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Desqualificar o adversário é tática que não foi inventada pelos atuais governantes. O demônio a adotou, considerando o ataque como a melhor defesa. Li num velho manual de exorcismo que, durante a Idade Média, quando havia muitos endemoniados soltos pelo mundo, um velho frade foi exorcizar uma jovem que estava possuída.
Chegando à cabana onde a moça rolava pelo chão proferindo blafêmias, o frade foi recebido com insultos pelo demônio que falava pela boca da mulher: "Quem é esse fdp que vem se meter comigo? Ele assassinou o pai para ficar com a herança!" O frade ficou pálido de espanto, como o poeta que ouviu estrelas, e esclareceu: "Mas fiz penitência".
O demônio voltou a atacar: "Ele estuprou a mãe e violentou a irmã!" O frade ficou encabulado e se defendeu: "Mas fiz penitência". Novamente o demônio revelou os podres do adversário: "Ele roubou o ouro de um convento na Ligúria e o gastou em orgias com sodomitas!" E foi acusando o religioso de outros e cabeludos pecados. Até que o frade achou melhor adiar o exorcismo.
No complicado exorcismo dos débitos nacionais, o governo é acusado de muitos pecados. A cada vez que não encontra argumento para explicar o desemprego, a falência na saúde e na educação, o déficit externo e a violência interna, ele adota o cômodo bordão de que está mantendo a inflação sob controle. É que nem a penitência do frade.
Países ricos, que também já tiveram inflação pesada, assumiram taxas inflacionárias suportáveis e continuaram a prover as necessidades sociais de seus cidadãos.
A inflação, que o governo diz ter acabado, funciona como nesta história que contei. Com uma diferença. Quem peca é o governo. Quem faz penitência somos nós.
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