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  12 de setembro
  MST (Movimento dos Sem-Transparência)
  No Brasil do “lobby-ao-contrário”, em que o industrial, o banqueiro e o latifundiário só precisam de um número de telefone para se fazer ouvir em Brasília, o grande mérito do MST foi o de amplificar a voz daqueles que nunca foram apresentados à agenda telefônica.

Organizados, os sem-terra usaram a retórica de que dispunham: o grito. Notados, passaram a constranger o governo. Aqui e lá fora. Converteram-se em evidência ambulante de que passava da hora de Brasília começar a pagar a chamada dívida social. Uma dívida que o professor Cardoso ajudara a diagnosticar.

O noticiário sobre o quadro alarmante do campo fez com que o tucanato migrasse da inércia para a promessa. Foram necessárias algumas mortes para que as boas intenções fossem, finalmente, convertidas em cifrões.

No rastro dos empréstimos públicos, vieram as cooperativas do MST. São hoje sete dezenas de organizações do gênero espalhadas pelo país. Um manto diáfano de mistério cerca os livros contábeis de tais organizações.

Uma notícia de jornal, como se sabe, levou o governo a encomendar a auditagem das cooperativas. Já foram escarafunchadas as contas da Coagri (Paraná) e da Cocamp (São Paulo). Outras 68 entidades estão sob investigação.

O tema, por ora apenas insinuado, vem desnorteando o MST. Ante as primeiras evidências de que suas cooperativas protagonizam gestos de grossa incompetência e, pior, de desbragada má-fé, os caciques do movimento se calam. O silêncio ensurdecedor.

Entre quatro paredes, tramam uma estratégia que, se for adiante, pode enredar o MST num irreversível processo de auto-desmoralização. Planeja-se invocar a suspeição do trabalho de auditoria, feito por funcionários públicos pendurados ao organograma da pasta do ministro-candidato Pedro Malan.

Um detalhe anula o plano: os relatórios produzidos até aqui pelos auditores, acomodam também o governo no banco dos réus. O papelório deixa a administração FHC em péssima situação, especialmente o Incra e o Banco do Brasil. Anota, sem rodeios, que o governo aprova projetos inviáveis, não fiscaliza convenientemente a aplicação do dinheiro, permite que recursos destinados aos assentados sejam desviados no meio do caminho e libera empréstimos novos a cooperativas inadimplentes.

Ou o MST põe na rua um bom lote de explicações, ou logo ficará conhecido como Movimento dos Sem-Transparência. Se vier com subterfúgios e meias-palavras, terá dificuldades para continuar questionando FHC e a sua social-democracia de meia-tigela.

Os líderes do MST não devem satisfações ao governo. Eles precisam prestar contas ao contribuinte e, sobretudo, aos trabalhadores rurais que dizem representar. João Pedro Stédile, sempre tão eloqüente, ainda há de pronunciar meia dúzia de palavras a esse respeito.


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