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  19 de setembro
  Doutrina Big Mac X Espírito de Seattle
  As últimas reuniões de organismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial têm sido mais importantes pelo que se vê e ouve do lado de fora do que pelo que se discute no interior da sala. O próximo encontro começa na quinta-feira. Observando-se a pauta, nota-se que os temas em debate foram, por assim dizer, ditados pelos gritos que vêm da rua.

Eis alguns:

1) Redefinição de funções dos dois organismos;

2) Refresco para as dívidas externas de 20 países;

3) Apelo às nações ricas, para que abram as fronteiras para os produtos de países em desenvolvimento.

Novamente, as TVs irão derramar sobre os tapetes da sala cenas de uma guerra que se prenuncia longa e entrecortada. De um lado, os agentes do neocapitalismo. Do outro, as recém-constituídas tropas da guerrilha de resistência.

O conflito começou no ano passado, em Seattle. A batalha que se inicia depois de amanhã será a terceira ou quarta. Recomenda-se às autoridades, entre elas Pedro Malan e Armínio Fraga, que reforcem a bagagem. Além de ternos, convém levar armaduras.

Estima-se que Praga, palco das manobras, será invadida por 20 mil manifestantes. Mobilizaram-se 11 mil policiais para vigiá-los. Sem contar as centenas de agentes que serão infiltrados na multidão. Se necessário, o Exército sairá às ruas.

Os garotos que vociferam contra a nova ordem constituem a mais animadora novidade no cenário internacional. Eles já atingiram um primeiro objetivo: foram notados. Chamaram a atenção em escala mundial.

O movimento que encarna o espírito de Seattle é romântico e irresponsável. O romantismo está na tentativa de ressuscitar o conceito de revolução, em que uma certa ordem, pecaminosa, é extinta em favor de outra, virtuosa. À falta de uma nova São Petesburgo, invade-se o “Palácio de Inverno” dos organismos internacionais, face mais visível da doutrina Big Mac.

A irresponsabilidade está na ausência de clareza quanto aos objetivos. Deseja-se romper o consenso, melar o postulado liberal imposto por Washington, pôr abaixo o teorema que sistematiza e globaliza a exclusão. Mas não se sabe o que colocar no lugar.

A graça das manifestações recentes está na explicitação da encruzilhada: permanece utópica aquela visão marxista de uma sociedade que despreze o poder e o lucro, valorizando apenas o bem-estar do ser humano. Mas parece claro que tampouco o fatalismo da exclusão inevitável, exagero oposto, pode ser admitido.

O mundo atravessa uma fase de transição. Por ora, desloca-se do ruim para o desconhecido. Com a vantagem de que agora há um bando de garotos dispostos a demonstrar que, cansada de ser tratada como cachorro, a platéia parou de abanar o rabo. E se não for ouvida, logo começará a morder.

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