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Gustavo Ioschpe
desembucha@uol.com.br"
  19 de novembro
Até onde vamos ?
 
   
Essa história do caixa dois das eleições presidenciais é desculpa propícia para se discutir um tema mais interessante, que é o papel da imprensa.

As doações, por mais ilegais que sejam - e são - não vão causar processo, CPI, multa ou impeachment nenhum. Não é tanto o caso da lei "não pegar", mas sim de se tratar de uma discussão que invariavelmente inclina-se para o campo político e não legal. E, no campo político, FHC está bem que chega - ou não mal o suficiente - para não sofrer impeachment por mais essa denúncia.

Surge aí uma questão válida: se a imprensa sabe que isso não vai dar em nada, deve escarafunchar ? Presta um serviço melhor à nação expondo as mais cavernosas entranhas do poder, ou preservando o governo e as instituições políticas ?

Alguém dirá que cabe à imprensa mostrar tudo e deixar que a justiça cumpra o seu papel. Mas isso é fantasia: todo dia, os editores selecionam aquilo que é publicável, dentre um emaranhado de escândalos potenciais. Ao fazer essa escolha, os meios de comunicação estão implicitamente julgando o que deve ser apurado e o que permanecerá no anonimato. E, acredite, a quantidade de sem-vergonhice descoberta é bem maior do que a publicada (às vezes por falta de provas, às vezes por decisão editorial).

Entra aí a questão fundamental, que é o juízo por parte do detentor da notícia da capacidade de compreensão da população. Quando se omite algo, decide-se que o público não saberá reagir a essa informação. Seria a instituição que é um dos pilares básicos da democracia assim culpada do elitismo aristocrático mais óbvio, que é o de achar que o povo não tem condições de julgar sozinho o que é melhor para si mesmo ? E, se a resposta a essa pergunta for afirmativa, estamos mal ?

Um dos fundadores da democracia americana - essa que servia de modelo até a semana retrasada - dizia que, entre um governo sem imprensa e uma imprensa sem governo, optaria pelo último. Desde que - e esse apodo é quase sempre deixado de lado - o povo tivesse condições de entender o que lia.

No Brasil - assim como em todo lugar do mundo - a maioria da população não está preparada para digerir certos pratos. A manutenção da ordem social depende dessa filtragem. Pode-se esperar da grande imprensa, destinada a classe média-alta e feita por gente de classe média-alta, que mantenha o paternalismo benevolente, por sua própria sobrevivência. E, enquanto isso, que continue utilizando-se do vestal de pilar indispensável da democracia e defensora dos interesses populares. Jornalistas, como todos nós, têm a inclinação a achar que a sua visão particular do mundo - e suas posologias para a cura das enfermidades do planeta - são compartilhadas por toda a população, e assim advogar sua posição pessoal como verdade universal. A única diferença é que o cidadão comum pratica o exercício com seus amigos e familiares, e o jornalista dispõe de tribuna com maior difusão.

Cabe ao leitor perspicaz aplicar ao que lê, vê e ouve na grande mídia os mesmos critérios usados para filtrar conversas de bar. De omnibus dubitandum em omnibus dubitandum, a galinha enche o papo. Ou, como diziam os latinos, "Ubi dubium ibi libertas". Onde há dúvida, há liberdade.


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