|
Rio domina comissão brasileira do Oscar
Quatro cineastas cariocas, três dos quais cinemanovistas, e um diretor
mineiro, todos respeitáveis e respeitados, frise-se, desde logo, formam
a comissão oficial do Ministério da Cultura (www.minc.gov.br)
que vai indicar o candidato brasileiro ao Oscar 2001 (www.oscar.org)
. É a segunda iniciativa federal recente que impõe a visão de cinema
do Rio de Janeiro sobre a opinião do restante do país.
Há duas colunas, discuti aqui a formação exclusivamente por cineastas
cariocas do Geic indicado por FHC. Repete-se a dose agora, com a inclusão
do mineiro Helvécio Ratton (Amor & Cia) apenas para forjar uma caricatura
de pluralismo.
Nada de São Paulo, berço de várias revelações da recente retomada
(de Beto Brant a Tata Amaral), nada do Rio Grande do Sul, que desenvolve
a mais séria política oficial de suporte ao cinema, nada do Nordeste,
em que talentos espocam contra tudo e contra todos. É mais uma decisão
federal curiosamente pouco afeita aos princípios federativos.
Além de Ratton, a comissão é formada por Sandra Werneck (Pequeno Dicionário
Amoroso), Nélson Pereira dos Santos (Vidas Secas), Carlos Diegues
(Bye Bye Brasil) e Arnaldo Jabor (Tudo Bem). Vai até o próximo dia
13 a inscrição dos longas brasileiros lançados desde novembro passado.
O título escolhido será revelado no próximo dia 26.
Quanto aos títulos favoritos, nada de essencial mudou desde minha
primeira coluna sobre o assunto, em junho último. As duas candidaturas
mais fortes são as de "Bossa Nova" (www.columbiapictures.com.br)
, de Bruno Barreto, e "Eu Tu Eles"(www.uol.com.br/eutueles)
, de Andrucha Waddington. A avalanche de público de "O Auto da Compadecida",
de Guel Arraes, poderia incluí-lo no páreo, mas sua origem televisiva
rouba-lhe preciosos pontos e, numa interpretação estrita do regulamento
da categoria, poderia mesmo torná-lo inelegível.
"Bossa Nova" fez excelente carreira comercial nos EUA (mais de US$
1,8 milhão) mas não obteve similar consenso positivo de crítica. "Eu
Tu Eles" ainda não estreou por lá mas colhe elogios por onde passa,
tendo alcançado bela repercussão no recente festival de Toronto (www.e.bell.ca/filmfest/)
, o principal da América do Norte, ao lado do Sundance (www.sundance.org)
.
Há ainda diferenças de curva de presença no circuito internacional:
"Bossa Nova" cumpre já o fim de seu ciclo, enquanto "Eu Tu Eles" ainda
se encontra na fase de expansão.
Ambos são distribuídos nos EUA pela Sony Pictures Classics (www.spe.sony.com/classics)
, a mesma de "Central do Brasil". Filmes à parte, Barreto conta com
sua melhor inserção no mercado americano e a experiência familiar
de duas indicações recentes ("O Quatrilho" e "O Que É Isso, Companheiro?").
Waddington tem em seu favor o selo Sundance do roteiro e a imagem
de jovem revelação.
"Eu Tu Eles" teria meu voto. É um filme mais sólido e redondo do que
o simpático "Bossa Nova". As semelhanças com "Central do Brasil" podem
somar-lhe pontos junto aos membros da Academia que preteriram o filme
de Walter Salles em favor de "A Vida É Bela" de Roberto Benigni. (Raciocínio
similar não vale para Barreto, pois "O Que É Isso, Companheiro?" não
foi um candidato assim tão forte e a vitória do holandês "Caráter"
foi merecida e serena).
É isso aí. Resta esperar que a comissão, apesar dos pesares, faça
a coisa certa. No mais, é torcer. Não há categoria do Oscar mais sujeita
a idiossincrasias do que a de filmes estrangeiros.
Leia colunas anteriores
05/10/2000 - Greve
28/09/2000 - Eles
tu eu
21/09/2000
- Oscar 2001: a largada
14/09/2000 - Amazon à Brasileira
07/09/2000 - TV Tablóide
|