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Gustavo Ioschpe
desembucha@uol.com.br"
  13 de dezembro
Europa por £1 por dia
 
   

Um dos fatores que supostamente separa os brasileiros frequentadores de Bariloche (ou "Barilóshi", como dizem os habitués) da Europa seria o suposto preço elevado do velho mundo, o que levaria o turista remediado a escolher pelas terras vizinhas ou Miami, aquele pedaço da América Latina perturbado por meia dúzia de americanos perdidos.

Mas, aproveitando que a Flórida está interditada nos preparativos do primeiro estágio da guerra civil entre democratas e republicanos e na Argentina a coisa tá tão russa que eles dizem que a coisa não tá mais russa, mas argentina, vale a pena repensar alguns preconceitos. E vou contar a vocês que a Europa, em se sabendo usá-la, é uma pechincha. Em Londres, que é a cidade mais cara do continente, há uma tática prestes a ser patenteada por este que vos escreve que permite a sobrevivência na terra da rainha com um pound por dia. Como ? Explico-me.

Comecemos pela razão pela qual você precisa da moedinha de um pound. É para o transporte. Evite o metrô, que é claustrofóbico, fálico e à prova de fraudes. A solução é o ônibus, os famosos double-deckers. O caminho é ir pro andar de cima e lá ficar. Os cobradores de ônibus daqui são velhos e/ou preguiçosos demais para subir ao segundo andar e verificar se o sujeito tem ou não a passagem. E, mesmo quando sobe, as boas maneiras inglesas ditam que ele não peça o ingresso diretamente a cada pessoa. Só chega lá na ponta e grita: "Tickets ! Fares !". E, como já dizia aquele antigo ministro e atual presidenciável, quem paga ágio é otário. O problema é que, vez que outra, vêm os inspetores, então é bom você ter dinheiro pro ingresso, porque senão a multa é de dez libras. Não que seja uma tragédia mas, nesse caso, vai encurtar a sua viagem em dez dias, então não vale a pena.

Segundo item: comida. Isso é supérfluo. Na Inglaterra, ninguém come. As vacas comeram comida inglesa e ficaram loucas. Cada vez que você estiver com fome, vá até um típico restaurante inglês e peça para ir à cozinha ver a preparação de um fish and chips, e te garanto que você não come por três dias - sem falar nos pesadelos com o mar de óleo, que vão te tirar o sono e fazer com que você não se preocupe com acomodação.

Pra quem for pra outros lugares da Europa, onde a comida é boa, a solução são os restaurantes chineses e indianos. Nos chineses, diga que tem uma pé de rã no seu prato. Eles vão te dizer que é exatamente o que você pediu, mas aí você roda a baiana, apega-se ao nível superior da cultura ocidental, diz que o chef deve ser da Mongólia e vai-se embora. No indiano, o negócio é fazer de conta que se está morrendo sufocado com as pimentas e curry, e também sair de fininho.

Solucionados os problemas de transporte e alimentação, falta apenas o de acomodação. Se você não é que nem meus amigos folgados, que pedem pra ficar em casa e trazem uma guaraná de presente como pagamento, vai notar que os hotéis estão pela hora da morte. Pode tentar um albergue, por uns vinte mangos, mas o incômodo de ter de tapar todos os orifícios do corpo com algodão e esparadrapo durante a noite não compensa. A solução clássica é comprar o Euro Pass e viajar todas as noites entre Paris e Budapeste. Mas essa já tá manjada e é um porre. Em tempos de mad cow disease, a melhor coisa que você pode fazer é começar a mugir e espernear em pleno Piccadily Circus ou Champs Elysées, que o pessoal te leva rapidinho prum hospital ou pra prisão. Se for hospital, beleza; vá embora na manhã seguinte. Se for prisão, não se aflija: é só ligar pro grande embaixador brasileiro local e pedir caneco. Estarás assim cumprindo um dever cívico. Afinal, a vida desses desocupados é tão monótona que um pouco de ação vai até fazer bem ao nosso rechonchudo corpo diplomático. E bon voyage.

* * *

Pra quem vier a Londres e quiser gastar mais um pouco, vale a pena conferir uma exposição chamada Impression, na National Gallery. E uma peça chamada Madame Melville, com a maravilhosa Irene Jacob e o fraquinho Macaulay Culkin a tiracolo.

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