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22 de novembro
  Cada vez mais cruel
  Nunca esqueci a entrevista coletiva, lá pelos idos de 1983, em que foi anunciada a criação da entidade "Avós da Praça de Mayo", um grupo de senhoras argentinas que sairia à caça de seus netos/netas, desaparecidos durante a ditadura militar que então agonizava.

O escritor Ernesto Sábato fez a apresentação introdutória na qual disse algo assim: "Nós, adultos, de algo sempre somos culpados. Mas, crianças, que culpa podem ter as crianças?".

Essa lógica irrespondível não parece ter mais lugar num mundo como o de hoje, desgraçadamente. O que está acontecendo nos territórios palestinos ocupados por Israel talvez seja o mais dramático exemplo, ainda que não o único.

Primeiro, foi a morte, televisionada para o mundo inteiro, de um menino palestino de 12 anos, que tentava se esconder, junto com o pai, dos disparos de soldados israelenses. Tentativa inútil: o menino foi alcançado e agonizou diante das câmeras de TV.

Na segunda-feira, veio o que poderia ser chamado de olho-por-olho/dente-por-dente: palestinos ainda não identificados atacaram um ônibus escolar de colonos israelenses, mataram dois adultos e feriram crianças, algumas das quais tiveram membros amputados em consequência dos ferimentos.

Dirão os palestinos e alguns árabes que os apóiam: a culpa é dos colonos que ocupam terras nossas. Acho até que têm razão ao reclamar a posse das terras, por mais que essa questão esteja sendo discutida não com base em mapas cartográficos mas com base em textos das respectivas bíblias, o que é meio caminho andado para a confusão.

Mesmo assim, é o caso de repetir Sábato: de que podem ser acusadas as crianças, filhas dos colonos?

O pior de tudo é que as mortes (de adultos como de crianças) no conflito Israel/palestinos já entraram na rotina. Ninguém parece mais indignar-se, doer-se, reagir. E ainda há quem chame um pedaço daquela região de Terra Santa.



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