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As
últimas reuniões de organismos internacionais como o
FMI e o Banco Mundial têm sido mais importantes pelo que se
vê e ouve do lado de fora do que pelo que se discute no interior
da sala. O próximo encontro começa na quinta-feira.
Observando-se a pauta, nota-se que os temas em debate foram, por assim
dizer, ditados pelos gritos que vêm da rua.
Eis
alguns:
1) Redefinição de funções dos dois
organismos;
2) Refresco para as dívidas externas de 20 países;
3)
Apelo às nações ricas, para que abram as fronteiras
para os produtos de países em desenvolvimento.
Novamente,
as TVs irão derramar sobre os tapetes da sala cenas de uma
guerra que se prenuncia longa e entrecortada. De um lado, os agentes
do neocapitalismo. Do outro, as recém-constituídas tropas
da guerrilha de resistência.
O
conflito começou no ano passado, em Seattle. A batalha que
se inicia depois de amanhã será a terceira ou quarta.
Recomenda-se às autoridades, entre elas Pedro Malan e Armínio
Fraga, que reforcem a bagagem. Além de ternos, convém
levar armaduras.
Estima-se
que Praga, palco das manobras, será invadida por 20 mil manifestantes.
Mobilizaram-se 11 mil policiais para vigiá-los. Sem contar
as centenas de agentes que serão infiltrados na multidão.
Se necessário, o Exército sairá às ruas.
Os
garotos que vociferam contra a nova ordem constituem a mais animadora
novidade no cenário internacional. Eles já atingiram
um primeiro objetivo: foram notados. Chamaram a atenção
em escala mundial.
O
movimento que encarna o espírito de Seattle é romântico
e irresponsável. O romantismo está na tentativa de ressuscitar
o conceito de revolução, em que uma certa ordem, pecaminosa,
é extinta em favor de outra, virtuosa. À falta de uma
nova São Petesburgo, invade-se o Palácio de Inverno
dos organismos internacionais, face mais visível da doutrina
Big Mac.
A irresponsabilidade está na ausência de clareza quanto
aos objetivos. Deseja-se romper o consenso, melar o postulado liberal
imposto por Washington, pôr abaixo o teorema que sistematiza
e globaliza a exclusão. Mas não se sabe o que colocar
no lugar.
A
graça das manifestações recentes está
na explicitação da encruzilhada: permanece utópica
aquela visão marxista de uma sociedade que despreze o poder
e o lucro, valorizando apenas o bem-estar do ser humano. Mas parece
claro que tampouco o fatalismo da exclusão inevitável,
exagero oposto, pode ser admitido.
O
mundo atravessa uma fase de transição. Por ora, desloca-se
do ruim para o desconhecido. Com a vantagem de que agora há
um bando de garotos dispostos a demonstrar que, cansada de ser tratada
como cachorro, a platéia parou de abanar o rabo. E se não
for ouvida, logo começará a morder.
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