NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Carlos Sarli
Cida Santos
Clóvis Rossi
Eduardo Ohata
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
José Henrique Mariante
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Melchiades Filho
Nelson de Sá
Régis Andaku
Rodrigo Bueno
Vaguinaldo Marinheiro

Clóvis Rossi
crossi@uol.com.br
 
18 de outubro
  Terrorismo e Colonialismo
 

Faz menos de um mês que, em Praga, um economista da agência Standard and Poor‘s, uma das que fazem a avaliação dos riscos de investir em dado país, disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" que não recomendaria melhorar a classificação do Brasil entre outras razões pela existência de candidatos potenciais às eleições presidenciais de 2002 que defendem ‘posições não ortodoxas e heterodoxas‘ sobre a política fiscal e a dívida externa.

Alusão, desnecessário dizer, a Ciro Gomes (PPS) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O primeiro, porque é partidário do que chama de alongamento da dívida interna, uma tese esgrimida (com muita lógica, diga-se) pelo filósofo Roberto Mangabeira Unger, ao qual Ciro é ligado. O segundo, porque seu partido apoiou plebiscito sobre a dívida externa idealizado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que trazia implícita a sugestão de dar um calote no pagamento do débito.

O jornal puxou a declaração de um certo David Beers e de seu companheiro John Chambers para manchete de sua capa, dando nome aos bois ("Lula e Ciro aumentam risco Brasil") .

Pois muito bem: agora, menos de um mês depois, vem a concorrente direta da Standard and Poor‘s, a Moody‘s e melhora a classificação do Brasil, embora Lula e Ciro continuem à frente em todas as pesquisas de intenção de voto para 2002 e não tenham feito nenhuma autocrítica sobre suas "posições não ortodoxas e heterodoxas".

Ou, posto de outra forma, o que se fez no mês passado foi puro terrorismo, primo-irmão de "se Lula ganhar, 800 mil empresários deixarão o país" (Mário Amato, então presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, em 1989) ou do "se o Lula ganhar, vão dividir o seu apartamento" (de Fernando Collor de Mello, no mesmo ano).

Ninguém de bom senso deveria levar a sério avaliações de gente que quer impor quem pode ou não ser candidato (no Brasil ou em qualquer lugar do mundo) ou que políticas podem ou não ser submetidas ao julgamento do eleitorado.

Menos mal que autoridades brasileiras que têm todas as razões para serem contra Lula e/ou Ciro, como o diretor da área internacional do Banco Central, Daniel Gleizer, já naquele momento puseram as coisas no lugar. Gleizer disse, com toda a clareza, que a democracia é uma conquista que o Brasil não admite colocar sob avaliação de quem quer que seja. E democracia pressupõe candidaturas com posições divergentes do governo (e, mais ainda, das agências de avaliação de risco, que fracassaram redondamente em suas análises antes e durante a crise asiática, por exemplo).

O resto é colonialismo cultural, infelizmente um produto abundante no mercado brasileiro.

Leia colunas anteriores
04/10/2000 - As urnas, vistas de longe
27/09/2000 -
O que é e o que se vê
20/09/2000 - Fujimori faz FHC passar vergonha
13/09/2000 -
Igreja, culpa e prepotência
06/09/2000 - Inveja da Argentina?

| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.