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RIO
DE JANEIRO - Ninguém me contou: eu vi. O sujeito caminhava
pela orla da Lagoa, num passo esforçado, a camisa sem mangas empapada
de suor, a respiração de quem vinha de longe e ia para mais longe
ainda.
De repente, um outro homem que vinha em sentido contrário deu-lhe
um soco. Os dois rolaram no chão. A coisa mais próxima deles era
eu. Podia fazer alguma coisa mas preferi ver como aquilo iria acabar.
Deviam ter seus motivos, o que batia e o que apanhava. Não sou de
me meter em brigas alheias, e só brigo quando não tenho alternativa.
Parei numa distância prudente e fiquei apreciando. Os dois deviam
ser conhecidos antigos. Mais: deviam ter algum tipo de intimidade.
Nada diziam, apenas se esbofeteavam, tentavam se esganar um ao outro.
Briga por mulher? Por dívida não paga? Não dava para ver a cara
deles, de maneira que fiquei nessas duas hipóteses, ambas justificavam
aquela luta que de repente parou. Ainda sentados no chão, os dois
me olharam, como se descobrissem que alguém estava vendo o vexame
que davam.
Levantaram-se, limparam a terra que se grudara nos corpos suados,
um deles sangrava na boca. Olharam mais uma vez para mim, como se
eu fosse o culpado de tudo, ou tivesse estragado uma festa deles.
E voltaram a caminhar, um para cada lado.
Aí quem ficou com o problema fui eu. Para que lado deveria ir? Se
acompanhasse um deles, poderia significar uma espécie de solidariedade
e amanhã o outro camarada poderia me agredir por conta disso. De
maneira que tomei a iniciativa de ficar parado, esperando que os
dois se afastassem.
Até que senti um peso na consciência. Eu devia ter entrado na briga
também, batendo e apanhando, como nos filmes do cinema mudo, em
que todos brigavam por brigar. Seria uma forma de purgar meus pecados.
Talvez seguisse meu caminho sem uma culpa a menos.
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15/06/2000
- No mesmo barco
13/06/2000 - Santo Antônio
06/06/2000
- O barril e a esmola
01/06/2000 - A cela profanada
30/05/2000 - Bom assunto
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