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Domingo, 24 de setembro de 2000

Um detalhe interferiu: a bola

Rodrigo Bueno
     


Abola é peça essencial numa partida de futebol, mas quase nunca aparece nas análises e nas reportagens sobre o esporte. Vou contrariar isso, tentando mostrar nesta coluna que a bola foi determinante para os resultados que estão sendo verificados nos Jogos de Sydney, em especial a eliminação da seleção brasileira.

Muita gente deve ter reparado como os jogadores nesta Olimpíada acertaram potentes chutes de média e longa distância. Esses ''petardos'', como o do espanhol José Mari contra Marrocos, do hondurenho Leon contra a Nigéria ou do nigeriano Ayegbeni contra Honduras, são bem explicados pela nova bola da Adidas, chamada de Gamarada.

A bola, um pouco menor e mais leve do que as utilizadas antigamente, possui alta tecnologia. Com bem menos gomos (antes, as bolas tinham 32) e com superfície mais ''lisa'', ela ''ganha velocidade'' nas finalizações. O chute sai ''seco'', mais ''violento'', e a bola costuma até mudar mais de direção durante a sua trajetória.

As expressões que estou usando são as utilizadas pelos ''boleiros'' ou mesmo por aqueles que jogam futebol esporadicamente a bola de futebol de campo é hoje praticamente a mesma do chamado futebol society, o futebol indoor.

Os jogadores, em pesquisa feita pela Penalty, empresa que tem bola com tecnologia semelhante à da Adidas, disseram que esse tipo de bola, mais moderna, é ''nervosa'' _surpreende os goleiros com sua rapidez e mudança de rota.

Nesta Olimpíada, como sempre nos Jogos, acompanhamos a tecnologia em quase todos as modalidades. A ''bola da vez'' é a roupa ''fast skin'', utilizada especial­ mente na natação. Porém muitos ignoram os avanços no futebol e mantêm o pensamento arcaico de que o esporte mais popular do planeta é o mesmo daquele praticado há 20 anos, só que com jogadores de menor qualidade.

Os goleiros hoje são bem mais preparados do que os de antiga­ mente e tomam tanto ou mais gols de longe que seus ''antepassa­ dos''. E isso não quer dizer de forma nenhuma que são menos talentosos que os goleiros de antes.

Hélton, por exemplo, sofreu gols de Mboma (Camarões) e Fortune (África do Sul), em potentes cobranças de falta, e o gol que elimi­ nou o Brasil, de Mbami, de fora da área, embora tivesse dado grande salto em direção à bola.

São três bons exemplos do que é capaz essa nova bola, avanço da Tricolore, utilizada na Copa do Mundo da França, em 1998.

Na América do Sul, bola semelhante da Penalty está dominando os torneios, sendo utilizada nas eliminatórias e em quase to­ dos os campeonatos nacionais do continente é a bola que fez fama no Campeonato Paulista.

A grande arma para os times na Olimpíada de Sydney e nos torneios que contam com esse novo tipo de bola é o chute a gol _a Adidas renovou com a Fifa até 2006 nos últimos dias e fornecerá a bola para as suas competições.

Os times que simplesmente acertaram mais a bola no gol rival marcaram mais em Sydney _o gol, aparentemente ''salvador'', de Ronaldinho contra Camarões era até defensável, mas um chute quase colocado ganhou força e traiu o goleiro camaronês.

Minha mulher, que acaba discutindo futebol comigo vez ou outra, não se conformava, desde o início dos Jogos, com o estilo de jogo da seleção de Luxemburgo, que tocava em demasia a bola e arriscava pouco nos chutes a gol.

Concordo com ela que esse foi um erro fundamental do time.

Nos treinos, a seleção contou, é óbvio, com bola Nike, mais próxima do estilo antigo. No jogo, a seleção chutou pouco a gol para o tanto de posse de bola que teve.

O final foi de fato doloroso: o Brasil sentiu o ''peso'' da bola.



E-mail:

rbueno@folhasp.com.br



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