Descrição de chapéu Televisão Maratona

Em 'Slow Horses', espiões de Gary Oldman tiram sarro da onda nacionalista britânica

Nova série do Apple TV+ traz o ator na chefia de uma divisão fracassada do MI5, o serviço de inteligência do Reino Unido

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Gary Oldman teve como um dos principais personagens de seu currículo o desconfiado George Smiley, de "O Espião que Sabia Demais". De lá para cá, sua carreira como ator floresceu, com indicações ao Oscar e uma vitória. Já a sua vida de espião, desandou.

Se em 2011 ele era um grande agente secreto, ele chega nesta semana ao Apple TV+ caído no ostracismo, como um funcionário do MI5 jogado para uma divisão sem importância do serviço de inteligência britânico e comandando uma equipe de verdadeiros fracassados –de um funcionário que confundiu a cor da roupa de um suspeito terrorista a outro que deixou documentos sigilosos no ônibus.

Gary Oldman em cena da série "Slow Horses", do Apple TV+
Gary Oldman em cena da série "Slow Horses", do Apple TV+ - Divulgação

"Slow Horses" acompanha Jackson Lamb, que já foi um agente lendário mas hoje prefere passar os dias com os pés na mesa e entornando copo atrás de copo de uísque, e seu subordinado, River Cartwright, que causou uma explosão num aeroporto –num treinamento, é verdade, mas ainda assim inadmissível para os padrões do MI5.

A monotonia de seu pequeno escritório chega ao fim quando um rapaz de origem paquistanesa é sequestrado por uma célula terrorista formada por supremacistas brancos, que acreditam que os imigrantes estão deixando o Reino Unido menos britânico. Eles anunciam, pela internet, que irão transmitir a decapitação do refém, mas River acha que pode encontrar seu esconderijo antes do horário marcado para o show de horror.

"Você poderia pôr o George Smiley numa cadeira e perguntar ‘onde foi que você errou?'", brinca Oldman, em conversa por vídeo. "Mas eles têm algumas semelhanças, porque são sempre as pessoas mais inteligentes na sala. Na vida pessoal, são opostos, mas os dois são agentes brilhantes."

"Ponha Jackson Lamb numa clínica de reabilitação por uma semana e você terá um George Smiley", brinca Jack Lowden, que interpreta River, ao seu lado. Em clima de descontração, os dois falam sobre a responsabilidade de assumir o protagonismo de uma série britânica sobre espionagem e investigação, já que o Reino Unido, com "007", é referência no assunto.

Como James Bond, Jackson Lamb é originalmente um personagem das páginas. Iniciada pelo autor britânico Mick Herron há cerca de uma década, a série literária da qual "Slow Horses" deriva já ganhou diversos prêmios e tem uma legião de fãs estabelecida, mesmo que ela fique restrita à terra da rainha.

Oldman, que leu os livros, conta que a série tem um tom fiel ao das páginas, ao dar um novo tipo de abordagem para o mundo das agências de inteligência, adicionando um humor tipicamente britânico a um universo tão sério. "Há um certo cinismo nessa narrativa, nós estamos lá justamente para tirar sarro de nós mesmos", afirma o ator, que já viveu outros personagens da literatura na saga "Harry Potter" e em "Drácula de Bram Stoker".

Para os brasileiros, talvez seja difícil pegar o humor sutil e bem regional, mas ele é só um detalhe de uma trama que conversa bem com o estado atual do Reino Unido, que nos últimos anos viu crescer uma onda conservadora, saiu da União Europeia e hoje tem o populista trapalhão Boris Johnson em Downing Street.

Oldman –que venceu seu Oscar justamente por interpretar um outro primeiro-ministro nacionalista, Winston Churchill, em "O Destino de uma Nação"–, no entanto, evita traçar paralelos políticos entre "Slow Horses" e o mundo à sua volta.

Eventualmente, cede e diz que, de fato, a trama que fala de xenofobia, células neonazistas, manipulação da opinião pública e imigração em pleno êxodo ucraniano tem um pezinho na realidade. "Mas isso não é jogado na cara do espectador", diz o ator, que enfrentou polêmica no passado por defender comentários antissemitas de Mel Gibson.

Em determinada cena de "Slow Horses", um dos sequestradores desce, encapuzado, as escadas de uma velha casa. Ao chegar ao porão, tira um canivete do bolso, aterrorizando ainda mais o rapaz que foi feito de refém. "Relaxa, o corta corta é só amanhã, quando vamos lutar para ter nosso país de volta", diz.

"Você acha que Churchill teria orgulho do que vocês estão fazendo? Eu sou britânico. Eu nasci aqui, como você. Minha família veio", tenta responder a vítima. "Não é a mesma coisa. Jesus nasceu num estábulo e isso não faz dele a porcaria de um burro", diz o outro, abrupto.

Para tentar salvar o garoto, Oldman e Lowden têm ainda, no elenco, o reforço de Olivia Cooke, Jonathan Pryce e Kristin Scott Thomas. Para o primeiro dos atores, mais chegado ao cinema e ao teatro, estar numa série foi uma experiência positiva justamente por ter passado mais tempo que o habitual com a equipe e com o próprio personagem.

"Normalmente você tem apenas uma janela de duas horas para viver alguém num filme, então infelizmente não é possível desenvolver as características e comportamentos mais pessoais dele. Aqui, não, tive essa oportunidade maravilhosa de passar um bom tempo com o Lamb."

Slow Horses

  • Quando Estreia nesta sexta (1º), no Apple TV+
  • Elenco Gary Oldman, Kristin Scott Thomas e Jack Lowden
  • Produção Reino Unido/EUA, 2022
  • Criação Will Smith
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.