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Norte-americanos
afoitos ainda recontavam votos à mão na madrugada
de domingo quando li, na internet, denúncia da Folha sobre
doações não registradas da campanha presidencial
de Fernando Henrique Cardoso em 1998.
A notícia, assinada por Andréa Michael e Wladimir Gramacho, pôs fim à recaída patriótica que vinha sentindo desde que descobri, junto com o resto do mundo, que o sistema eleitoral brasileiro humilha o norte-americano - meu orgulho não durou seis dias.
Sim, sim, é verdade: nossas urnas são 100% eletrônicas e nossa apuração é quase instantânea, enquanto os gringos, policiais da democracia mundial, não conseguem apurar o resultado de eleições disputadas.
No entanto, nosso sistema de arrecadação eleitoral ainda é perverso e clandestino, enquanto o deles, por mais milionário que seja, é equilibrado e minimamente transparente.
No Brasil, a prática premia candidatos do governo toda vez em que, para puxar o saco do presidente (na melhor das hipóteses) ou para obter bom tratamento público, autoridades oficiais e empresários ambiciosos saem às ruas para arrecadar dinheiro para o "chefe".
Dêem uma olhada no time que FHC reuniu, nas palavras dos dois repórteres: "Um grupo de alto nível -composto pelo hoje ministro Andrea Matarazzo (Secretaria de Comunicação), pelo empresário Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira (Ipiranga) e pela banqueira Kati Almeida Braga (Icatu), entre outros- visitava empresários e negociava doações. Nos bastidores, o trabalho era reforçado por pessoas ligadas ao ex-secretário presidencial Eduardo Jorge Caldas Pereira. Entre elas: Jair Bilachi (ex-presidente da Previ), Pedro Pereira de Freitas (presidente da Caixa Seguros) e Mário Petrelli (ex-sócio de EJ). As planilhas foram criadas por Sérgio Luiz Gonçalves Pereira. Serviam para sistematizar informações obtidas por seu irmão, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, presidente do comitê financeiro de FHC nas duas campanhas presidenciais (1994 e 1998)."
Belo time.
Brasileiros que
trabalham para FHC aqui em Washington andam xingando a Folha,
dizendo que o jornal não descansa enquanto não sujar
a imagem imaculada de FHC. Mas, por via das dúvidas, esses
funcionários dizem que, se existir qualquer coisa de errado,
a culpa é do Bresser. É, a culpa é do Bresser.
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