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Natal está chegando. É nesta data que se comemora, além do
nascimento de Cristo, o ressurgimento do peru à mesa.
Mudando de pato para ganso (digo, de peru pra frango), é bom
não esquecermos do velhinho. Há quem acredite em Papai Noel,
aquele senhor obeso, trajando roupa alpina vermelha e branca,
além da farta barba albina, digno de países economicamente
também "obesos"... Cabe especular a que propósito a indumentária
persiste pelos anos, veste e traz o vovô à terra via chaminé,
na intenção de nutrir a fome miserável de crianças com fome
de brinquedos, não tão miseráveis assim.
Refiro-me ao farnel adquirível facilmente em lojas de departamentos.
Departamento à parte, se atribui a aqueles que distribuem
donativos com o marketing da caridade, presenteando com bolas
e petecas crianças famintas de todas as fomes.
Um Papai Noel da caatinga vestiria um chapéu de cangaceiro,
seria franzino e visitaria as famílias populosas, num cavalo
pangaré, num carro de boi ou mesmo montado em jegue, em vez
de trenó movido a renas. No mesmo cenário natalino estereotipado
transporta-se a ceia. Quando expostos ao calor, topamos com
uma sequência de pratos para o clima de países nórdicos, donde
provavelmente costuma embarcar Mr. Noel.
É quando nós, pais de crianças não famintas de fome, temos
à mesa, além do peru, um tender regado a "Karo", um chester
de peito aberto, geneticamente construído, e um punhado de
frutas secas, castanhas portuguesas, cerejas, nozes, avelãs
e amêndoas, dignos de nutrir paladares sob flocos de neve.
Comer para hibernar, esse é o lema.
Por que então não adaptarmos ao banquete iguarias tão nossas
como castanhas do Pará, de caju, galinha caipira, pernil de
porco, peixe assado, farofa de banana, abóbora com camarão,
moqueca, pirão, tapioca? Pode ser também um peru, pra não
descaracterizar o hábito, mas em vez de pousá-lo sobre frutas
em calda num modelo batizado de "Califórnia", que tal guarnecê-lo
com frutas frescas dos nossos mercados? A sobremesa poderia
fartar-nos sobre a mesa em compoteiras com doce de leite,
ambrosia, doce de mamão, cidra, abóbora, manjar, queijo de
Minas ou sorvetes de maracujá e umbu. Pra encerrar, um bom
café, desses que sabemos exportar, um charuto baiano e um
licor de jenipapo.
Já que Cristo nasceu em Belém, recordando que foi ele quem
dividiu o pão, vamos lembrar que a nossa farinha não é de
trigo e sim de mandioca, e a nossa Belém é do Pará.
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