|
|
Ao
abrir minha caixa postal eletrônica, domingo de manhã,
recebi um bombardeio de leitores, mesclando crítica,
decepção, irritação e, em muitos
casos, ofensas, com a minha coluna, publicada pela Folha,
intitulada "Cala a Boca".
No
geral, acusavam-me de "traição", "irresponsabilidade"
e "falta de espírito" público, porque
a coluna supostamente favorecia a Paulo Maluf.
Diante
da caixa postal lotada, li e reli mais uma vez o texto, para
saber se, por algum deslize, uma palavra mal colocada, teria
sido parcial. Não vi, porém, parcialidade.
Desculpem-me a arrogância, mas o problema é do
leitor.
Tentei
simplesmente identificar as fragilidades e virtudes dos dois
candidatos, fazendo, sempre, as ressalvas, encaixadas no contexto.
Cercado
de ressalvas, escrevi que teríamos um candidato melhor
com a junção da sensibilidade social de Marta
Suplicy, com seu apego à busca de parcerias com a sociedade
civil, e a experiência administrativa de Maluf. Daí
surgiria o "Martuf".
Por
várias vezes no texto, relativizei a experiência
de Maluf, que não é sinônimo de competência,
mas de vivência: tanto que a cidade está quebrada,
desgovernada, e, em parte, se deve ao ex-prefeito.
Defendi,
no artigo, que um dos pontos vulneráveis da candidata
do PT é a falta de experiência administrativa
pública ou privada _ o que me parece óbvio.
Não significa que alguém sem experiência
não possa ser um bom administrador, afinal tem de começar
em algum lugar. É apenas uma incógnita.
Significa,
entretanto, que um candidato sai com vantagem se já
tiver uma vida passada com realizações administrativas
_ o que, mais uma vez, me parece óbvio.
Natural
que, nessa disputa, tenha minhas preferências pessoais
e, no íntimo, torça. Ilude o jornalista que
afirmar que, diante de uma eleição envolvendo
Marta ou Maluf, não tenha uma opção.
Mas
o papel do jornalista não é ser chefe de torcida
ou cabo eleitoral, por mais difícil que seja a objetividade
em estado puro. Ainda mais numa eleição tão
radicalizada.
Devemos
tentar em nome justamente do leitor, que deseja informações,
análises, críticas, para decidir com base em
argumentos racionais e não emocionais _ ele necessariamente
merecer saber quais são os pontos fortes e fracos dos
candidatos.
O
resto é discurso de palanque.
Leia colunas anteriores
17/10/2000 - Quem
vai pagar pelas mortes da GM?
10/10/2000 - Discussão do caráter
é, na maioria das vezes, perda de tempo
03/10/2000 - A lição das urnas
doeu
26/09/2000 - Por
que a eleição de São Paulo é uma boa notícia
19/09/2000 - Quem
suja a cidade não merece o voto
|
|
|
|
|