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  20 de novembro
  A solidão do grande furo
 

No jornalismo, o furo frequentemente leva seus autores ao isolamento temporário. Por vários motivos, as notícias que publicam não são imediatamente desenvolvidas por outros meios de comunicação. Concorrentes honestos deixam de mencioná-las, no início, por não terem acesso à mesma fonte de informação; os invejosos as desprezam, por sentirem inveja do furo; os "oficialistas" tentam desmenti-las porque fazem o jogo da contra-informação.

Faz 15 dias que a Folha publica matérias sobre doações irregulares a campanhas do presidente Fernando Henrique Cardoso. Em outras palavras, a Folha descobriu, pelo caminho inverso, que as duas campanhas presidenciais de FHC tiveram caixa-dois.

Digo caminho inverso porque toda a imprensa tenta há anos descobrir se é verdadeiro ou falso um dossiê que apontou a existência desse caixa sob a forma de contas bancárias nas Bahamas.

Os repórteres Wladimir Gramacho e Andréa Michael chegaram a um caixa-dois dos tucanos de uma outra forma, desconcertante. Provaram que entrou dinheiro frio nas campanhas e agora cabe ao governo dizer aonde ele foi depositado.

A cada dia, percebe-se que tudo o que foi publicado pela Folha é verdade. Contraditoriamente, para cada linha de notícias que vem a público, duas de contra-informação são jogadas no mercado.

Neste final de semana li que o caso não seria grave porque todas as campanhas teriam caixa-dois. Matérias citaram a campanha do senador paulista Eduardo Suplicy, que também teria operado com dinheiro frio, para concluir que o caixa dois é como o jogo do bicho, tem em todo lugar, mas é inofensivo, quase folclórico.

Boa tática. É a mesma coisa que dizer, em 1992, quando Pedro Collor denunciou o irmão, que o caso não teria importância porque toda família tem um desequilibrado e outro ladrão. O fato de FHC e de Collor serem presidentes, no raciocínio dessas matérias, não faz diferença.

O que mais chama atenção nesse caso é que a ansiedade do governo é tanta que soltaram a contra-informação antes mesmo da informação. Sim, é isso. Em 1998, antes mesmo do Dossiê Cayman transformar-se em notícia, ministros do governo saíram a campo para dizer que eram vítimas de chantagem antes mesmo de a chantagem ser feita.

Essa tática funcionou parcialmente porque, no fundo, a maioria dos brasileiros gosta de FHC. Estão todos desencantados, desiludidos, mas ninguém, no fundo, quer ver FHC fora do poder. Afinal de contas, o presidente é produto de um ilustre ambiente acadêmico paulistano, lutou contra a ditadura, tem uma boa lábia e sucedeu um antecessor jogado fora do poder (um raio não cairia duas vezes na mesma presidência, pensam alguns).

Outro fator ajuda FHC neste momento, tornando o caso mais conflituoso ainda. Personagens influentes do meio industrial e financeiro doaram ou arrecadaram dinheiro para o caixa-dois de FHC, segundo as matérias da Folha. Fica difícil mexer nesse vespeiro. No entanto, o governo deve lembrar-se que paciência tem limite. Às vezes, pessoas simplesmente se enchem. Lábia não segura tudo.


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