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Nunca
esqueci a entrevista coletiva, lá pelos idos de 1983, em que
foi anunciada a criação da entidade "Avós
da Praça de Mayo", um grupo de senhoras argentinas que
sairia à caça de seus netos/netas, desaparecidos durante
a ditadura militar que então agonizava.
O escritor
Ernesto Sábato fez a apresentação introdutória
na qual disse algo assim: "Nós, adultos, de algo sempre
somos culpados. Mas, crianças, que culpa podem ter as crianças?".
Essa
lógica irrespondível não parece ter mais lugar
num mundo como o de hoje, desgraçadamente. O que está
acontecendo nos territórios palestinos ocupados por Israel
talvez seja o mais dramático exemplo, ainda que não
o único.
Primeiro,
foi a morte, televisionada para o mundo inteiro, de um menino palestino
de 12 anos, que tentava se esconder, junto com o pai, dos disparos
de soldados israelenses. Tentativa inútil: o menino foi alcançado
e agonizou diante das câmeras de TV.
Na
segunda-feira, veio o que poderia ser chamado de olho-por-olho/dente-por-dente:
palestinos ainda não identificados atacaram um ônibus
escolar de colonos israelenses, mataram dois adultos e feriram crianças,
algumas das quais tiveram membros amputados em consequência
dos ferimentos.
Dirão
os palestinos e alguns árabes que os apóiam: a culpa
é dos colonos que ocupam terras nossas. Acho até que
têm razão ao reclamar a posse das terras, por mais
que essa questão esteja sendo discutida não com base
em mapas cartográficos mas com base em textos das respectivas
bíblias, o que é meio caminho andado para a confusão.
Mesmo
assim, é o caso de repetir Sábato: de que podem ser
acusadas as crianças, filhas dos colonos?
O pior
de tudo é que as mortes (de adultos como de crianças)
no conflito Israel/palestinos já entraram na rotina. Ninguém
parece mais indignar-se, doer-se, reagir. E ainda há quem
chame um pedaço daquela região de Terra Santa.
Leia colunas anteriores
15/11/2000 - Pecados,
do império e dos súditos
08/11/2000 - O
império é pragmático
1º/11/2000 - Falsos brilhantes
25/10/2000 - Bateu, publicou
18/10/2000 - Terrorismo e Colonialismo
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