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A
única vantagem de passar o dia das eleições
fora do Brasil (o que me ocorre pela primeira vez) é a de
poder ler tudo o que os outros escrevem com o mínimo de paixão,
graças à distância.
De alguma forma, por mais que você conheça os candidatos
envolvidos em muitas das disputas, vendo a coisa de longe dá
a impressão de que não são de verdade, mas
pedacinhos de papel (ou de tela de computador).
A outra vantagem é a de poder ler mais atentamente o noticiário
sobre as eleições publicado pelos jornais estrangeiros.
Vantagem que, este ano, não foi lá grande coisa, posto
que tupiniquins e gringos coincidiram nas análises.
Tanto o "Financial Times" britânico como a edição
européia de "The Wall Street Journal" dizem que
a esquerda ganhou, mas recomendam que os investidores não
arrancam os cabelos, já que o resultado do pleito municipal
não se reproduzirá necessariamente na sucessão
presidencial de 2002.
Os jornais brasileiros, uns mais, outros menos, também enfatizam
o
avanço da esquerda, do PT em especial, que passou dos 62
milhões de votos de 1996 para os 71 milhões agora,
um crescimento de sete pontos percentuais.
Até o site "Primeira Leitura", do ex-ministro Luiz
Carlos Mendonça de Barros, joga no mesmo time. Diz o texto
nele publicado: "Por mais que o governo federal queira fazer
o jogo da Poliana, o fato é que as oposições
saem fortalecidas das eleições municipais. (...) Ignorar
que a oposição mudou de patamar no pleito municipal
é negar uma evidência política".
A partir dessa análise, o site cobra "uma nova inflexão
do governo rumo ao social", sob pena de sofrer "fragorosa
derrota" em 2002.
Por mim, a tal de "inflexão social" deveria ter
sido adotada desde 1º de janeiro de 1995, o dia em que FHC
tomou posse pela primeira vez. Não foi. Nem foi quando Luiz
Carlos Mendonça de Barros era ministro.
Não sei se, agora, o governo muda a sua ênfase, do
monopólio da
estabilidade para a convivência entre estabilidade e resgate
da
formidável dívida social.
O que me parece evidente é quem, em 2002, melhor se apresentar
como capaz de combinar uma e outra coisa acabará ganhando.
Leia colunas anteriores
27/09/2000 - O
que é e o que se vê
20/09/2000 - Fujimori
faz FHC passar vergonha
13/09/2000 - Igreja,
culpa e prepotência
06/09/2000 - Inveja
da Argentina?
30/08/2000 - Mais
humilhação
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