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Faz
menos de um mês que, em Praga, um economista da agência
Standard and Poors, uma das que fazem a avaliação
dos riscos de investir em dado país, disse ao jornal "O
Estado de S. Paulo" que não recomendaria melhorar a
classificação do Brasil entre outras razões
pela existência de candidatos potenciais às eleições
presidenciais de 2002 que defendem posições
não ortodoxas e heterodoxas sobre a política
fiscal e a dívida externa.
Alusão,
desnecessário dizer, a Ciro Gomes (PPS) e Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). O primeiro, porque é partidário
do que chama de alongamento da dívida interna, uma tese esgrimida
(com muita lógica, diga-se) pelo filósofo Roberto
Mangabeira Unger, ao qual Ciro é ligado. O segundo, porque
seu partido apoiou plebiscito sobre a dívida externa idealizado
pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que
trazia implícita a sugestão de dar um calote no pagamento
do débito.
O jornal
puxou a declaração de um certo David Beers e de seu
companheiro John Chambers para manchete de sua capa, dando nome
aos bois ("Lula e Ciro aumentam risco Brasil") .
Pois
muito bem: agora, menos de um mês depois, vem a concorrente
direta da Standard and Poors, a Moodys e melhora a classificação
do Brasil, embora Lula e Ciro continuem à frente em todas
as pesquisas de intenção de voto para 2002 e não
tenham feito nenhuma autocrítica sobre suas "posições
não ortodoxas e heterodoxas".
Ou,
posto de outra forma, o que se fez no mês passado foi puro
terrorismo, primo-irmão de "se Lula ganhar, 800 mil
empresários deixarão o país" (Mário
Amato, então presidente da Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo, em 1989) ou do "se o Lula ganhar,
vão dividir o seu apartamento" (de Fernando Collor de
Mello, no mesmo ano).
Ninguém
de bom senso deveria levar a sério avaliações
de gente que quer impor quem pode ou não ser candidato (no
Brasil ou em qualquer lugar do mundo) ou que políticas podem
ou não ser submetidas ao julgamento do eleitorado.
Menos
mal que autoridades brasileiras que têm todas as razões
para serem contra Lula e/ou Ciro, como o diretor da área
internacional do Banco Central, Daniel Gleizer, já naquele
momento puseram as coisas no lugar. Gleizer disse, com toda a clareza,
que a democracia é uma conquista que o Brasil não
admite colocar sob avaliação de quem quer que seja.
E democracia pressupõe candidaturas com posições
divergentes do governo (e, mais ainda, das agências de avaliação
de risco, que fracassaram redondamente em suas análises antes
e durante a crise asiática, por exemplo).
O resto
é colonialismo cultural, infelizmente um produto abundante
no mercado brasileiro.
Leia colunas anteriores
04/10/2000 - As
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27/09/2000 - O
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