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26 de outubro
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Macartismo
sexual |
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Drama político pode concorrer ao Oscar
Nova York - "The Contender" é o filme da hora nos EUA. Nem é tão difícil
assim, dada a ridícula qualidade média do que está em cartaz neste
último outono da era Clinton. Escrito e dirigido pelo ex-crítico Rob
Lurie, o mais envolvente drama político em anos traz Jeff Bridges
como um presidente democrata inequivocamente clintoniano, batizado
Jackson Evans. Tudo gira em torno de "macartismo sexual", o que lembra
tanto o caso Lewinsky quanto baixarias na presente eleição paulistana.
A morte do vice-presidente (uma premonição simbólica da sorte de Al
Gore nas eleições de 7 de novembro próximo?) obriga Evans a apontar
um substituto, a ser sabatinado pelo Congresso. O primeiro candidato
à vaga é um governador, escolhido para herói da vez pela imprensa
ao tentar salvar uma motorista cujo carro caiu no rio. Seu insucesso
serve de pretexto para o presidente, ecoando Edward Kennedy e Chappaquiddick,
enterrar-lhe as pretensões.
A favorita da Casa Branca é a senadora Laine Hanson, que Joan Allen
transforma numa espécie de Hillary Clinton sexualizada. Indicada por
Evans, colide com o velho adversário republicano que preside a comissão.
Gary Oldman insufla fogo a este Shelly Runyon, tão feio por fora quanto
por dentro, com seus óculos pesados, calva opaca e pele macilenta.
A principal arma de Runyon são pretensas fotos da senadora participando
de uma orgia nos anos de universidade. A liberal Hanson recusa-se
a desmentir ou sequer comentar a denúncia, sob o argumento de que
a vida pública não garante acesso livre à vida privada de ninguém.
É assim ao menos na Hollywood da Dreamworks de Spielberg.
Os prazeres de "The Contender" expandem-se para além da trama central.
As leis maquiavélicas da política parecem aqui revestidas de veludo,
como num filme de Capra reescrito por Mamet ou num episódio da telessérie
"The West Wing" roteirizado por Gore Vidal.
O cinema cívico hollywoodiano tem tudo para ser representado por "The
Contender" no próximo Oscar. Os desempenhos de Allen, Bridges, Oldman
e Sam Elliot (como o mais fiel assessor presidencial) parecem clamar
por indicações. Seria ainda um último aplauso para o mestre Clinton.
* * *
Falando em Oscar 2001, retirem da lista de favoritos "Pay It Forward",
de Mimi Leder. É um melodrama inepto, inacreditavelmente manipulador,
adaptado com uma brocha de um romance da linha "vamos dar as mãos"
de Catherine Ryan Hyde. Girando em torno do encontro de um professor
com o rosto queimado, uma garçonete alcoólatra e seu filho sensível,
nos faz perguntar o que deu na cabeça de Kevin Spacey, Helen Hunt
e Haley Joel Osment (O Sexto Sentido) para aceitar esta roubada. Osment
tem indicação assegurada. Spacey e Hunt devem estar torcendo para
serem esquecidos.
* * *
A comissão do Ministério da Cultura fez a coisa certa e escolheu "Eu
Tu Eles" para representar o Brasil na disputa do Oscar para filmes
de língua não-inglesa. Nenhum candidato nacional estava melhor preparado
para a batalha. Isso não garante uma vaga entre os cinco finalistas.
Mas facilita.
Foi um bom começo.
PS. Ainda assim, reitero a crítica: a comissão ministerial
não respeitou a representatividade regional do cinema brasileiro.
Desta vez, não houve polêmica. Não será sempre assim.
Leia colunas anteriores
19/10/2000 - A Rosa Púrpura de Canby
12/10/2000 - Oscar 2001: Rio dá as cartas
05/10/2000 - Greve
28/09/2000 - Eles
tu eu
21/09/2000
- Oscar 2001: a largada
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