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  17 de novembro
  Mais um Natal do peru
 
O Natal está chegando. É nesta data que se comemora, além do nascimento de Cristo, o ressurgimento do peru à mesa.

Mudando de pato para ganso (digo, de peru pra frango), é bom não esquecermos do velhinho. Há quem acredite em Papai Noel, aquele senhor obeso, trajando roupa alpina vermelha e branca, além da farta barba albina, digno de países economicamente também "obesos"... Cabe especular a que propósito a indumentária persiste pelos anos, veste e traz o vovô à terra via chaminé, na intenção de nutrir a fome miserável de crianças com fome de brinquedos, não tão miseráveis assim.

Refiro-me ao farnel adquirível facilmente em lojas de departamentos. Departamento à parte, se atribui a aqueles que distribuem donativos com o marketing da caridade, presenteando com bolas e petecas crianças famintas de todas as fomes.

Um Papai Noel da caatinga vestiria um chapéu de cangaceiro, seria franzino e visitaria as famílias populosas, num cavalo pangaré, num carro de boi ou mesmo montado em jegue, em vez de trenó movido a renas. No mesmo cenário natalino estereotipado transporta-se a ceia. Quando expostos ao calor, topamos com uma sequência de pratos para o clima de países nórdicos, donde provavelmente costuma embarcar Mr. Noel.

É quando nós, pais de crianças não famintas de fome, temos à mesa, além do peru, um tender regado a "Karo", um chester de peito aberto, geneticamente construído, e um punhado de frutas secas, castanhas portuguesas, cerejas, nozes, avelãs e amêndoas, dignos de nutrir paladares sob flocos de neve. Comer para hibernar, esse é o lema.

Por que então não adaptarmos ao banquete iguarias tão nossas como castanhas do Pará, de caju, galinha caipira, pernil de porco, peixe assado, farofa de banana, abóbora com camarão, moqueca, pirão, tapioca? Pode ser também um peru, pra não descaracterizar o hábito, mas em vez de pousá-lo sobre frutas em calda num modelo batizado de "Califórnia", que tal guarnecê-lo com frutas frescas dos nossos mercados? A sobremesa poderia fartar-nos sobre a mesa em compoteiras com doce de leite, ambrosia, doce de mamão, cidra, abóbora, manjar, queijo de Minas ou sorvetes de maracujá e umbu. Pra encerrar, um bom café, desses que sabemos exportar, um charuto baiano e um licor de jenipapo.

Já que Cristo nasceu em Belém, recordando que foi ele quem dividiu o pão, vamos lembrar que a nossa farinha não é de trigo e sim de mandioca, e a nossa Belém é do Pará.


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