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Sábado, 2 de setembro de 2000

Bolo da discórdia

José Henrique Mariante
     
Diego Medina


O aeroporto de Heathrow, na última quinta-feira, foi palco da mais tensa reunião entre dirigentes da F-1 e donos de equipe dos últimos tempos.

Pouco antes do encontro, que serviria para a eterna discussão sobre ultrapassagens e doping eletrônico nos carros, o presidente da FIA, Max Mosley, ficou sabendo por meio da "Autosport" que chegou às bancas naquele dia que um verdadeiro golpe de Estado estava em curso na categoria.

Segundo a reportagem da revista inglesa, Ron Dennis, Eddie Jordan e Sir Frank Williams eram os cabeças do movimento. ¦Bernie Ecclestone, também citado na reportagem, abriu o encontro e imediatamente passou a palavra a Mosley. O advogado inglês, por sua vez, foi direto ao ponto e interpelou os chefes de equipe sobre o publicado.

No final das contas, a pizza de praxe foi providenciada e todos deixaram o encontro com o sorriso amarelo entre os dentes.

Ecclestone foi o único a falar e admitiu algumas diferenças entre os times e a FIA. Mas garantiu que o amigo pessoal é e continuará sendo responsável pelas regras do esporte a motor, seu papel como presidente da entidade.

O que Ecclestone não disse é que com os direitos da F-1 assegurados pelos próximos cem anos, a holding "controlada" por sua mulher é a dona da categoria. E que, nesse cenário, uma entidade como a FIA se torna dispensável, para não dizer incômoda.

Ecclestone representa os times. E se ele é quem manda no troço, qual seria o motivo para aturar Mosley e seus regulamentos que flutuam conforme a ocasião? Sem falar nas invenções estapafúrdias, como os sulcos nos pneus.

O motivo se chama Ferrari. E não é por mera coincidência que os três principais jacobinos do episódio sejam britânicos.

Não é por coincidência também que há pouco mais de um mês o presidente da Ferrari, Luca Montezemolo, defendeu, em entrevista à "F1 Racing", o distanciamento dos chefes de equipe do livro de regras. E com um argumento bastante razoável, o exemplo negativo da Indy, onde quem manda são os donos de equipe, com o medonho resultado que qualquer um pode constatar pela TV.

A disputa entre ingleses e italianos dentro da F-1 é histórica, mas alcança agora níveis insuportáveis. Por trás dela, não se encontram apenas picuinhas em torno de favorecimentos ao time italiano. O problema principal está na divisão do bolo gerado pelos direitos de TV. Boa parte das fatias é abocanhada pela Ferrari, considerada por Mosley o grande e único atrativo da F-1 atual.

Há alguns anos, quando da renovação do Pacto de Concórdia, a discussão também estava em alta, e a saída foi colocar fermento no tal bolo, desviando o ganho com as TVs direto para os times.

Em troca, Ecclestone recebeu um cheque em branco, os direitos de comercialização da categoria, que lhe permitiram, por exemplo, fechar o contrato centenário.

Outra solução como essa, claro, não surgirá. E, se o impasse continuar, o futuro da F-1 é incerto, já que a Ferrari não vai aceitar receber menos do que pensa merecer.

Dizem que Ecclestone é um gênio. Antes de se aposentar, terá de provar sê-lo mais uma vez.


NOTAS

Hakkinen
O finlandês, com sua manobra espetacular em Spa, não obteve apenas a vitória no GP da Bélgica, mas respaldo para tornar um eventual tricampeonato consecutivo algo além de um privilégio para quem conduz o melhor carro da F-1 atual. Claro, seria um exagero compará-lo a Fangio. Hakkinen, porém, conseguiu o que muitos duvidavam no início desta temporada, inclusive esta coluna, que é deixar de ser um absurdo histórico para se tornar um genuíno candidato a recorde. Enquanto isso, a Ferrari se perde em desculpas, vislumbrando outro ano de fila.

Prioridade
A Ford anunciou ontem contrato de três anos com a Pirelli para o Mundial de Rali. Este ano, o time, que lidera entre os construtores da modalidade, usa Michelin, que estréia na F-1 no ano que vem.




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