Descrição de chapéu Páscoa

Crianças celíacas e diabéticas têm ovos de Páscoa especiais (mas também gostosos!)

Para algumas pessoas, é fundamental que determinados ingredientes fiquem de fora da receita para não fazer mal à saúde

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São Paulo

Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim? Um ovo, dois ovos… Para um montão de crianças mundo afora, seja lá qual for a receita que o simpático mamífero transporte, é crucial que alguns ingredientes fiquem de fora, ou os ovos de chocolate podem acabar fazendo mal para a saúde delas.

Os irmãos Arthur R., 12 anos, Bernardo R., 8, e Lorenzo R., 6, têm doença celíaca, isto é, o corpo deles reage muito mal quando ingerem alimentos com trigo, centeio e cevada, por exemplo. Esses ingredientes contêm uma proteína chamada glúten, que, quando chega no intestino, provoca uma inflamação, o que gera dor de barriga, diarreia e enjoo. Se não houver diagnóstico e tratamento adequados, a criança pode até demorar para crescer.

Fernanda Rossi com os filhos Arthur (camisa bordô), Bernardo (camisa azul) e Lorenzo (camiseta branca) - Karime Xavier/Folhapress

Quando chega essa época do ano, com tantas guloseimas sendo oferecidas por aí, os irmãos estão treinados. "A gente agradece e explica que não podemos comer nada que tenha farinha, corante…", diz Bernardo. "Também não pode bolacha", diz Lorenzo.

Em nome da segurança, os ovos de Páscoa da família atualmente são feitos pela mãe, e o sabor favorito, por unanimidade, é o "trufado com mousse de maracujá", explica Arthur, com um sorriso no rosto. Deve ser mesmo uma delícia.

O cacau, fruto do cacaueiro, não está nessa lista de alimentos que contêm glúten, mas ainda assim o chocolate que geralmente chega nas prateleiras dos mercados (ou nos corredores repletos de ovos de Páscoa) pode abrigar esse inimigo dos celíacos.

Isso acontece porque pode haver cereais ou farinha nas receitas ou, mesmo que eles não sejam ingredientes, pode haver contaminação. Ou seja, algum pedacinho minúsculo de algum ingrediente com glúten pode acabar sendo misturado ao chocolate durante sua fabricação ou mesmo na hora de embalá-lo.

"Não existe quantidade segura de glúten para quem tem doença celíaca", explica o médico Felipe Aragão, que estuda doença celíaca e outras doenças autoimunes —aquelas nas quais o corpo usa suas defesas contra si próprio.

Por isso, para preparar receitas para essas pessoas, é preciso ser muito cuidadoso e seguir algumas regras, como não cozinhar coisas com glúten e sem glúten ao mesmo tempo ou no mesmo fogão ou forno.

Existe outra doença que causa problemas intestinais, a intolerância à lactose. Lactose é um açúcar que está no leite. Infelizmente não é difícil que as pessoas reúnam intolerâncias e alergias diferentes. Dessa forma, é possível que alimentos que tenham leite na composição não caiam bem no intestino de pessoas com doença celíaca, conta doutor Felipe.

Por isso, é preciso ter todo zelo na hora de preparar alimentos, especialmente em locais como hotéis e restaurantes, que nem sempre estão preparados, lamenta o médico.

No caso de alimentos industrializados, é fundamental ler o rótulo. Ali devem estar apresentados todos os possíveis contaminantes. Se você já sabe ler e teve paciência para um dia investigar as embalagens, já deve ter visto algo como "Contém glúten" em algumas delas. Eis um alerta fundamental para os celíacos.

Por causa da segurança alimentar da filha e dos netos, a administradora Carmela Blancato (ou Ka Blancato, como ela aparece nas redes sociais), decidiu aprofundar-se na gastronomia e passou a produzir bombons, bolos e ovos de Páscoa sem glúten e sem lactose. O negócio hoje está em fase de expansão, com um número crescente de encomendas.

A ideia, ela diz, é que a comida, inspirada em receitas familiares, seja gostosa. Como o bolo de cenoura com cobertura de chocolate, ou aquela mousse de maracujá (de novo ela!), ou ainda o pão de ló fofinho e molhadinho da vovó. Recentemente entraram em cena doces com pistache. Tem também o brigadeiro, que nunca sai de moda.

"Quando o cliente vem conversar comigo, eu deixo ele bem à vontade e eu procuro ter uma visão de como fazer o que ele realmente quer", diz. "Tem gente que tem vontade simplesmente de comer um pastel, ou um pão francês."

Outro exemplo de quem tem que tomar bastante cuidado com a alimentação na Páscoa são as crianças com diabetes e suas famílias. "Meu ovo tem que ser zero", conta Davi C., de 11 anos. "Zero" quer dizer que não há adição de açúcar.

O organismo de pessoas com diabetes não consegue processar adequadamente o açúcar que chega ao sangue após a pessoa se alimentar. Esse açúcar no sangue pode fazer mal para os vasos sanguíneos, os olhos, os nervos e outras partes do corpo, causando problemas de saúde. Por isso é importante que crianças com diabetes e seus responsáveis fiquem atentos ao que é consumido.

Já que existem alternativas nos mercados e em lojas especializadas, não é tão difícil atender a essa clientela dos ovos diet ou sem adição de açúcar (apesar de o preço ser ainda mais amargo do que dos ovos convencionais). Existem até opções recheadas e cremosas, as favoritas de Davi.

"Ainda são poucas opções de sabores de ovos sem adição açúcar que existem no mercado para o público infantil, e acabam sendo opções para todo mundo, não especificamente para crianças", diz Carolina Rodrigues, nutricionista e educadora em diabetes da ADJ Diabetes Brasil, uma ONG que trabalha com prevenção e controle da doença.

A nutricionista dá uma dica importante: para manter a saúde em dia, é importante não abusar do chocolate, comendo um pouquinho (no máximo 25 gramas) por vez. E não precisa comer todo dia. Algo como dia sim, dia não pode ser uma possibilidade, a ser aplicada pelos responsáveis, sob orientação dos profissionais de saúde.

Carolina lembra que, muitas vezes, mais do que o chocolate propriamente dito, as crianças querem aquele brinquedinho que vem dentro de alguns ovos. "Em vez de todo mundo dar ovos, os tios, avós e primos podem cada um dar algo diferente, como uma pelúcia, um passeio. Isso pode até sair mais barato do que um ovo! O importante é lembrar do significado da data", diz.

Arthur, o mais velho dos irmãos com doença celíaca, concorda: "O importante é ser grato por tudo que nós temos". Feliz Páscoa!

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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