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15 de novembro
  Pecados, do império e dos súditos
  Trapalhadas à parte, as eleições norte-americanas serviram de pretexto para uma catarata de elogios à democracia no império. Justos, aliás, em se considerando que manter por mais de 200 anos ininterruptos o sistema democrático não é uma façanha trivial.

Pena que, em meio aos elogios, tenham faltado os reparos indispensáveis ao comportamento nada democrático do império fora de suas fronteiras. Por mera coincidência, na segunda-feira, enquanto o assunto ainda era a contagem/recontagem dos votos da Flória, o governo norte-americano divulgava documentos que admitem, pela primeira vez, o que todo mundo já sabia ou intuia há muito tempo: houve uma enorme participação norte-americana no golpe que derrubou o governo constituticional de Salvador Allende, no Chile, em 1973.

Detalhe: um documento de 1970 diz que o presidente dos EUA (então Richard Nixon) era partidário de "arruinar drasticamente a economia chilena".

É importante saber que, em 1970, Allende acabara de ser eleito. Portanto, não podia ser acusado de "comunizar" o país, pretexto que seria frequentemente esgrimido pela direita para justificar o injustificável, ou seja, a conspiração para derrubar um governo legítimo. Não obstante, Nixon (o império) já queria arruinar o país, só para evitar o exemplo de um governo socialista, o primeiro a chegar ao poder a bordo das urnas e não das armas.

Não seria exagerado dizer que os Estados Unidos são, portanto, cúmplices das maciças violações aos direitos humanos que foram praticadas no Chile depois do golpe que derrubou Allende. Da mesma forma, apoiaram (e são, portanto, igualmente cúmplices) de governos semelhantes na Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai, América Central e por aí vai.

Para não mencionar os Suhartos, Ferdinand Marcos e outros ditadores do mesmo calibre que ou chegaram ao poder apenas pela ação clandestina dos EUA ou nele se mantiveram adotando mecanismos repressivos que o império jamais contestou (a não ser quando o comunismo já deixara de existir).

Com toda essa lista de pecados na sua coluna de débitos, ainda assim há que se reconhecer que os Estados Unidos, em geral mais tarde do que deveriam, acabam por fazer um mea culpa, como agora, no caso chileno. Aliás, justiça se faça: não fosse a ação firme da diplomacia norte-americana no plebiscito de 1989 (que decidiria sobre a permanência ou não de Pinochet no poder), teria havido uma fraude que permitiria a continuidade da ditadura.

Pior, pois, que os pecados do império são os pecados dos seus súditos latino-americanos que, salvo contadas exceções, jamais reconheceram suas culpas e confessaram seus crimes.

Leia colunas anteriores
08/11/2000 - O império é pragmático
1º/11/2000 - Falsos brilhantes

25/10/2000 - Bateu, publicou
18/10/2000 - Terrorismo e Colonialismo
04/10/2000 - As urnas, vistas de longe


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