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É
notável a capacidade que têm setores das elites latino-americanas
de fabricar lideranças, revestindo-as de ouro e prata, quando não
passam de bijuterias baratas, para vendê-las ao público eleitor.
No Brasil, foi, por exemplo, o caso de Fernando Collor de Mello. Boa
parte da mídia ofereceu-o a seus leitores e telespectadores como um
estadista, um "caçador de marajás", um "Indiana Collor", para usar
terminologia adotada por exemplo pela revista "Veja".
Depois, os mesmíssimos veículos passaram a tratá-lo como delinquente.
Entre um extremo e outro, não houve nem ao menos um "erramos", ou
seja, um bilhete ao leitor/telespectador para dizer algo assim:
"Desculpem-nos, pensamos que se tratava de um estadista e descobrimos
que não passa de um vigarista".
Ou, se fossem definitivamente sinceros, teriam dito: "Tivemos que
endeusá-lo para evitar que Lula ou Brizola fosse eleito. Mas agora
podemos contar os fatos como os fatos são".
No México, houve outra dose parecida, com Carlos Salinas de Gortari,
o antecessor do atual presidente, Ernesto Zedillo. Salinas não era
"Indiana", mas era "Hormiga Atómica" ("Formiga Atômica"), e era também
um Deus, o modernizador do México.
Tenho nos arquivos alguns textos, de lustrosas grifes do jornalismo
tupiniquim e internacional, que, republicados hoje, provocariam gargalhadas,
ao menos para quem sabe que Salinas não passa de um foragido da Justiça.
O mais recente integrante da coleção de falsos brihantes chama-se
Alberto Fujimori e ocupa o cargo de presidente do Peru.
Enquanto matava guerrilheiros e a inflação, era catapultado às alturas.
Ninguém prestava atenção ao fato de que estava também matando e torturando
inocentes, em claras e continuadas violações aos direitos humanos.
Fujimori tinha o seu próprio PC, na figura de Vladimiro Montesinos,
chefe de seu serviço secreto e operador de todas as coisas sujas.
Poucos pareciam se incomodar, porque o importante não era a sujeira,
mas a abertura da economia, as privatizações etc.
Agora, Fujimori está nu, Montesinos é tratado como fora-da-lei, o
que sempre foi, e todo o edifício montado pelos dois faz água por
todos os lados.
Não duvide, pois, que, em 2002 (ou até antes), grupos da mesma linhagem
dêem uma guaribada em algum personagem tupiniquim e o apresentem como
o novo deus.
Leia colunas anteriores
25/10/2000 - Bateu,
publicou
18/10/2000 - Terrorismo e Colonialismo
04/10/2000 - As urnas, vistas de longe
27/09/2000 - O
que é e o que se vê
20/09/2000 - Fujimori
faz FHC passar vergonha
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