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5 de setembro |
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Neocolonizador
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Mais
adiante, quando os dias que correm tiverem se transformado em memória,
quando pudermos olhar para o nosso tempo como testemunhas de um presente
remoto, perceberemos que a cara do Brasil de hoje guarda certa semelhança
com a do Brasil colonial.
Toqueville
(1805-1859) já havia anotado: a história é
uma galeria de quadros onde há poucos originais e muitas cópias.
Uma forma metafórica de dizer que o cotidiano dos povos tende
à repetição.
Embora a maioria dos brasileiros ainda não tenha se dado conta,
estamos pintando agora mesmo um plágio do que já fomos.
Na semana passada, o quadro assumiu a inesperada forma de um cartum.
Richard Perez, executivo da empresa norte-americana WorldCom/MCI,
dona da Embratel, foi detido no aeroporto do Rio. Prenderam-no porque
tentou embarcar para Miami com US$ 80 mil. Pela lei, não poderia
portar mais do que R$ 10 mil.
Perez é casado e nasceu nos EUA. Justificando-se, disse aos
policiais que mantém um flat no Rio. No Brasil desde 28 de
agosto, divertia-se com uma namorada que dá expediente em boate
de Copacabana. Como não confiasse na amante, resolveu levar
consigo a grana.
Eis a cena colonial injetada na caricatura: o estrangeiro levando
o nosso ouro, depois de saciar os seus apetites de macho na exuberância
escandalosa de uma nativa.
O Brasil da charge esboçada no Rio é uma espécie
de Tijuco pós-moderno. Richard Perez compõe a cena como
um neocontratador de diamantes. Um João Fernandes de laptop
e celular, seduzido por uma Chica da Silva de night-club.
O Brasil das privatizações não é muito
diferente desse país de caricatura. Para que fique idêntico,
basta eliminarmos do quadro a polícia. Aí fica perfeito.
No Brasil das grandes oportunidades, o capital estrangeiro leva tudo
o que quer da mulata à isenção de impostos,
passando pelo dinheiro fácil do BNDES. E não é
barrado no aeroporto nem tem de ficar saciando a curiosidade de policiais
indiscretos.
Bem verdade que há sempre uns chatos querendo atrapalhar a
festa. Mas eles são poucos e têm a voz abafada pelo som
da grande orquestra global.
A farra está apenas no começo. Vem aí o embalo
da remuneração do capital. Ontem, o quinto da coroa.
Hoje, a remessa de lucros. No futuro, quando pudermos fazer a conta,
daremos boas gargalhadas ao lembrar que um dia prendemos um tal Richard
Perez, com seus U$ 80 mil.
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