NOSSOS
COLUNISTAS

Amir Labaki
André Singer
Carlos Heitor Cony
Clóvis Rossi
Eleonora de Lucena
Elvira Lobato
Gilberto Dimenstein
Gustavo Ioschpe
Helio Schwartsman
Josias de Souza
Kennedy Alencar
Lúcio Ribeiro
Luiz Caversan
Magaly Prado
Marcelo Coelho
Marcelo Leite
Marcia Fukelmann
Marcio Aith
Nelson de Sá
Vaguinaldo Marinheiro

André Singer
asinger@uol.com.br
  24 de janeiro de 2001
  Mistura Fina
   
   

O tempo na fronte do artista

Roberto Carlos volta a São Paulo pela primeira vez, de acordo com a RC Produções, desde que a mulher, Maria Rita, morreu, em dezembro de 1999. No reencontro com a cidade os cabelos não aparecerão brancos por completo, como mostrou a revista Caras. Mas o Rei está envelhecido.

Em todo caso, será uma oportunidade para ver, de graça, o maior mito vivo da música popular brasileira. Espera-se 150 mil pessoas no Parque do Ibirapuera para o show "Amor sem limite". Será um 25 de janeiro _aniversário do núcleo fundado por Manoel da Nóbrega e José de Anchieta em 1554_de gala.

Colaboradores de Roberto gostariam que ele incluísse no espetáculo uma homenagem especial à cidade, como, por exemplo, cantar Sampa. A canção de Caetano Veloso tornou-se uma espécie de hino informal de São Paulo e ouvi-la no voz do Rei seria uma emoção a mais para a multidão reunida na Praça da Paz.

É pouco provável. De tempos para cá, Roberto Carlos refugiou-se em um conservadorismo que foi agravado nos últimos dois anos, desde que a doença de Maria Rita o deixou "meio desligado", como dizia a antiga composição dos Mutantes. De acordo com os assessores, embora mostre-se menos triste do que no começo da turnê em novembro, Roberto ainda não recuperou o pique anterior a 1998.

No palco, o Rei limita-se a cantar alguns "clássicos", na linha "Detalhes" e "Como vai você", aos quais acrescenta uma visita, na forma de pout-pourri, pela Jovem Guarda. No final, aparecem as "mensagens", como ele as chama. São as faixas religiosas, que sempre comparecem, ao menos uma, nos discos anuais. Do álbum novo, apenas a própria "Amor sem limite", um country que acaba por grudar no ouvido, e "Tu és a verdade, Jesus".

Em conseqüência, o show tem um tom nostálgico. Termina por ser uma oportunidade para ver Roberto interpretar grandes sucessos do passado, como se ele estivesse preso ao que já foi e não ao que ainda pode ser. No entanto, o Rei é um mito e vê-lo em ação é algo, se fosse possível, como assistir Pelé realizar outra vez um dos gols milagrosos da década de 60.

Um músico que conhece bem Roberto Carlos me dizia que a grande genialidade do Rei está em perceber para onde caminha o gosto popular. Desde a minha profunda ignorância musical, tendo a concordar. Ocorre que há poucos jovens nos shows de Roberto. E não é um problema de gênero. Parece claro que há uma parcela da juventude brasileira que aprecia a música romântica. Porém devem ter outros ídolos, talvez artistas como Fábio Jr. Até os mitos envelhecem.

Livro da semana

Leio "Memórias das trevas", do jornalista João Carlos Teixeira Gomes. O volume leva por subtítulo, "uma devassa na vida de Antonio Carlos Magalhães". Até o ponto em que vou da leitura, a promessa contida na frase acima não corresponde ao texto. Na verdade, trata-se de uma autobiografia do jornalista, e não de reportagem investigativa. Para quem se interessa por política, entretanto, surgem elementos vivos do estilo de um personagem central na cena brasileira há pelo menos um quarto de século: ACM.

Trecho

""A propensão para o confronto, indicativa de temperamento impulsivo, já se manifestara em Antonio Carlos Magalhães desde a adolescência, quando freqüentava uma turma de jovens do Campo da Pólvora, zona residencial e antigo bairro histórico de Salvador, onde se realizavam anualmente as famosas "Festas da Mocidade" e depois se construiu o Fórum Rui Barbosa. Esses jovens provocadores deixaram triste fama, conhecidos pelas arruaças que ali promoviam entre meados da década de 40 e início da de 50, versão provinciana da juventude transviada simbolizada no cinema em papel desempenhado por James Dean, então no auge da sua fama de ator rebelde."

Verso pop da semana:

"Eu que moro onde o pecado mora ao lado
E me visita sempre no verão
Eu que já fui preso por porte de baseado
É baseado nisso que eu lhe digo não, não, não"

Milton Nascimento e Gilberto Gil, em "Lar hospitalar", gravada no disco "Milton e Gil".



Leia colunas anteriores
19/01/2001 - Dois países, uma ponte?
17/01/2001 - Tragédia e teoria política em Camaragibe
12/01/2001 - O fator Itamar
10/01/2001 - Caetano Veloso, outra vez
05/01/2001 - Os juros do Fed, a sorte de FHC e o terceiro tempo

 


| Subir |

Biografia
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A - Todos os direitos reservados.