esmolas às estátuas. Cegas por serem
estátuas, eram duplamente cegas porque não tinham
olhos - uma das características dos escultores gregos. Pela
forma é que se penetrava na alma das estátuas, não
pelo olhos.
Perguntaram a Diógenes porque pedia esmola às estátuas
inanimadas, de olhos vazios. Ele respondia que estava se habituando
à recusa. Pedindo a quem não o via nem o sentia, ele
se habituava a não ser atendido.
É mais ou menos uma imagem que pode ser usada para definir
as relações entre a sociedade e o poder. Tal como
as estátuas gregas, o poder tem os olhos vasados, só
olha para dentro de si mesmo, de seus interesses de continuidade
e de mais poder.
A sociedade, em linhas gerais, não chega a morar num barril.
Uma pequena minoria mora em coisa mais substancial. A maioria mora
em espaços um pouco maiores do que um barril. E ha gente
que nem consegue um barril para morar, fica mesmo embaixo da ponte
ou por cima das calçadas.
Morando em coisa melhor, igual ou pior do que um barril, a sociedade
tem necessidade de pedir não exatamente esmolas ao poder,
mas medidas de segurança, emprego, saúde e educação.
Dispõe de vários canais para isso mas todos se concentram,
na etapa final, numa estátua fria, de olhos que nem estão
fechados: estão vazios.
Pupilas vasadas que nada olham. Ou que olham errado - como no caso
de Maria Antonieta, que sugeriu ao povo comer brioches à
falta de pão.
Não sei por que lembrei o cinismo sábio de Diógenes
e o cinismo burro de Maria Antonieta. Acho que tem a ver com um
tipo de cinismo que nem é sábio nem burro. É
um cinismo cruel, usado hoje em dia pelas autoridades brasileiras.
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A cela profanada
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