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Mostra na Cinemateca Brasileira reúne clássicos japoneses e do cinema novo

Segunda edição de evento em parceria com a SAC celebra obras de Djalma Batista Limongi, Mizoguchi e Ruy Guerra

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São Paulo

Como se precisasse recuperar o tempo em que esteve inativa, os anos perdidos do governo Bolsonaro, a Cinemateca Brasileira emenda ciclo atrás de ciclo de filmes. Para esta semana, celebra sua parceria com a SAC, a Sociedade Amigos da Cinemateca —entidade que, entre outras coisas, mais socorre a Cinemateca nas horas amargas.

Para tanto, junta nos próximos dias uma mostra de filmes brasileiros, extraída de seu próprio acervo, e outra de filmes estrangeiros, com a colaboração de diversas instituições de cultura. Esse segundo núcleo permite a exibição de alguns filmes raros e relevantes, como "Sacrifício de Ano Novo", de Sang Hu e de 1956, primeiro filme chinês lançado no Brasil, e "Vermelho e Negro", do húngaro Miklos Jancsó e feito em 1967.

Cena do filme 'Contos da Lua Vaga', de Kenji Mizoguchi - Acervo Cinemateca Brasileira/Divulgação

Tudo começa com "Os Incompreendidos", de 1959, que abre a mostra nesta quinta-feira às 20h, com exibição ao ar livre. O filme deu a François Truffaut o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes e seu sucesso mundial fez explodir a nouvelle vague, certamente o movimento cinematográfico de maior influência em todo o século 20.

Entre tantos filmes importantes que passarão nos próximos dias não se pode passar em branco por títulos como "O Homem do Prego", de Sidney Lumet feito em 1964, e "Ardil 22", dirigido por Mike Nichols em 1970.

Para não falar dos magníficos filmes dos dois principais cineastas clássicos do Japão: "Pai e Filha", de Yasujiro Ozu, produzido em 1949; e "Contos da Lua Vaga", de Kenji Mizoguchi e lançado em 1953.

A seção brasileira comporta, para começar, uma homenagem a Djalma Batista Limongi, cineasta que morreu em fevereiro, cujos filmes podem muito bem representar o início de uma revisão do cinema que surgiu nos anos 1980 com diretores formados pela ECA/USP, como Chico Botelho, Wilson Barros —ambos mortos prematuramente, diga-se— e André Klotzel, entre outros.

No mais, a seção brasileira faz justiça à palavra de ordem original da SAC e que hoje dá nome à mostra: "Espetáculo, Polêmica, Cultura". Ela se dedica essencialmente ao cinema novo, mas introduz alguns nomes que estiveram em seus arredores, como parceiros ou contestadores.

Neste último caso está Luís Sergio Person, autor de "O Caso dos Irmãos Naves", de 1967, em que ele narra o caso de um erro judiciário ocorrido durante a ditadura de Getúlio Vargas e favorecido pela ditadura, mas o alvo, claro, era a ditadura então em vigor. Roberto Santos foi um parceiro eventual do movimento, mas seu primeiro longa, "O Grande Momento", de 1958, ainda é mais vinculado ao neo-realismo, o que não o impede de ser um belíssimo filme, um dos melhores do realizador.

Ruy Guerra, sim, esteve no centro do movimento, embora desse mostras, já em seu "Os Fuzis", de 1964, de ser um cineasta bem mais técnico do que a maior parte de seus companheiros.

Nessa categoria, aliás, também se poderia colocar Joaquim Pedro de Andrade, de quem se poderá ver os notáveis curtas sobre escritores brasileiros Manuel Bandeira e Gilberto Freyre, além de "Couro de Gato", talvez o melhor dos curtas que integram o longa "Cinco Vezes Favela", além de "Cinema Novo", de 1967, e de "Vereda Tropical", de 1977, episódio do longa "Contos Eróticos".

No mais Paulo Cezar Saraceni —com "Porto das Caixas, de 1962— e Glauber Rocha —com "Barravento", de 1961— comparecem com dois filmes fundadores do movimento, ao contrário de Leon Hirszman, a mostra traz "ABC da Greve", onde se documenta o início do movimento sindical que deu nas primeiras greves de grande expressão ocorridas desde os anos 1960.

A mostra se completa com uma palestra de Ismail Xavier sobre a obra de Djalma Batista Limongi e uma mesa sobre "Pesquisa e Crítica no Cinema", com Eduardo Morettin, professor da ECA/USP, e o crítico cinematográfico Luiz Zanin.

2ª Mostra SAC: Espetáculo, Polêmica, Cultura

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