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  06 de novembro
  Por que os eleitores dos EUA não votam
 
Não é fácil entender o sistema eleitoral norte-americano por meio do qual um novo presidente será eleito amanhã, terça-feira. Nem os eleitores o entendem, e essa é uma das principais razões pelas quais não gostam de votar.

As eleições não são diretas, mas os nomes dos principais candidatos estão nas cédulas. O voto não é obrigatório, mas é preciso registro eleitoral para votar. O colégio eleitoral de 538 delegados, que de fato escolhe o presidente em dezembro, dois meses depois das eleições, é formado por pessoas que prometem votar no candidato que ganhou em seus Estados. Mas não são obrigados a fazê-lo.

Essa complicação resulta de um pacto federativo feito em 1787, quando, depois da independência dos EUA, a Constituição estava sendo escrita num contexto federativo complicado.

A Constituição criou, pela primeira vez na história, um sistema de separação de poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Os ideólogos da Constituição não queriam que o presidente fosse eleito diretamente por temer que, uma vez no cargo, ele tivesse pensamentos autoritários e ignorasse o sistema federativo. Também não queriam que o Congresso o elegesse, pois desejavam um presidente independente do Legislativo.

Os Estados pequenos também rejeitavam o voto direto, pois acreditavam, com razão, que as regiões mais populosas acabariam definindo os presidentes e ignorariam seus interesses. Já os Estados mais populosos faziam questão de garantir uma vantagem sobre os demais.

Desenhou-se, então, um sistema intermediário. Criou-se um colégio eleitoral separado do Congresso para eleger o presidente. Esse colégio seria formado por representantes, delegados, dos Estados.

Os Estados maiores elegeriam o maior número de delegados, mas não na exata proporção de suas populações. A população votaria nos candidatos a presidente, mas elegeriam delegados. Esses delegados, embora vinculados aos candidatos presidenciais, teriam liberdade para mudar sua inclinação na metade do caminho, para garantir uma negociação em caso de empate ou de acontecimentos políticos posteriores que exigissem concessões.

Esse sistema funcionou bem por todo o período de consolidação democrática nos EUA. No entanto, fica óbvio que faliu. Apenas 49% da população superior a 18 anos de idade vota nos EUA. Pesquisas mostram que, por causa desse sistema complicado, os eleitores não têm prazer em votar ou em acompanhar o caminho de seus votos depois de colocados nas urnas. O resultado é desastroso. Apenas os grandes grupos de interesse (sindicatos e lobbies) conseguem levar pessoas às urnas. Os únicos eleitores espontâneos são os idosos, preocupados com o preço dos remédios e com o valor de suas aposentadorias. É por essa razão que os candidatos dedicam metade de seus discursos a propostas sobre seguros médico e social. O sistema eleitoral norte-americano precisa ser alterado porque uma eleição popular não mais ameaçaria o sistema federativo. Apenas revitalizaria a democracia. Há outros motivos que afastam os eleitores das urnas - entre os quais os esforços feitos pelas elites para que eleitores negros e latinos não se registrem. O quadro democrático na maior democracia do mundo não é perfeito. Todos sabem disso, mas a inércia impera.

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