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Gustavo Ioschpe
desembucha@uol.com.br"
  20 de dezembro
O Jornalismo e a Estatística
 
   

Quem já fez aula de Estatística sabe que um dos métodos mais ineficazes de se medir a aceitação de qualquer produto, serviço ou idéia é de se pedir resposta espontânea do consumidor. Os únicos respondentes, nesses casos, são exatamente aqueles que diferem mais marcadamente da média: ou odeiam tanto o alvo da enquete que se dispõem a perder seu tempo respondendo às perguntas do inquiridor, ou se apaixonaram tanto pelo que lhes foi dado ou vendido que, não satisfeitos em apenas continuar consumindo mais do mesmo, escrevem para dizer como amou o produto em questão. Na média, as pessoas nem se apaixonam, nem detestam tanto nada a ponto de perder seu tempo escrevendo sobre ele. Mas, como todo leitor sabe, Estatística não deve ser lá cadeira muito importante na formação da maioria dos jornalistas, e qualquer pessoa que folhear as páginas e passar pelos canais da mídia brasileira verá, aliás, que se o respeito a estatística fosse condição sine qua non para o exercício da profissão o métier já teria ido pro brejo. O jornalismo, afinal, é a antítese da estatística.

O jornalista pode pegar um país miserável, em guerra, e fazer uma reportagem sobre, digamos, donos de Ferrari, festas de debut em country clubs e histórias particulares de sucesso e, assim, dar a impressão de que a situação geral é muito melhor do que realmente é. Os números não têm muita graça, mas não mentem. Histórias pessoais comovem, tocam, ilustram e, portanto, vendem jornais e revistas, mas não são necessariamente ilustrativas. Há várias causas para essas distorções jornalísticas. A primeira, que me parece mais frequente, é aquela combinação perniciosa de ignorância e preguiça que gera o achismo. É comum ver-se na imprensa sentenças como "um grande número", "a maioria", "uma parcela significativa", "vários", "muito alta", etc. São frases ocas. 95% é muito diferente de 51%, mas ambos são "maioria". Dois milhões são mais do que vinte mil, mas ambos são "vários". Uma inflação de 60% e 1000% ao ano são ambas "muito altas", mas têm graus de diferença importantíssimos.

A conjunção desses dois fatores gera o terceiro, que é o jornalista desejoso de provar sua tese e não relatar os fatos. Quem é pró-Lula diria que ele é líder nas pesquisas eleitorais para a sucessão presidencial por ampla margem; quem se opõe ao petista dirá que ele atingiu o teto e de lá não passa.

A terceira causa de erro é quando o dono do veículo de imprensa tem a sua orientação e obriga o jornalista a aderir, mas isso é assunto que merece várias colunas e não apenas algumas linhas.

Dado o desprezo jornalístico pela estatística, não é de se estranhar que quem lida com leitores - colunistas também incluídos aí, categoria na qual me enquadro - tenhamos uma relação ambígua com o retorno daqueles para quem escrevemos.

Paulo Fancis, por exemplo, dizia que quem escrevia para a redação de um jornal era louco. Era um bom mecanismo para desqualificar, a priori, todas as críticas que recebia. Outros pensam que as críticas são sinal de incompreensão; outros que os ataques são recebidos por mexer com interesses dos leitores, ou dos poderosos. Outros, especialmente nessa época de Internet, já classificam todas as mensagens vindas por e-mail como coisa de gente rica e, portanto, obtusa, e tudo aquilo que vem por carta de ser de gente sem recursos para ter computador e, portanto, sem muita educação e, assim, burra. Os mecanismos de defesa dos colunistas, como de todo ser humano, são certamente mais criativos do que qualquer obra sua já produzida.

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13/12/2000 - Europa por £1 por dia
06/12/2000 - O onipresente
03/12/2000 - É uma câmera no seu banheiro?
26/11/2000 - Um animal social
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